São Paulo, sábado, 6 de junho de 1998

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CONFLITO NA ÁFRICA
Agressões entre os dois países, que disputam território fronteiriço, deixam ao menos 41 mortos
Etiópia e Eritréia intensificam combates

das agências internacionais

A Etiópia bombardeou ontem o aeroporto de Asmara, capital da Eritréia, e os combates entre os dois países, dos mais pobres da África, se intensificaram.
Quatro aviões de combate etíopes Mig 23 atacaram o aeroporto duas vezes na madrugada, destruindo várias instalações militares e civis na região. Pelo menos uma pessoa morreu e quatro ficaram feridas.
Os conflitos na fronteira se agravaram, e uma nova frente se abriu a poucos quilômetros do porto eritreu de Assab, no mar Vermelho. Pelo menos 40 pessoas morreram e mais de 100 ficaram feridas ontem, quando aviões eritreus bombardearam duas vezes a capital do Estado etíope de Tigre, Mekele.
O governo etíope declarou que o ataque ao aeroporto de Asmara foi feito em retaliação contra o bombardeio de Mekele. Um avião etíope foi derrubado pela defesa antiaérea eritréia.
Perto da fronteira de 1.000 km, os Exércitos estão se enfrentando em Badme, a noroeste da Etiópia -localidade ocupada por tropas da Eritréia desde o último dia 12 de maio-, na região de Zalanbessa.
O governo da Etiópia decidiu retirar os civis da área dos combates na região próxima ao posto fronteiriço de Zalanbessa, devido ao perigo de que o enfrentamento se transforme num conflito em "grande escala", segundo os porta-vozes do Ministério das Relações Exteriores etíope.
Fontes diplomáticas ocidentais afirmaram que projéteis de artilharia caíram em diversas áreas residenciais perto de Zalanbessa e que o perigo para a população civil aumenta a "toda hora".

Repercussão
Os EUA condenaram o agravamento dos combates fronteiriços entre Eritréia e Etiópia.
O governo norte-americano "deplora essa séria exacerbação da disputa" entre etíopes e eritreus, disse ontem um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, em reação ao ataque lançado pelas forças aéreas da Etiópia sobre Asmara.
As autoridades norte-americanas ordenaram ontem a saída dos diplomatas e dos funcionários que não exercem atividades essenciais na Embaixada dos EUA na capital eritréia. O Departamento de Estado avisou aos cidadãos para evitarem viajar aos dois países.
Entre 100 e 150 cidadãos norte-americanos foram retirados da Etiópia e da Eritréia num vôo fretado, deixando apenas 14 diplomatas em Asmara.
A subsecretária de Estado norte-americana para Assuntos Africanos, Susan Rice, viajou a Uagadugu -capital de Burkina Fasso- para uma reunião da OUA (Organização para a Unidade Africana) que acontece na segunda-feira. Rice viajou a Asmara e a Adis Abeba para pressionar os dois países a encerrarem os conflitos por meio de uma solução pacífica.
Para o Departamento de Estado, o ataque a Asmara "põe em perigo os membros da comunidade internacional que estão sendo retirados pelo aeroporto".

Problema na fronteira
A delimitação das fronteiras entre a Eritréia e a Etiópia está pendente desde que a os eritreus obtiveram sua independência em 1993.
Durante muitos anos, eles enfrentaram as tropas do regime militar marxista de Mengistu Hailé Mariam, deposto em 1991 pelo grupo que ocupa o poder em Adis Abeba atualmente. Ambos os lados mobilizam nos atuais choques veteranos do conflito que derrubou o ditador Mengistu.
Na quinta-feira, o primeiro-ministro etíope, Meles Zenawi, aceitou um plano de paz proposto pelos EUA e por Ruanda. O plano inclui, entre outros pontos, a delimitação da fronteira por meio de negociações e a desmilitarização dessa região.
O governo eritreu rejeitou o plano e pediu que a mediação no conflito continuasse, segundo um comunicado oficial.
Os ministros das Relações Exteriores da OUA pediram ontem à Etiópia e à Eritréia que aceitassem uma "solução pacífica para o conflito e que cooperassem com os EUA e com Ruanda".

Proposta líbia
O líder líbio, Muammar Gaddafi, propôs enviar tropas da Líbia e de outros Estados africanos às áreas disputadas na fronteira, segundo a televisão estatal líbia.
O enviado de Gaddafi encontrou Zenawi anteontem e viajou a Asmara ontem para um encontro com o presidente eritreu, Isayas Afewerki.



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