São Paulo, Terça-feira, 06 de Julho de 1999
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COMENTÁRIO
Medida não garante fim da violência

IGOR GIELOW
Editor-assistente de Brasil

A tentativa de pacificação da Argélia pode até dar certo do ponto de vista institucional, mas dificilmente acabará de vez com a violência no país.
A decisão do novo governo argelino de soltar militantes islâmicos é um caso clássico de anistia de Terceiro Mundo. Soltam-se alguns culpados, muitos inocentes e, para consumo externo, reina a paz.
Ótimo para a União Européia, em especial a ex-colonizadora França, que terá seus laços comerciais (compra de cerca de US$ 10 bilhões anuais em gás e petróleo) com um país onde não se cortam mais gargantas de crianças e que pode não exportar tantos imigrantes e, eventualmente, terrorismo para seu território.
O problema reside em dois pontos. Primeiro: o Grupo Islâmico Armado, principal facção radical islâmica, está fora dos acordos. É quase o mesmo que decretar a paz na Irlanda do Norte sem incluir o IRA.
Outro problema reside no fato de não haver definições claras sobre o papel reservado aos islâmicos moderados. Com líderes ainda presos e restrições de expressão e de participação em eleições, o presidente Abdelaziz Bouteflika terá dificuldades para lidar com a demanda por maior democratização.
Na última vez em que a Frente Islâmica de Salvação participou de uma eleição, em 92, ganhou. Só que os militares não gostaram e quase 100 mil mortos depois, o resultado está aí.


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