São Paulo, terça-feira, 06 de agosto de 2002

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ALEMANHA

Atrás nas pesquisas eleitorais, chanceler vai às ruas duas semanas antes do previsto e acentua discurso à esquerda

Ameaçado, Schröder antecipa campanha

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

Preocupado com a pequena (mas sólida) vantagem de seus adversários democrata-cristãos nas pesquisas de intenção de voto, o chanceler (premiê) social-democrata alemão, Gerhard Schröder, deu início ontem à sua campanha formal pela reeleição mais de duas semanas antes da data prevista, mostrando querer transmitir segurança e atrair o eleitorado da esquerda tradicional.
O chanceler, que visitará 47 cidades antes do pleito de 22 de setembro, discursou para mais de 10 mil simpatizantes na praça da Ópera, na "sua" Hanover, e tocou em questões sensíveis (e lucrativas eleitoralmente), como a segurança no emprego e uma redução nos impostos, contudo concentrou seu discurso no problema do desemprego e nas medidas necessárias para atenuá-lo.
"O desemprego é o ponto mais fraco do balanço dos quatro anos do governo de Schröder. Como, durante a campanha passada, declarou não merecer ser reeleito caso não conseguisse diminuir o número de desempregados para 3,5 milhões, agora ele é obrigado a justificar-se, a explicar por que seus cálculos deram errado", afirmou à Folha Manfred Nitsch, especialista em economia política da Universidade Livre de Berlim.
De acordo com as últimas estatísticas, há cerca de 4 milhões de desempregados no país, 9,5% de sua população ativa. Mesmo assim, Schröder se aproveitou do tema para atacar a elite econômico-financeira alemã, exortando-a a desempenhar o "papel social" que é esperado dela "num Estado do Bem-Estar Social". "Não é mais possível que alguns poucos executivos ganhem milhões enquanto homens descrentes vivem nas ruas", declarou o chanceler, pedindo "uma nova ética e uma nova moral" corporativas.
"Talvez Schröder tenha aprendido com os erros de seu ex-colega e amigo francês, o ex-primeiro-ministro Lionel Jospin. Afinal, em sua obsessão para atrair o eleitorado de centro, Jospin se esqueceu da esquerda tradicional, pagando caro por seu erro na última eleição presidencial. O discurso de hoje [ontem" do chanceler teve um claro viés à esquerda. O tempo dirá se sua estratégia está correta", analisou Anne-Marie Le Gloannec, do Instituto Marc Bloch, centro de pesquisas franco-alemão situado em Berlim.
O adversário de Schröder, o governador da abastada Baviera, Edmund Stoiber, tem atacado os resultados econômicos da atual administração e preconizado uma vultosa redução de impostos como meio para relançar a economia, que vive uma fase de baixo crescimento há uma década. Com isso, no evento de ontem, o chanceler não perdeu a oportunidade de tocar no assunto, um dos que mais agradam aos eleitores.
Schröder defendeu uma redução da carga tributária "mais realista" e, consequentemente, menos significativa. Ele lembrou que uma queda importante das receitas do governo poderia empobrecer o Estado a ponto de colocar em risco as "fundações" do Estado do Bem-Estar Social, "uma das maiores riquezas alemãs".
"Peço aos que vêem os EUA como exemplo que reflitam mais uma vez. Há falências e o empobrecimento dos trabalhadores americanos, que agora têm de preocupar-se com sua aposentadoria, enquanto os grandes executivos levam milhões ou bilhões para casa... Não é assim que as coisas funcionam na Alemanha", afirmou Schröder.
Ele também não se esqueceu dos eleitores dos Verdes, partido ambientalista que compõe sua coalizão de governo, e atacou uma eventual ofensiva dos EUA no Iraque. "A Alemanha não hesitou em oferecer solidariedade na luta contra o terrorismo. Concordo em pressionar Saddam Hussein, porém só posso ser contra jogos de guerra e intervenções militares. Não devemos embarcar numa aventura perigosa."
Uma pesquisa de intenção de voto do Instituto Forsa, divulgada na semana passada, mostrou que 35% apoiavam os social-democratas. Os democrata-cristãos ficaram com 42% -vantagem três pontos percentuais superior à da semana anterior. As duas pesquisas tinham margem de erro de 2,5 pontos, para cima ou para baixo.
A sete semanas da eleição, segundo especialistas, Schröder antecipou o lançamento de sua campanha para começar a "verdadeira batalha" pela reeleição. Não se trata mais de manter-se acima das disputas políticas, preservando a figura do chanceler, mas de um candidato em plena campanha. Segundo Le Gloannec, ante a tradição de pouca volatilidade política dos eleitores alemães, essa pode ser a "última cartada de um grande político assombrado pelo espectro da derrota".



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