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ALEMANHA
Atrás nas pesquisas eleitorais, chanceler vai às ruas duas semanas antes do previsto e acentua discurso à esquerda
Ameaçado, Schröder antecipa campanha
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Preocupado com a pequena
(mas sólida) vantagem de seus
adversários democrata-cristãos
nas pesquisas de intenção de voto,
o chanceler (premiê) social-democrata alemão, Gerhard Schröder, deu início ontem à sua campanha formal pela reeleição mais
de duas semanas antes da data
prevista, mostrando querer transmitir segurança e atrair o eleitorado da esquerda tradicional.
O chanceler, que visitará 47 cidades antes do pleito de 22 de setembro, discursou para mais de 10
mil simpatizantes na praça da
Ópera, na "sua" Hanover, e tocou
em questões sensíveis (e lucrativas eleitoralmente), como a segurança no emprego e uma redução
nos impostos, contudo concentrou seu discurso no problema do
desemprego e nas medidas necessárias para atenuá-lo.
"O desemprego é o ponto mais
fraco do balanço dos quatro anos
do governo de Schröder. Como,
durante a campanha passada, declarou não merecer ser reeleito
caso não conseguisse diminuir o
número de desempregados para
3,5 milhões, agora ele é obrigado a
justificar-se, a explicar por que
seus cálculos deram errado", afirmou à Folha Manfred Nitsch, especialista em economia política
da Universidade Livre de Berlim.
De acordo com as últimas estatísticas, há cerca de 4 milhões de
desempregados no país, 9,5% de
sua população ativa. Mesmo assim, Schröder se aproveitou do
tema para atacar a elite econômico-financeira alemã, exortando-a
a desempenhar o "papel social"
que é esperado dela "num Estado
do Bem-Estar Social". "Não é
mais possível que alguns poucos
executivos ganhem milhões enquanto homens descrentes vivem
nas ruas", declarou o chanceler,
pedindo "uma nova ética e uma
nova moral" corporativas.
"Talvez Schröder tenha aprendido com os erros de seu ex-colega e amigo francês, o ex-primeiro-ministro Lionel Jospin. Afinal, em
sua obsessão para atrair o eleitorado de centro, Jospin se esqueceu da esquerda tradicional, pagando caro por seu erro na última
eleição presidencial. O discurso
de hoje [ontem" do chanceler teve
um claro viés à esquerda. O tempo dirá se sua estratégia está correta", analisou Anne-Marie Le
Gloannec, do Instituto Marc
Bloch, centro de pesquisas franco-alemão situado em Berlim.
O adversário de Schröder, o governador da abastada Baviera,
Edmund Stoiber, tem atacado os
resultados econômicos da atual
administração e preconizado
uma vultosa redução de impostos
como meio para relançar a economia, que vive uma fase de baixo
crescimento há uma década. Com
isso, no evento de ontem, o chanceler não perdeu a oportunidade
de tocar no assunto, um dos que
mais agradam aos eleitores.
Schröder defendeu uma redução da carga tributária "mais realista" e, consequentemente, menos significativa. Ele lembrou que
uma queda importante das receitas do governo poderia empobrecer o Estado a ponto de colocar
em risco as "fundações" do Estado do Bem-Estar Social, "uma das
maiores riquezas alemãs".
"Peço aos que vêem os EUA como exemplo que reflitam mais
uma vez. Há falências e o empobrecimento dos trabalhadores
americanos, que agora têm de
preocupar-se com sua aposentadoria, enquanto os grandes executivos levam milhões ou bilhões
para casa... Não é assim que as
coisas funcionam na Alemanha",
afirmou Schröder.
Ele também não se esqueceu
dos eleitores dos Verdes, partido
ambientalista que compõe sua
coalizão de governo, e atacou
uma eventual ofensiva dos EUA
no Iraque. "A Alemanha não hesitou em oferecer solidariedade na
luta contra o terrorismo. Concordo em pressionar Saddam Hussein, porém só posso ser contra
jogos de guerra e intervenções militares. Não devemos embarcar
numa aventura perigosa."
Uma pesquisa de intenção de
voto do Instituto Forsa, divulgada
na semana passada, mostrou que
35% apoiavam os social-democratas. Os democrata-cristãos ficaram com 42% -vantagem três
pontos percentuais superior à da
semana anterior. As duas pesquisas tinham margem de erro de 2,5
pontos, para cima ou para baixo.
A sete semanas da eleição, segundo especialistas, Schröder antecipou o lançamento de sua campanha para começar a "verdadeira batalha" pela reeleição. Não se
trata mais de manter-se acima das
disputas políticas, preservando a
figura do chanceler, mas de um
candidato em plena campanha.
Segundo Le Gloannec, ante a tradição de pouca volatilidade política dos eleitores alemães, essa pode ser a "última cartada de um
grande político assombrado pelo espectro da derrota".
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