São Paulo, terça-feira, 06 de agosto de 2002

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IGREJA

Decisão contra a "grave ofensa" reafirma oposição do papa ao sacerdócio católico feminino

Vaticano excomunga 7 mulheres ordenadas

PAULO DANIEL FARAH
DA REDAÇÃO

O Vaticano reafirmou sua oposição à ordenação feminina e anunciou ontem a excomunhão de sete mulheres, incluindo uma freira, que foram ordenadas no final de junho na Europa.
O Vaticano havia advertido as sete católicas que, se elas não reconhecessem a nulidade das "ordens" recebidas por parte de um "bispo" argentino (que não é reconhecido pelo Vaticano), pedissem perdão e se declarassem arrependidas, seriam excomungadas.
A ordenação das mulheres -quatro alemãs, duas austríacas e uma norte-americana- aconteceu a bordo de um barco no rio Danúbio, entre Passau (Alemanha) e Linz (Áustria).
"Como as mulheres não deram nenhum sinal de retificação ou arrependimento pela grave ofensa que haviam cometido... elas foram sujeitas à excomunhão", afirmou o cardeal alemão Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé (a voz da ortodoxia católica).
Ratzinger descrevera a ordenação como a "simulação de um sacramento" e "uma afronta à dignidade das mulheres", que teriam um papel específico na Igreja Católica, segundo ele.
A brasileira Dulce Xavier, integrante da ONG Católicas pelo Direito de Decidir, disse à Folha que "as mulheres, pelo trabalho que têm na igreja, têm plena condição de ser ordenadas".
Para ela, a luta por direitos iguais "inclui a ordenação feminina". "Muitas religiosas não querem ser ordenadas, mas as que querem deveriam ser." Por isso, "há um movimento internacional de luta pelos direitos da mulher dentro da igreja", afirmou.
O cânone 1024 do Código de Direito Canônico garante apenas a homens a legitimidade da ordenação. Dessa forma, diversas teólogas defendem sua alteração.
Entre elas, a colombiana Yury Puello, que mora no Brasil. "Os argumentos que justificam essa lei estão totalmente em contradição com todos os princípios de direitos humanos que defendem igual dignidade e direitos para homens e mulheres. As mulheres estão reivindicando o reconhecimento dos direitos que elas têm dentro da igreja como batizadas e confirmadas", diz Puello.
Segundo a teóloga alemã Iris Müller, autora de "Wir schweigen nicht länger!" (Não vamos mais nos calar), entre outras obras, as mulheres excomungadas ontem vão tentar recorrer da decisão porque "sua batalha de décadas em prol da igualdade de direitos não conseguiu progressos nem com palavras nem com escritos".
Müller era luterana e adotou o catolicismo em 1958, aos 28 anos. "A convicção interna de que eu tinha uma vocação espiritual e deveria me ordenar era tão profunda em mim que eu simplesmente não podia trocar isso por uma ação leiga", diz a teóloga, que prega a abolição do cânone 1024.
"Minha comunidade católica, tanto os padres quanto os leigos, queriam que eu considerasse o chamado ao sacerdócio insignificante e que confirmasse que minha "natureza feminina" fazia desse chamado algo impossível", afirmou Müller.

Porta entreaberta
Ao anunciar a excomunhão, o Vaticano entreabriu a porta para uma reconciliação. Disse confiar em que, "com a graça do Espírito Santo, elas possam redescobrir o caminho da conversão a fim de retornar à unidade da fé e à comunhão com a igreja que feriram com seu gesto".
O papa João Paulo 2º, 82, deixou claro diversas vezes que descarta a possibilidade de abrir o sacerdócio para as mulheres. A Igreja Católica alega que Jesus Cristo escolheu homens como apóstolos e que é válida apenas a ordenação masculina.



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