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IGREJA
Decisão contra a "grave ofensa" reafirma oposição do papa ao sacerdócio católico feminino
Vaticano excomunga 7 mulheres ordenadas
PAULO DANIEL FARAH
DA REDAÇÃO
O Vaticano reafirmou sua oposição à ordenação feminina e
anunciou ontem a excomunhão
de sete mulheres, incluindo uma
freira, que foram ordenadas no final de junho na Europa.
O Vaticano havia advertido as
sete católicas que, se elas não reconhecessem a nulidade das "ordens" recebidas por parte de um
"bispo" argentino (que não é reconhecido pelo Vaticano), pedissem perdão e se declarassem arrependidas, seriam excomungadas.
A ordenação das mulheres
-quatro alemãs, duas austríacas
e uma norte-americana- aconteceu a bordo de um barco no rio
Danúbio, entre Passau (Alemanha) e Linz (Áustria).
"Como as mulheres não deram
nenhum sinal de retificação ou arrependimento pela grave ofensa
que haviam cometido... elas foram sujeitas à excomunhão", afirmou o cardeal alemão Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação
para a Doutrina da Fé (a voz da
ortodoxia católica).
Ratzinger descrevera a ordenação como a "simulação de um sacramento" e "uma afronta à dignidade das mulheres", que teriam
um papel específico na Igreja Católica, segundo ele.
A brasileira Dulce Xavier, integrante da ONG Católicas pelo Direito de Decidir, disse à Folha que
"as mulheres, pelo trabalho que
têm na igreja, têm plena condição
de ser ordenadas".
Para ela, a luta por direitos
iguais "inclui a ordenação feminina". "Muitas religiosas não querem ser ordenadas, mas as que
querem deveriam ser." Por isso,
"há um movimento internacional
de luta pelos direitos da mulher
dentro da igreja", afirmou.
O cânone 1024 do Código de Direito Canônico garante apenas a
homens a legitimidade da ordenação. Dessa forma, diversas teólogas defendem sua alteração.
Entre elas, a colombiana Yury
Puello, que mora no Brasil. "Os
argumentos que justificam essa
lei estão totalmente em contradição com todos os princípios de direitos humanos que defendem
igual dignidade e direitos para homens e mulheres. As mulheres estão reivindicando o reconhecimento dos direitos que elas têm
dentro da igreja como batizadas e
confirmadas", diz Puello.
Segundo a teóloga alemã Iris
Müller, autora de "Wir schweigen
nicht länger!" (Não vamos mais
nos calar), entre outras obras, as
mulheres excomungadas ontem
vão tentar recorrer da decisão
porque "sua batalha de décadas
em prol da igualdade de direitos
não conseguiu progressos nem
com palavras nem com escritos".
Müller era luterana e adotou o
catolicismo em 1958, aos 28 anos.
"A convicção interna de que eu tinha uma vocação espiritual e deveria me ordenar era tão profunda em mim que eu simplesmente
não podia trocar isso por uma
ação leiga", diz a teóloga, que prega a abolição do cânone 1024.
"Minha comunidade católica,
tanto os padres quanto os leigos,
queriam que eu considerasse o
chamado ao sacerdócio insignificante e que confirmasse que minha "natureza feminina" fazia desse chamado algo impossível",
afirmou Müller.
Porta entreaberta
Ao anunciar a excomunhão, o
Vaticano entreabriu a porta para
uma reconciliação. Disse confiar
em que, "com a graça do Espírito
Santo, elas possam redescobrir o
caminho da conversão a fim de
retornar à unidade da fé e à comunhão com a igreja que feriram
com seu gesto".
O papa João Paulo 2º, 82, deixou
claro diversas vezes que descarta a
possibilidade de abrir o sacerdócio para as mulheres. A Igreja Católica alega que Jesus Cristo escolheu homens como apóstolos e
que é válida apenas a ordenação masculina.
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