São Paulo, sexta-feira, 06 de agosto de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

IRAQUE SOB TUTELA

Após dois meses, forças dos EUA e milícia de clérigo xiita voltam a se enfrentar; ao menos três civis são mortos

Confrontos interrompem trégua em Najaf

DA REDAÇÃO

A derrubada de um helicóptero americano e um confronto entre insurgentes e soldados dos EUA ontem ameaçaram pôr fim a dois meses de trégua entre as forças americanas e o Exército Mehdi, a milícia do clérigo radical xiita Moqtada al Sadr. Pelo menos três civis iraquianos, um militar americano e sete rebeldes morreram.
Entretanto, horas após o clérigo conclamar seus seguidores a combater a maciça presença militar americana, um porta-voz de Al Sadr pediu a retomada do cessar-fogo negociado em junho.
Durante a noite, segundo a agência de notícias France Presse, os combates ainda seguiam perto de um cemitério na periferia de Najaf, cidade considerada sagrada pelos xiitas. Em Bagdá, pelo menos um membro da milícia de Al Sadr morreu em confrontos no bairro de Sadr City, área majoritariamente xiita e pobre, e em Basra, ao sul, as forças britânicas mataram dois insurgentes em outro confronto com a milícia.
O xeque Mahmoud al Sudani, porta-voz do clérigo, pediu a retomada do acordo de cessar-fogo, sob o qual as tropas dos EUA deixaram Najaf e o Exército Mehdi abandonou os ataques contra os soldados. Outro porta-voz, Ahmed al Saibany, disse à agência Associated Press que o clérigo estava "comprometido com a trégua", e que se os EUA não concordassem, "os tiros e a revolução continuariam". Até o fechamento desta edição, no entanto, as forças americanas não haviam respondido à proposta.
O Ministério da Saúde iraquiano afirmou que pelo menos três civis foram mortos e 25 foram feridos nos confrontos, mas hospitais colocaram o número de mortos civis em nove.

Troca de acusações
Segundo os EUA, os embates começaram por volta das 3h (hora local), quando "um número significativo de agressores" atacou uma delegacia. Guardas iraquianos e marines acorreram em socorro dos policiais.
"O ataque foi uma violação clara do acordo de cessar-fogo fechado em junho entre as forças da coalizão e Moqtada al Sadr", declarou o comando americano. Mas os seguidores de Al Sadr acusaram a polícia iraquiana e as forças dos EUA de atacarem antes, tendo danificado templos xiitas.
Durante o confronto, os seguidores do clérigo usaram os alto-falantes das mesquitas para conclamar os xiitas à luta. Lojas foram fechadas e as ruas ficaram quase desertas. A polícia iraquiana, com reforços dos EUA, continuou a patrulha no centro da cidade, onde insurgentes cercaram o santuário do imã Ali, principal templo xiita. Um jato americano bombardeou alvos nas cercanias de Najaf.
Os insurgentes também atacaram a tiros e granadas uma caravana militar americana, matando um soldado e ferindo cinco. Durante esse embate, um helicóptero dos EUA fez um pouso forçado. Os dois tripulantes sobreviveram.
O recrudescimento da violência ontem alimentou temores de que o majoritariamente xiita sul do país, relativamente tranqüilo nos dois últimos meses, volte a ser um foco de tensões.
Um levante liderado por Al Sadr em março, após os EUA ordenarem o fechamento do jornal que ele editava alegando que ele incitava o antiamericanismo, resultou em confrontos com as forças americanas durante os quais foram mortos pelo menos 20 soldados dos EUA e cerca de 350 americanos.
As tropas americanas, que emitiram uma ordem de prisão contra Al Sadr acusando-o de envolvimento na morte de um clérigo rival em 2003, chegaram a cercar Najaf durante o mês de maio, até a negociação da trégua.


Com agências internacionais

Texto Anterior: África: Sudão faz acordo com a ONU para desarmar milícias e solucionar crise no país
Próximo Texto: Novo atentado a policiais deixa cinco mortos
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.