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São Paulo, sábado, 06 de setembro de 2003

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ANÁLISE

Revés força Bush a mudar

STEVEN R. WEISMAN
DO "NEW YORK TIMES", EM WASHINGTON

Poucos governos gostam de corrigir o rumo de sua política externa no meio do caminho, e muito menos admitir que o estão fazendo. Nesta semana, porém, ficou claro que a equipe do presidente Bush tem tido de repensar sua abordagem no Iraque e na Coréia do Norte, após uma sucessão de revezes e pressões.
No Iraque, os atentados mortíferos do final do verão incentivaram a continuação do esforço do secretário de Estado, Colin Powell, que já vinha se manifestando nos bastidores desde julho, no sentido de ampliar os papéis da ONU e dos aliados americanos na ocupação do país.
No que diz respeito à Coréia do Norte, o governo americano, que inicialmente tinha dito que não seriam feitas concessões ao governo de Kim Jong-il antes do desmantelamento de seu programa nuclear, agora diz que um processo passo a passo pode render benefícios aos norte-coreanos.
Ao mesmo tempo em que declararam que ambas essas mudanças são evolutivas, representantes da administração reconhecem que, após a desgastante guerra no Iraque, o pêndulo começou a se inclinar na direção da diplomacia. ""Quando as negociações se defrontam com a realidade, as posições precisam evoluir", disse um alto funcionário americano.
A dura realidade do Iraque praticamente passou por cima de outros cálculos, não apenas na administração, mas também no Congresso, onde os parlamentares voltaram do recesso do verão nesta semana depois de ouvir as perguntas de suas bases sobre as baixas e os custos da ocupação.
As dúvidas e perguntas no Congresso, por sua vez, fortaleceram a posição de Powell, dando-lhe mais liberdade para pedir um papel maior da ONU e dos aliados americanos no Iraque, apesar do ceticismo do Pentágono.
De acordo com fontes do governo, Powell teria aproveitado um momento delicado e doloroso para convencer Bush, ao longo das últimas semanas, de que os aliados americanos são essenciais para cobrir os custos militares e econômicos no Iraque, sem falar em trazer as tropas americanas para casa no ano que vem.
Se a posição de Powell, por um lado, se viu fortalecida, o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, herói da invasão do Iraque, agora enfrenta perguntas difíceis sobre o porquê de os EUA aparentemente estarem mal preparados para o pós-guerra no Iraque. Os acontecimentos fizeram com que Rumsfeld, opositor ferrenho do fortalecimento do papel da ONU no Iraque, esteja menos apto agora a impor obstáculos aos propósitos de Powell.
O pano de fundo do mês de setembro desanimador em Washington é formado por um déficit orçamentário que se aproxima dos US$ 500 bilhões para o próximo ano, antes mesmo de ser contabilizado o custo da guerra, e uma retomada econômica anêmica que não é acompanhada por nenhum sinal de melhora no que diz respeito ao desemprego.
Com as sondagens indicando que Bush pode ter dificuldade em se reeleger, a Casa Branca não pode se dar ao luxo de aparentar tropeços em suas ações no exterior.


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