São Paulo, sábado, 06 de setembro de 2008

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Visita sela reconciliação de EUA e Líbia

Secretária de Estado vai a Trípoli e janta com ditador Gaddafi, mentor de ataque a Boeing que matou 180 americanos em 1988

Rice diz que os EUA não têm inimigos permanentes; Líbia, dona de nona reserva mundial de petróleo, vai ressarcir famílias de vítimas


DA REDAÇÃO

A secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, fez ontem uma visita de poucas horas à Líbia, onde jantou com o ditador Muammar Gaddafi e selou a reconciliação de Washington com um governante designado nos anos 80 pelo então presidente Ronald Reagan de "cachorro hidrófobo".
Rice afirmou que sua visita "demonstra que os EUA não têm inimigos permanentes" e nunca congelam em definitivo relações bilaterais.
O último secretário de Estado a visitar a Líbia havia sido John Foster Dulles, em 1953. Quatro anos depois esteve em Trípoli o então vice-presidente americano, Richard Nixon. Gaddafi chegou ao poder em 1969, com o golpe militar que derrubou o rei Idris 1º. É um dos mais longevos ditadores do planeta.
Mas não foi pelo autoritarismo que Washington o isolou. O governo americano o classificou entre os "Estados que patrocinam o terrorismo", em razão do treinamento a radicais palestinos, republicanos irlandeses e uma dezena de grupos insurgentes africanos.
A Líbia esteve por trás do atentado que, em 1988, derrubou o Boeing 747 da Pan Am, em Lockerbie, Escócia. Morreram os 259 passageiros e tripulantes -180 eram americanos- e ainda 11 pessoas em terra. Naquele ano, bomba colocada por agentes líbios numa discoteca de Berlim matou três americanos e feriu 229 pessoas.
Em represália, os EUA bombardearam Trípoli e Benthazi, matando 40 pessoas, entre elas uma filha adotiva de Gaddafi.
A ditadura líbia passou também a desenvolver um programa clandestino para a construção da bomba atômica, com projetos e equipamentos contrabandeados do Paquistão.

O recuo de 2003
Objeto de sanções americanas e das Nações Unidas, Gaddafi se reaproximou do Ocidente em 2003, com a intermediação do então premiê britânico, Tony Blair. Abandonou suas ambições nucleares e delatou integrantes do mercado negro de componentes atômicos.
Passou a negociar com os Estados Unidos a entrega dos agentes que instalaram a bomba no Boeing da Pan Am e a indenização das vítimas. No mês passado foi assinado protocolo que prevê US$ 1,5 bilhão a familiares de americanos mortos no atentado. Em troca, a Líbia receberia US$ 300 milhões pelas vítimas dos bombardeios ordenados por Reagan.
"Ninguém conseguiria curar as feridas das famílias vitimadas por ataques terroristas, e é por isso que procuramos tão intensamente meios para compensá-las", disse ontem Rice.
Mas há também a dimensão econômica. O governo americano tem sido pressionado por empresários que lamentam a supremacia dos europeus naquele país norte-africano, que tem a nona reserva mundial de petróleo (39 bilhões de barris) e áreas a serem ainda exploradas.
Rice declarou ontem que a questão é importante, mas que as relações com a Líbia têm um potencial bem mais amplo.
A porta-voz da Casa Branca, Dana Perino, disse que seu país "tem uma história longa e ruim com a Líbia", que, no entanto, "modificou radicalmente seu comportamento", ao abandonar o terrorismo e a bomba.
Entre as questões pendentes há os direitos humanos. Personalidades americanas de porte, como o senador Joe Biden -candidato a vice de Barack Obama- esforçam-se para libertar Fathi al Jahmi, um dissidente reformista. Entidades de direitos humanos denunciam a existência na Líbia de centenas de prisioneiros políticos.

Com agências internacionais



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