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São Paulo, sábado, 06 de dezembro de 2003

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ANÁLISE

Hipótese de uso era remota

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

A idéia de que os britânicos poderiam ter usado armas nucleares para retomar uma colônia invadida pelos argentinos em 1982 não tem cabimento, e há bons motivos políticos e militares para essa conclusão. Não houve esse risco na Guerra das Malvinas.
Se um país tem uma bomba atômica, é natural que seu governo e suas Forças Armadas reflitam sobre as situações de possível emprego. Essa doutrina se traduz em estratégias e na fabricação de armas e vetores adequados a elas, como a clássica "tríade" americana, ameaçando o inimigo de três maneiras: mísseis baseados em terra, mísseis de submarinos e bombas lançadas de aviões.
O motivo político é claro. Desde que os EUA atacaram Hiroshima e Nagasaki em 1945, nunca mais bombas atômicas foram usadas em guerra, apesar de os americanos terem refletido a respeito tanto nos conflitos da Coréia (1950-53) como no do Vietnã (1955-75). O preço -a condenação imediata do resto do mundo- seria altíssimo. Só valeria a pena em caso de sobrevivência nacional, não de retomar umas ilhas remotas.
O principal motivo militar é a falta de alvos. Os navios argentinos botaram o rabo entre as pernas e permaneceram nos portos depois que o cruzador ARA General Belgrano foi afundado por um submarino. As tropas argentinas estavam concentradas na capital, Port Stanley. Usar uma bomba ali seria destruir exatamente o que se queria reconquistar -além de causar a morte de centenas de civis britânicos.
Os britânicos tinham e ainda têm armas nucleares em submarinos e tinham (não têm mais) bombas nucleares ditas de "queda livre", não guiadas, lançadas por aeronaves variadas.
A principal delas era a WE-177, que normalmente estaria a bordo de navios que foram empregados na força-tarefa enviada para retomar as ilhas. Pelo tipo de arma, pelo paiol especial de que precisa e pelos aviões ou helicópteros necessários a seu emprego, o provável é que apenas os dois navios mais importantes tivessem a WE-177, os porta-aviões Invincible e Hermes. O boato, surgido em 1996, de que haveria dessas bombas no destróier Sheffield, afundado pelos argentinos, é fantasia sem chance de confirmação.
A última WE-177 foi desativada em 1998. Havia três modelos, dois estratégicos (com potencial explosivo de 200 quilotons e 400 quilotons, ou seja, aproximadamente 20 e 40 vezes a bomba de Hiroshima) e um tático (10 quilotons, ou meia Hiroshima).
Um quiloton é o equivalente a mil toneladas do explosivo TNT. A versão tática também podia ser usada como carga de profundidade contra submarinos.


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