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ANÁLISE
Hipótese de uso era remota
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
A idéia de que os britânicos poderiam ter usado armas nucleares
para retomar uma colônia invadida pelos argentinos em 1982 não
tem cabimento, e há bons motivos políticos e militares para essa
conclusão. Não houve esse risco
na Guerra das Malvinas.
Se um país tem uma bomba atômica, é natural que seu governo e
suas Forças Armadas reflitam sobre as situações de possível emprego. Essa doutrina se traduz em
estratégias e na fabricação de armas e vetores adequados a elas,
como a clássica "tríade" americana, ameaçando o inimigo de três
maneiras: mísseis baseados em
terra, mísseis de submarinos e
bombas lançadas de aviões.
O motivo político é claro. Desde
que os EUA atacaram Hiroshima
e Nagasaki em 1945, nunca mais
bombas atômicas foram usadas
em guerra, apesar de os americanos terem refletido a respeito tanto nos conflitos da Coréia (1950-53) como no do Vietnã (1955-75).
O preço -a condenação imediata do resto do mundo- seria altíssimo. Só valeria a pena em caso
de sobrevivência nacional, não de
retomar umas ilhas remotas.
O principal motivo militar é a
falta de alvos. Os navios argentinos botaram o rabo entre as pernas e permaneceram nos portos
depois que o cruzador ARA General Belgrano foi afundado por
um submarino. As tropas argentinas estavam concentradas na capital, Port Stanley. Usar uma
bomba ali seria destruir exatamente o que se queria reconquistar -além de causar a morte de
centenas de civis britânicos.
Os britânicos tinham e ainda
têm armas nucleares em submarinos e tinham (não têm mais)
bombas nucleares ditas de "queda
livre", não guiadas, lançadas por
aeronaves variadas.
A principal delas era a WE-177,
que normalmente estaria a bordo
de navios que foram empregados
na força-tarefa enviada para retomar as ilhas. Pelo tipo de arma,
pelo paiol especial de que precisa
e pelos aviões ou helicópteros necessários a seu emprego, o provável é que apenas os dois navios
mais importantes tivessem a WE-177, os porta-aviões Invincible e
Hermes. O boato, surgido em
1996, de que haveria dessas bombas no destróier Sheffield, afundado pelos argentinos, é fantasia
sem chance de confirmação.
A última WE-177 foi desativada
em 1998. Havia três modelos, dois
estratégicos (com potencial explosivo de 200 quilotons e 400
quilotons, ou seja, aproximadamente 20 e 40 vezes a bomba de
Hiroshima) e um tático (10 quilotons, ou meia Hiroshima).
Um quiloton é o equivalente a
mil toneladas do explosivo TNT.
A versão tática também podia ser
usada como carga de profundidade contra submarinos.
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