São Paulo, sábado, 07 de fevereiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DIPLOMACIA

Reunião de Powell e Villepin sinaliza superação de atritos; Rumsfeld, porém, diz não lamentar críticas a Paris

França e EUA ensaiam reaproximação

DO "LE MONDE"

O secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, e o chanceler francês, Dominique de Villepin, almoçaram ontem em Nova York, em novo indício da reaproximação franco-americana. Ambos participavam de uma conferência organizada pelas Nações Unidas sobre ajuda internacional à Libéria.
As declarações que fizeram foram bastante conciliadoras. "Há um ano estávamos em caminhos distintos, mas agora há um amplo terreno de convergências, como a vontade de construirmos a democracia no Iraque e transferirmos a soberania aos iraquianos o mais cedo possível", disse Powell.
Villepin disse que há também intenções convergentes com relação à África, onde, aliás, a França pretende que forças da ONU assumam a pacificação da Costa do Marfim, solução que não é apoiada pelos Estados Unidos.
Ainda quanto ao degelo entre Paris e Washington, o presidente Jacques Chirac recebeu um dos editores do "Washington Post", Jim Hoagland, a quem afirmou, ao se referir a um "mundo multipolar", que a França não procura diminuir a importância dos Estados Unidos [a multipolaridade significa não depender da influência de uma única potência].O que ela quer, disse, é reforçar os laços entre os dois países.
Na agenda de gestos amistosos há o 60º aniversário do Dia D na Segunda Guerra, que terá a presença, a 6 de junho, do presidente americano, George W. Bush. Chirac o convidou.

Rumsfeld
O clima amistoso de ontem em Washington foi prejudicado em Munique pelo chefe do Pentágono, Donald Rumsfeld, que participava na Alemanha de uma reunião da Otan.
Ele foi indagado se estava arrependido de ter qualificado a França e a Alemanha de "velha Europa", quando os dois países se opunham aos EUA sobre o Iraque.
"Eu não lamento nada, estou muito velho para lamentar", respondeu. E não adiantou dizer que se referira na época à "velha Otan", com 19 membros, e não à atual, que tem sete membros a mais. O estrago já estava feito.

Política interna
A impressão que se tem em Paris é que Bush tende a ser amistoso com governantes que se opunham à Guerra do Iraque.
Ao se tornar mais conciliador, o presidente está de olho em questões de política interna. Os democratas o acusam de ter isolado os Estados Unidos de seus aliados europeus. Participar dos festejos na Normandia seria uma oportunidade para lembrar a participação americana na expulsão dos nazistas.
E ainda haveria o pretexto de dividir com a Europa, por meio da Otan, o fardo hoje representado pela ocupação do Iraque.
A França está receptiva. Chirac procura arquivar a atitude de confronto que assumiu há um ano. Caso Bush se reeleja, ele governará os EUA por mais quatro anos. Mas, se ele for derrotado, nada leva a crer que a França terá garantida a simpatia de um novo presidente democrata. Isso porque, a exemplo dos republicanos, os democratas acreditam que, durante a crise do Iraque, a França foi "desleal" com os Estados Unidos.
Terça-feira última, em Washington, o embaixador francês, Jean-David Levitte, ofereceu uma recepção aos membros de um grupo parlamentar criado em outubro último e que pretende aprofundar a amizade com a França. São 37 deputados e 14 senadores dos dois partidos.
Representando o ex-primeiro-ministro Edouard Balladour, hoje presidente da Comissão de Relações Exteriores da Assembléia francesa, Hervé de Charette, deputado e ex-ministro do Exterior da França, disse durante a reunião que as relações bilaterais caminhavam bem.


Com agências internacionais


Texto Anterior: Kerry é favorito em duas prévias hoje
Próximo Texto: Alemanha: Schröder sai da chefia de seu partido
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.