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DIPLOMACIA
Reunião de Powell e Villepin sinaliza superação de atritos; Rumsfeld, porém, diz não lamentar críticas a Paris
França e EUA ensaiam reaproximação
DO "LE MONDE"
O secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, e o
chanceler francês, Dominique de
Villepin, almoçaram ontem em
Nova York, em novo indício da
reaproximação franco-americana. Ambos participavam de uma
conferência organizada pelas Nações Unidas sobre ajuda internacional à Libéria.
As declarações que fizeram foram bastante conciliadoras. "Há
um ano estávamos em caminhos
distintos, mas agora há um amplo
terreno de convergências, como a
vontade de construirmos a democracia no Iraque e transferirmos a
soberania aos iraquianos o mais
cedo possível", disse Powell.
Villepin disse que há também
intenções convergentes com relação à África, onde, aliás, a França
pretende que forças da ONU assumam a pacificação da Costa do
Marfim, solução que não é apoiada pelos Estados Unidos.
Ainda quanto ao degelo entre
Paris e Washington, o presidente
Jacques Chirac recebeu um dos
editores do "Washington Post",
Jim Hoagland, a quem afirmou,
ao se referir a um "mundo multipolar", que a França não procura
diminuir a importância dos Estados Unidos [a multipolaridade
significa não depender da influência de uma única potência].O que ela quer, disse, é reforçar os laços entre os dois países.
Na agenda de gestos amistosos
há o 60º aniversário do Dia D na
Segunda Guerra, que terá a presença, a 6 de junho, do presidente
americano, George W. Bush. Chirac o convidou.
Rumsfeld
O clima amistoso de ontem em
Washington foi prejudicado em
Munique pelo chefe do Pentágono, Donald Rumsfeld, que participava na Alemanha de uma reunião da Otan.
Ele foi indagado se estava arrependido de ter qualificado a França e a Alemanha de "velha Europa", quando os dois países se opunham aos EUA sobre o Iraque.
"Eu não lamento nada, estou
muito velho para lamentar", respondeu. E não adiantou dizer que
se referira na época à "velha
Otan", com 19 membros, e não à
atual, que tem sete membros a
mais. O estrago já estava feito.
Política interna
A impressão que se tem em Paris é que Bush tende a ser amistoso com governantes que se opunham à Guerra do Iraque.
Ao se tornar mais conciliador, o
presidente está de olho em questões de política interna. Os democratas o acusam de ter isolado os
Estados Unidos de seus aliados
europeus. Participar dos festejos
na Normandia seria uma oportunidade para lembrar a participação americana na expulsão dos
nazistas.
E ainda haveria o pretexto de dividir com a Europa, por meio da
Otan, o fardo hoje representado
pela ocupação do Iraque.
A França está receptiva. Chirac
procura arquivar a atitude de confronto que assumiu há um ano.
Caso Bush se reeleja, ele governará os EUA por mais quatro anos.
Mas, se ele for derrotado, nada leva a crer que a França terá garantida a simpatia de um novo presidente democrata. Isso porque, a
exemplo dos republicanos, os democratas acreditam que, durante
a crise do Iraque, a França foi
"desleal" com os Estados Unidos.
Terça-feira última, em Washington, o embaixador francês,
Jean-David Levitte, ofereceu uma
recepção aos membros de um
grupo parlamentar criado em outubro último e que pretende aprofundar a amizade com a França.
São 37 deputados e 14 senadores
dos dois partidos.
Representando o ex-primeiro-ministro Edouard Balladour, hoje
presidente da Comissão de Relações Exteriores da Assembléia
francesa, Hervé de Charette, deputado e ex-ministro do Exterior
da França, disse durante a reunião
que as relações bilaterais caminhavam bem.
Com agências internacionais
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