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ALEMANHA
Pressionado, chanceler busca dissociar a imagem do SPD da do governo
Schröder sai da chefia de seu partido
DA REDAÇÃO
O chanceler (premiê) alemão,
Gerhard Schröder, decidiu ontem
passar a presidência de seu Partido Social-Democrata (SPD) a
Franz Müntefering, o líder dos social-democratas no Bundestag
(Câmara Baixa do Parlamento),
numa iniciativa que visa atenuar
as críticas ao partido por conta de
seu apoio ao impopular projeto
de reformas do governo.
"Segundo uma pesquisa publicada hoje [ontem], feita pelo Instituto Infratest-Dimap, o SPD só
teria 24% dos votos se a eleição legislativa federal fosse realizada no
próximo domingo. Trata-se de
um resultado muito ruim. Com
isso, a pressão sobre Schröder intensificou-se ainda mais, e ele percebeu que seria necessário abrir
mão de parte de sua autoridade
para tentar salvar o partido", explicou à Folha David Klingenberger, da Universidade de Colônia.
Oficialmente, o chanceler disse
ter passado o controle do SPD a
seu aliado porque pretende concentrar-se na execução de seu
projeto de reformas. Todavia, para Klingenberger, o "objetivo de
sua decisão foi dissociar a imagem do SPD da do governo", e a
escolha de Müntefering, um ex-metalúrgico da Renânia do Norte-Vestfália, "não foi um acaso".
"O SPD vem perdendo o apoio
de sua base tradicional, que é
composta sobretudo por sindicatos de trabalhadores. Com a escolha do popular Müntefering [que
assume a presidência do partido
em março], Schröder pensa em
agradar a essa base. A dúvida é saber se o chanceler conseguirá fazer com que Müntefering apare as
arestas existentes no SPD em seu
nome. Mas o problema é que ele
enfraqueceu seu projeto de reformas", analisou Klingenberger.
Com efeito, além de enfrentar o
descontentamento de sua base
tradicional com seu projeto de reformas, Schröder encontra cada
vez mais dificuldade em unir seu
partido em torno de suas propostas. E, como parte de seus planos
para revigorar o SPD aos olhos do
eleitorado, o impopular secretário-geral do SPD, Olaf Scholtz,
também deixará seu posto.
De acordo com Juergen Michels, analista econômico do Citigroup, contudo, a decisão de
Schröder de deixar o comando do
SPD indica que seu projeto de reformas será adiado até meados de
2006, depois da próxima eleição
legislativa federal da Alemanha.
"Não sei se a intenção do chanceler é realmente concentrar-se
nas reformas, pois, inevitavelmente, deixando a presidência do
SPD, ele passa a ter menos poder
ao menos a curto prazo. Ele pode,
portanto, já ter em mente as eleições regionais que ocorrerão em
breve e o pleito legislativo geral de
2006", avaliou Michels.
As reformas aprovadas no Bundestag, em dezembro último,
chocaram boa parte da população
alemã, que sente que seu sacrossanto Estado do Bem-Estar Social
está sendo desmontado.
Schröder obteve a aprovação de
cortes nos benefícios destinados
aos desempregados e aos pensionistas, de um abrandamento das
leis trabalhistas que facilitará a demissão de empregados e do aumento dos gastos médicos da população, diminuindo o peso das
subvenções do governo.
Para Michels, restam ainda a fazer a "restruturação do sistema de
saúde pública, uma maior liberalização do mercado de trabalho e
uma verdadeira reforma fiscal".
Mas, pressionado, Schröder pode
ter aberto mão de seus planos originais.
(MÁRCIO SENNE DE MORAES)
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