São Paulo, sábado, 07 de fevereiro de 2004

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ALEMANHA

Pressionado, chanceler busca dissociar a imagem do SPD da do governo

Schröder sai da chefia de seu partido

DA REDAÇÃO

O chanceler (premiê) alemão, Gerhard Schröder, decidiu ontem passar a presidência de seu Partido Social-Democrata (SPD) a Franz Müntefering, o líder dos social-democratas no Bundestag (Câmara Baixa do Parlamento), numa iniciativa que visa atenuar as críticas ao partido por conta de seu apoio ao impopular projeto de reformas do governo.
"Segundo uma pesquisa publicada hoje [ontem], feita pelo Instituto Infratest-Dimap, o SPD só teria 24% dos votos se a eleição legislativa federal fosse realizada no próximo domingo. Trata-se de um resultado muito ruim. Com isso, a pressão sobre Schröder intensificou-se ainda mais, e ele percebeu que seria necessário abrir mão de parte de sua autoridade para tentar salvar o partido", explicou à Folha David Klingenberger, da Universidade de Colônia.
Oficialmente, o chanceler disse ter passado o controle do SPD a seu aliado porque pretende concentrar-se na execução de seu projeto de reformas. Todavia, para Klingenberger, o "objetivo de sua decisão foi dissociar a imagem do SPD da do governo", e a escolha de Müntefering, um ex-metalúrgico da Renânia do Norte-Vestfália, "não foi um acaso".
"O SPD vem perdendo o apoio de sua base tradicional, que é composta sobretudo por sindicatos de trabalhadores. Com a escolha do popular Müntefering [que assume a presidência do partido em março], Schröder pensa em agradar a essa base. A dúvida é saber se o chanceler conseguirá fazer com que Müntefering apare as arestas existentes no SPD em seu nome. Mas o problema é que ele enfraqueceu seu projeto de reformas", analisou Klingenberger.
Com efeito, além de enfrentar o descontentamento de sua base tradicional com seu projeto de reformas, Schröder encontra cada vez mais dificuldade em unir seu partido em torno de suas propostas. E, como parte de seus planos para revigorar o SPD aos olhos do eleitorado, o impopular secretário-geral do SPD, Olaf Scholtz, também deixará seu posto.
De acordo com Juergen Michels, analista econômico do Citigroup, contudo, a decisão de Schröder de deixar o comando do SPD indica que seu projeto de reformas será adiado até meados de 2006, depois da próxima eleição legislativa federal da Alemanha.
"Não sei se a intenção do chanceler é realmente concentrar-se nas reformas, pois, inevitavelmente, deixando a presidência do SPD, ele passa a ter menos poder ao menos a curto prazo. Ele pode, portanto, já ter em mente as eleições regionais que ocorrerão em breve e o pleito legislativo geral de 2006", avaliou Michels.
As reformas aprovadas no Bundestag, em dezembro último, chocaram boa parte da população alemã, que sente que seu sacrossanto Estado do Bem-Estar Social está sendo desmontado.
Schröder obteve a aprovação de cortes nos benefícios destinados aos desempregados e aos pensionistas, de um abrandamento das leis trabalhistas que facilitará a demissão de empregados e do aumento dos gastos médicos da população, diminuindo o peso das subvenções do governo.
Para Michels, restam ainda a fazer a "restruturação do sistema de saúde pública, uma maior liberalização do mercado de trabalho e uma verdadeira reforma fiscal". Mas, pressionado, Schröder pode ter aberto mão de seus planos originais. (MÁRCIO SENNE DE MORAES)


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