São Paulo, sexta-feira, 07 de março de 2008

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Empresários temem perdas com crise
Medidas de Chávez contra negócios colombianos geram pressões nos dois países por entendimento

Comércio entre os vizinhos chegou a US$ 6,5 bilhões; exportadores colombianos temem perder mercado para Mercosul e asiáticos

ADRIANA KÜCHLER
DE CARACAS

IURI DANTAS
ENVIADO ESPECIAL A BOGOTÁ

A ameaça de nacionalização de empresas colombianas feita pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, causou protestos de empresários nos dois países -ela representa mais uma escalada na crise entre os dois países, apesar de seus efeitos práticos (há poucas empresas colombianas na Venezuela) serem pequenos.
"Ministros, vamos fazer um mapa das empresas colombianas. Algumas podem ser nacionalizadas. Não estamos interessados em investimentos colombianos aqui", disse Chávez na quarta-feira à noite em uma entrevista ao lado do colega equatoriano, Rafael Correa.
As trocas comerciais entre os dois países alcançaram US$ 6,51 bilhões em 2007, mas, para Chávez, a Venezuela não pode mais depender "de nem um grão de arroz da Colômbia".
O venezuelano vêm ameaçando adotar retaliações econômicas -como substituir a carne colombiana pela brasileira- desde que o colega Álvaro Uribe o afastou oficialmente da mediação para a libertação de reféns das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), em novembro.
Desde o domingo, depois do ataque colombiano no Equador, a Guarda Nacional da Venezuela dificulta o tráfego de mercadorias na principal passagem fronteiriça, em San Antonio del Táchira.
Ontem, ao comentar a ameaça de nacionalização, o governo Uribe declarou apenas que espera o cumprimento de contratos e o pagamento de indenizações. "Esperamos que a Venezuela respeite o direito de propriedade. Se descumpri-lo, que pague indenizações às empresas", disse o ministro da Fazenda, Oscar Iván Zuluaga.

Exportações
Segundo Roberto Cajamarca Gómez, da Câmara de Comércio Colômbia-Venezuela, há no mínimo 2.100 empresas colombianas que exportam para a Venezuela. Mas o número de companhias na Colômbia afetadas pela nacionalização seria quase inexpressivo. "Quase todas as empresas colombianas têm apenas uma filial na Venezuela, que importa e distribui os produtos. São poucas as que instalaram plantas lá", disse.
Um dos principais focos de pressão para que Uribe negocie com Chávez e impeça mais estragos econômicos é o pólo têxtil de Medellín, responsável por 35% da produção colombiana e base eleitoral de Uribe.
"Há muitas multinacionais de olho no mercado andino. Se a Venezuela interromper totalmente as importações, perderemos esses investimentos", disse Roberto Cajamarca.
Ainda segundo ele, a suspensão das vendas para a Venezuela poderá trazer prejuízos duradouros, porque os produtos colombianos sofrem grande concorrência do Mercosul e de países asiáticos, como a China e a Coréia do Sul.
"Há produtos que vendemos para a Venezuela que dificilmente poderíamos deslocar para outros países. Não conseguiríamos vender carros para os EUA ou União Européia, por exemplo", disse.

Escassez
Na Venezuela, onde os empresários temem que a crise diplomática piore a escassez de alimentos no país, a Federação de Câmaras e Associações de Comércio e Produção (Fedecamaras) divulgou comunicado pedindo para que as relações comerciais com a Colômbia não sejam rompidas. Segundo o texto, a Colômbia é responsável por 30% dos principais produtos consumidos na Venezuela e pela geração de 300 mil empregos diretos.
"O discurso do Executivo distancia ainda mais os investimentos, e isso é lamentável, quando o que queremos é desenvolvimento", disse o presidente da Fedecámaras, José Manuel González.


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