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ESPANHA
Campanha tem clima calmo, mas com fantasma de 2004
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A MADRI
Pablo Ordaz é uma espécie
de âncora do noticiário eleitoral para o jornal "El País", o
de maior circulação na Espanha, e faz um texto entre noticioso e analítico que acaba
sendo o resumo do dia da
campanha eleitoral.
Ontem, o título era hermético para não-iniciados em
Espanha: "Que hoje seja apenas quinta-feira".
Refere-se a um fantasma:
na quinta-feira antes das
eleições anteriores, houve o
mais grave atentado terrorista jamais praticado em solo
europeu (contra aviões, já
houve mais grave). Bombas
em diferentes trens mataram 192 pessoas em 11 de
março de 2004.
Agora, é março de novo,
ontem foi uma quinta-feira
de novo e, no domingo, haverá de novo uma eleição.
Mais: como lembra Ordaz,
há quatro anos, o jornal "El
País" da quinta 11 de março
publicava entrevista com um
candidato à Presidência do
governo, José Luis Rodríguez Zapatero, que acabou
pelo PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol).
Nesta quinta-feira, o entrevistado foi Mariano Rajoy, candidato derrotado por
Zapatero em 2004 e que tenta de novo no domingo, sempre pelo conservador Partido
Popular. Para uma sociedade
à qual se atribui o ditado "no
creo en brujas, pero que las
hay, las hay", é coincidência
demais.
Mas a quinta-feira prévia à
eleição passou sem bombas e
sem emoções mais fortes
(pelo menos até a hora do fechamento desta Folha).
A campanha eleitoral,
aliás, correu mansa, quase
monótona. Mas os trens do
11 de março de 2004 ficaram
no debate dos candidatos
por uma razão simples: os
atentados acabaram sendo
decisivos para dar a vitória a
Zapatero, não tanto por terem sido praticados, mas pela manipulação da informação dada a respeito deles pelo governo do PP.
O foco foi, até a véspera da
votação, atribuir o atentado
ao grupo terrorista basco
ETA. Quando ficou evidente
que o ataque na verdade foi
praticado por radicais islâmicos, o eleitorado preferiu
dar o voto ao PSOE, quando
todas as pesquisas até então
apontavam a vitória do PP.
Quatro anos depois, a oposição insiste em acusar Zapatero de ter dado "legitimidade política" ao ETA.
Por isso mesmo, o fantasma ficou flutuando sobre a
campanha. Uma enquete no
site de "El País" é clara, embora não tenha caráter científico: à pergunta quem perde mais se houvesse um
atentado, 57% responderam
"PSOE , e só 11%, PP.
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