São Paulo, terça-feira, 07 de maio de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FRANÇA

44% dos franceses não conheciam Raffarin, 53, cuja permanência no cargo depende de legislativas, em junho

Chirac nomeia "desconhecido" como premiê

ALCINO LEITE NETO
DE PARIS

O senador Jean-Pierre Raffarin é o novo primeiro-ministro da França. Ele foi nomeado ontem pela manhã pelo presidente Jacques Chirac, reeleito no domingo para a chefia do Estado com 82,2% dos votos.
Raffarin, 53, recebeu o cargo das mãos do socialista Lionel Jospin, que resolveu abandonar a política após sua derrota nas eleições. A nomeação põe fim a cinco anos da chamada "coabitação" entre centro-direita e centro-esquerda na cúpula do poder francês.
Como Chirac, Raffarin é de centro-direita. Ele é vice-presidente da Democracia Liberal (DL), partido que, nos últimos dias, formou com a Reunião pela República (RPR), ao qual pertence Chirac, e a União pela Democracia Francesa (UDF) um grande bloco para enfrentar a esquerda nas eleições legislativas de junho.
A permanência de Raffarin no cargo de chefe do governo dependerá do resultado das legislativas. Hoje ele anuncia o novo ministério, mas até junho governará sem maioria parlamentar, que é de esquerda.
Se a direita vencer as eleições, Raffarin pode permanecer no cargo. Se a esquerda ganhar, o presidente deverá nomear um outro primeiro-ministro, saído do quadro político adversário.
Raffarin terá como missão primordial preparar as eleições legislativas, visando obter uma maioria parlamentar para o presidente. Ele deverá também lançar as reformas prometidas por Chirac durante a campanha, sobretudo as relativas à segurança pública.
Em julho, a Assembléia Nacional vai se reunir em sessão excepcional para aprovar leis que prevêem a criação de "agrupamentos operacionais de intervenção e apoio" na luta contra a delinquência, "centros preventivos fechados" para menores delinquentes à espera de julgamento e "centros educativos fechados" para menores multirreincidentes.
Ao assumir, Raffarin afirmou que não se pode esquecer "o descontentamento dos franceses manifestado no primeiro turno e esta demanda de ação, de proximidade, que exprimiram nas eleições".
A preferência de Chirac pelo nome de Raffarin teria se fortalecido justamente por essa defesa que o novo premiê faz de uma política de "proximidade" com os eleitores, ou seja, que trabalhe em compasso com as demandas concretas da população. Ele teria, em sua campanha, defendido a prevalência da "França de baixo" sobre o interesse das elites.

Pouco conhecido
Nascido em 3 de agosto de 1948 em Poitiers (região oeste da França), Raffarin é presidente do Conselho Regional de Poitou-Charente desde 1988 e senador desde 1997. Pouco conhecido do público, ele é formado pela Escola Superior de Comércio de Paris e iniciou sua carreira como homem de marketing e publicidade.
Entre 1995 e 1997, quando Alain Juppé era premiê e Chirac era presidente, Raffarin foi ministro das Pequenas e Médias Empresas, do Comércio e do Artesanato. É casado, tem uma filha e é amigo pessoal do presidente.
Segundo uma pesquisa do instituto Louis Harris divulgada ontem, 44% dos franceses não sabiam quem era Raffarin antes de ele ser nomeado premiê.

Sem maioria
O Partido Socialista estimou que o governo de Raffarin seria legítimo para organizar o "debate no quadro democrático" das legislativas, mas que ele não poderia colocar em prática nenhum projeto, porque não dispõe da maioria parlamentar.
"Se a idéia de Jacques Chirac e dos que o sustentam era se apoiar sobre os 82% de votos para colocar em prática a política que recebeu a aprovação no primeiro turno de menos de 20% dos franceses, isso seria cometer um grave erro", afirmou o porta-voz do PS, Vincent Peillon.
De acordo com a pesquisa do instituto Louis Harris, apenas 13% dos entrevistados após a eleição de domingo afirmaram ter apoiado Chirac por causa de seu programa: 75% disseram tê-lo feito para impedir que Le Pen saísse vitorioso do pleito.
No primeiro turno das eleições presidenciais, em 21 de abril, Chirac chegou em primeiro lugar, mas com apenas 19,8% dos votos (5.665.855, em números absolutos). A França entrou em choque ao descobrir que seu rival no segundo turno seria o líder de extrema direita Jean-Marie Le Pen, que tivera 16,8% dos votos (4.804.713).
A fim de conter Le Pen e defender a democracia, os partidos de esquerda pediram aos seus simpatizantes o "voto útil" em Chirac. Ele foi eleito no domingo com 82,2% dos votos (25.540.873), contra 17,79% (5.525.906) dados a Le Pen.


Com agências internacionais


Texto Anterior: Perfil: Ascensão política foi meteórica
Próximo Texto: Frente Nacional quer aliança com direita
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.