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JUSTIÇA
Acusadas de contaminar 426 crianças, as enfermeiras dizem ter confessado sob tortura; EUA e Europa criticam sentença
Líbia quer fuzilar búlgaras acusadas de espalhar Aids
DA REDAÇÃO
Um tribunal da Líbia condenou
ontem à morte por um pelotão de
fuzilamento cinco enfermeiras
búlgaras e um médico palestino
sob a acusação de deliberadamente terem infectado 426 crianças com o HIV (vírus da Aids).
Segundo a Promotoria, os acusados, que estão presos há cinco
anos, cometeram "assassinatos
com o objetivo de desestabilizar o
país, deliberadamente para dar
início a uma epidemia, e conspiraram para intencionalmente infectar crianças com o vírus".
Em 2001, o ditador líbio, Muammar Gaddafi, disse que as crianças
haviam sido contaminadas como
parte de um experimento ordenado pelo serviço secreto dos EUA
ou pelo de Israel. De acordo com
o governo líbio, mais de 40 crianças morreram devido à contaminação.
A Bulgária disse que os veredictos são "injustos e absurdos" e teve o apoio dos EUA e da União
Européia (UE). A Comissão Européia (o Executivo da UE) afirmou
que estava "profundamente desapontada". O Departamento de Estado dos EUA classificou como
"inaceitável" a sentença. Em 2003,
os EUA fizeram 65 execuções de
condenados à morte.
Algumas organizações de defesa dos direitos humanos afirmam
que a Líbia inventou a versão de
que as contaminações foram resultado de experimentos médicos
realizados na cidade de Benghazi
para encobrir as condições precárias de seus hospitais.
Confissões sob tortura
O governo búlgaro sustenta que
as confissões foram obtidas sob
tortura. Os acusados negam a culpa e dizem que levaram choques e
foram espancados. Duas das enfermeiras alegam terem sido estupradas. Segundo Luc Montagnier,
o médico francês co-responsável
pela descoberta do HIV, a causa
mais provável da contaminação
das crianças são as más condições
higiênicas do hospital de Benghazi. Montagnier calcula que as infecções tenham acontecido em
1997 -mais de um ano antes de
os acusados terem sido contratados pelo hospital.
Um sexto búlgaro, um médico,
também foi julgado, mas escapou
da sentença de morte. Ele foi condenado a quatro anos de prisão
por trocar dinheiro no mercado
negro -apesar de ter sido levado
a julgamento pela acusação de infectar pacientes com Aids.
"Eu não estou contente no momento. Não posso me sentir livre
porque deixei para trás seis pessoas inocente", disse Zdravko
Georgiev, que é casado com uma
das enfermeiras condenadas e
que foi solto por já ter passado
mais de quatro anos preso.
Nove funcionários líbios do
hospital foram inocentados da
acusação de negligência.
O presidente do Parlamento
búlgaro, Ognyan Gerdzhikov,
afirmou ter confiança de que as
sentenças não serão levadas a cabo: "Primeiro, cabe apelação. Segundo, a Líbia não executa sentenças de morte há nove anos.
Terceiro, acredito que Gaddafi irá
agir como um humanitário, para
conquistar algum crédito político,
que ele precisa, perante a opinião
pública mundial".
Antes considerado um pária pela comunidade mundial, Gaddafi
começou a se reabilitar em 2003,
quando concordou em indenizar
as famílias das vítimas do atentado de Lockerbie (Escócia), em
1988 -uma bomba colocada por
agentes do serviço secreto líbio
derrubou um jato de PanAm e
causou a morte de 270 pessoas.
Depois, em dezembro, anunciou
que seu país desistia de levar
adiante seus programas de produção de armas de destruição em
massa. Desde então, já teve encontros com o premiê Tony Blair
e com líderes da UE.
Com agências internacionais
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