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Para especialistas, ondas de calor no mundo deverão se acentuar
CHRISTIANE GALUS
DO "LE MONDE"
Os dez anos mais quentes do
mundo foram todos posteriores a
1987, e, de acordo com as simulações, as temperaturas vão continuar a subir.
As canículas repetidas e a forte
estiagem que se abate sobre boa
parte da França certamente farão
de 2003 um "annus horribilis", assim como foi 1976 -mas com algumas diferenças. Em 1976 a estiagem começou muito cedo, já
desde o final de 1975, sendo que
neste ano a situação é mais contrastada, e vários lençóis freáticos
continuam cheios.
A França já teve três ondas de
calor desde junho, cada uma delas
durando em média de 10 a 15 dias.
Uma primeira canícula se abateu
sobre o país por volta de 20 de junho, com temperaturas que quebraram recordes de 50 anos em
várias cidades do país. Uma segunda chegou em meados de junho, e a terceira se manifesta há
alguns dias. Essas temperaturas
altas são constatadas também no
sul da Alemanha, na Suíça, no
norte da Itália, no oeste da Áustria, na Eslovênia e em boa parte
da ex-Iugoslávia.
A cada nova onda de calor, as
temperaturas sobem um pouco
mais. Mas o calor ainda não chegou ao recorde absoluto para a
França: 44C, registrados em Toulouse em 8 de agosto de 1923.
Será que o calor e a estiagem podem ser vinculados ao aquecimento climático induzido pelas
emissões atmosféricas de gases
causadores do efeito estufa? Com
relação a isso, meteorologistas e
climatologistas falam com prudência extrema, já que lhes faltam
séries estatísticas suficientemente
longas. Apesar disso, todos constatam que, ao longo do século 20,
a temperatura média do planeta
subiu 0,6C, e, na França, 1C.
"Ao longo desse período foram
detectadas claramente três fases
de aquecimento", explica Pierre
Bessemoulin, diretor de climatologia na Météo France. A primeira
delas, entre 1900 e 1940, foi marcada por um aumento moderado da
temperatura. Durante a segunda,
entre 1940 e 1970, a situação se estabilizou. A partir de 1970 a temperatura voltou a subir. A Organização Meteorológica Mundial
afirma que os dez anos mais
quentes no mundo foram todos
posteriores a 1987.
Paralelamente, os especialistas
observam certas correlações entre
as simulações computadorizadas
feitas para avaliar os efeitos do
aquecimento global e a realidade
da alta da temperatura.
O que as simulações apontam é
que a temperatura média mundial vai aumentar no futuro, e,
com ela, aumentarão as chances
de ocorrer ondas de calor. Assim,
o aquecimento climático poderá
se traduzir, num primeiro momento, pela manutenção do clima
atual com uma acentuação dos
extremos de temperatura, na medida em que o efeito estufa aumenta a energia térmica presa na
atmosférica. Ao que tudo indica,
esse processo já está em andamento.
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