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Persiste debate sobre necessidade da bomba
DA REPORTAGEM LOCAL
Mais de meio século não bastou
para terminar uma das maiores
polêmicas da Segunda Guerra: estavam certos os americanos em
jogar duas bombas atômicas sobre o Japão em 1945?
A resposta parece óbvia a qualquer ser humano decente em
2005, conhecedor do impacto devastador da bomba e das seqüelas
que continuam até hoje. Mas, para os tomadores de decisão em
1945, a escolha não era fácil -o
que resultou em centenas de livros tentando entender o porquê.
Muito do que se escreveu sobre
as bombas tem como ponto de
partida essa natural e correta indignação atual sobre a morte de
milhares de civis quando a guerra
estava quase terminada. Mas, para entender o que aconteceu, seria
preciso tentar compreender a situação real em agosto de 1945. E o
que acontecera antes na guerra.
Dois mitos foram criados por
historiadores e analistas, um mais
à esquerda, outro mais à direita.
O mito de esquerda afirma que
uma das mais importantes funções das bombas era impressionar a URSS. Mais do que fazer o
Japão capitular, teria sido importante forçar os soviéticos a aceitarem a primazia americana.
Já o mito de direita afirma que
uma invasão do Japão causaria
em torno de 1 milhão de baixas
entre os invasores, e as bombas
apressaram o fim.
Durante a Guerra Fria essas teses eram aceitas sem muita discussão, dependendo da ideologia
do autor. Novas avaliações surgiram depois, mostrando que a tragédia de Hiroshima e Nagasaki
foi, senão quase inevitável, certamente explicável.
Os momentos finais da guerra
têm sido dissecados em detalhe:
os esforços japoneses em não se
render, as falhas de comunicação,
os dados que foram usados pelo
presidente Harry Truman para
decidir o lançamento.
A idéia de assustar os soviéticos
nunca foi demonstrada categoricamente. Ao contrário, os EUA
queriam acabar a guerra o mais
rapidamente possível, e, para seu
azar posterior, pediram ajuda da
URSS para fazê-lo. A bomba de
Hiroshima foi lançada em 6 de
agosto, e só dois dias depois a
URSS declarou guerra ao Japão.
Se os soviéticos continuassem
de fora, não teriam ocupado a
parte norte da Coréia, criando o
Estado stalinista que persiste ali
até hoje e agora diz que tem a
bomba atômica.
Já as estimativas do número de
mortos de uma invasão do Japão
são mais discutíveis. Dificilmente
chegariam a 1 milhão de baixas
aliadas. Mas a selvageria do soldado japonês não ajudava os cálculos. A maioria preferia se matar a
virar prisioneiro. O Japão não só
criou os famosos kamikazes; os
japoneses também inventaram os
homens-bomba que hoje são notícia no Iraque. Soldados comuns
amarravam granadas ao corpo e
se jogavam contra os americanos.
Pois, mais do que os aspectos
diplomáticos do final do conflito,
o que contou foram os anos de
guerra anteriores. Bombardear
civis era a praxe na guerra, começada ironicamente por italianos,
alemães e japoneses, e continuada
com muito mais intensidade por
seus rivais anglo-americanos.
Os alemães cometeram carnificinas aéreas em Guernica, durante a Guerra Civil Espanhola (1936-39), e em Varsóvia, Roterdã e Coventry na Segunda Guerra; os japoneses fizeram bombardeios indiscriminados contra cidades chinesas como Nanquim.
Dotados de meios melhores, de
bombardeiros maiores e com
maior carga de bombas, os anglo-americanos levaram a extremos
essa estratégia de bombardear cidades. Os ataques contra Dresden
em fevereiro de 1945, e contra Tóquio no mês seguinte, mataram
dezenas de milhares de civis.
O número real de mortos nesses
ataques é e continuará sendo especulativo. (RBN)
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