São Paulo, domingo, 07 de agosto de 2005

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TERROR EM LONDRES

Para principal autoridade jurídica do país, pacote antiterror busca equilíbrio "dentro da lei, mas eficaz"

É preciso agir contra mentores, diz governo

Lindsey Parnaby - 4.ago.2005
Policial armado monta guarda diante da estação de metrô de Kings Cross, alvejada nos ataques terroristas de 7 de julho em Londres


DA ASSOCIATED PRESS

Apesar das críticas de que o pacote antiterror apresentado na véspera pelo premiê Tony Blair pode isolar ainda mais a comunidade muçulmana do Reino Unido, o governo britânico voltou ontem a defender seus planos, afirmando que os atentados que mataram 52 pessoas em Londres -e que hoje completam um mês- deixaram clara a necessidade de o governo agir contra aqueles "que incitam os jovens a se transformarem em homens-bomba".
"Acredito que haja uma sensação disseminada pelo país desde o 7 de Julho de que as coisas mudaram", afirmou a principal autoridade jurídica do país, lorde-chanceler Charles Falconer, em entrevista à rádio BBC. "Precisamos achar um novo equilíbrio. Deve ser um equilíbrio dentro da lei, mas ele precisa ser eficaz."
A maior parte das medidas propostas por Blair na sexta-feira visa banir do país -barrando a entrada ou expulsando- extremistas estrangeiros que defendam o terrorismo e pessoas ligadas a sites e grupos classificados pelo governo como extremistas. O premiê afirmou ainda que, se for necessário, pretende fazer "emendas às leis de direitos humanos" para que elas se acomodem ao novo pacote.
Grupos de direitos humanos e associações islâmicas reagiram negativamente às medidas. Críticos acreditam que, se aprovada, a nova legislação possa alienar os muçulmanos da campanha de combate ao terror.
Isso seria um revés para o governo, que busca nos líderes da comunidade uma base de apoio para seus planos. Estima-se que haja hoje cerca de 1,8 milhão de muçulmanos no Reino Unido.
"Um dever fundamental de todos nós, façamos ou não parte do governo, é manter o cumprimento das leis e a segurança dos cidadãos", disse o líder dos liberais-democratas, Charles Kennedy, à BBC. "Mas, ao mesmo tempo, claro, há de manter as liberdades civis e o direito à liberdade de expressão. Atingir esse equilíbrio será muito importante."
O Fórum Islâmico da Europa, um dos vários grupos que representam a comunidade muçulmana britânica, alega que as medidas podem solapar a unidade nacional. "Se essas medidas se concretizarem, elas aumentarão as tensões e alienarão as comunidades. São medidas contraproducentes, que vão estimular a radicalização", afirmou o presidente do grupo, Musleh Faradhi. "Muitos muçulmanos terão a impressão de que nosso premiê está se submetendo aos terroristas."
Faradhi também criticou os planos do governo de banir o grupo radical Hizb ut Tahrir, que defende a formação de um califado na Ásia Central e é banido em vários países da região. Seus simpatizantes, no entanto, afirmam tratar-se de um grupo não-violento perseguido por governos corruptos.
"A proibição dará a luz verde aos líderes despóticos do mundo muçulmano para que silenciem os dissidentes", disse Farahdi.

Mais indiciamentos
A polícia britânica afirmou ontem que três homens presos na última semana em Brighton e que se recusam a fornecer informações a respeito dos atentados frustrados de 21 de julho permanecerão presos após serem formalmente indiciados sob as leis antiterrorismo.
Shadi Sami Abdel Gadir, 22, Omar Nagmeloin Almagboul, 20 e Mohamed Kabashi, 23 se apresentaram a um juiz na manhã de ontem e permanecerão presos até 11 de agosto.
A polícia prendeu 39 pessoas durante as investigações dos ataques de 7 e 21 de julho. Nove permanecem sob custódia, sendo que seis foram indiciadas.

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