São Paulo, sexta-feira, 07 de setembro de 2001

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CULTURA AMEAÇADA

Índios lideram índices de pobreza no México

Desigualdade deu origem a rebelião em Chiapas

PAULO DANIEL FARAH
DA REDAÇÃO

Apesar de a cultura indígena ser considerada parte fundamental do patrimônio mexicano, a discriminação se reflete nas condições de vida dos índios -10% dos 97 milhões de habitantes. São os mais desfavorecidos entre os 40 milhões de pobres do país, e boa parte deles vive em situação de extrema pobreza em vilarejos sem água corrente nem escolas. Em geral, os que se aventuram a viver na capital têm de abandonar suas tradições e adotar nomes espanhóis, por pressão ou vergonha.
Membros de ao menos 56 povos indígenas enfrentam índices de analfabetismo e de mortalidade infantil extremamente altos e não raramente são explorados.
"No México, ninguém reconhece a discriminação com base na ascendência indígena, mas basta examinar os insultos, como "não aja como um índio", por exemplo. São coloniais e têm origem racista. No léxico popular, com frequência o termo índio é empregado de forma pejorativa", diz Paloma Bongil, especialista no tema.
A maior parte das cortes e das instituições públicas fornece tradutores para línguas estrangeiras, mas não para idiomas indígenas.
Tais condições deram origem, em 1994, a uma rebelião no Estado de Chiapas, onde a situação é crítica e o diálogo com o governo não avança. O levante, organizado pelo Exército Zapatista de Libertação Nacional (EZLN), surpreendeu a população, segundo o cientista político Federico Estevez, pois, "na sociedade mexicana, todo mundo é um mestiço feliz", afirma ironicamente.
Ainda que criticada, a lei dos direitos e da cultura indígena recentemente aprovada foi uma tentativa de atender a reivindicações. Ela proíbe a discriminação contra índios, reconhece os direitos e as culturas e obriga o governo a lhes repassar recursos e promover políticas de desenvolvimento.
O líder zapatista, subcomandante Marcos, alegou, porém, que a lei aprovada não estabelece os mecanismos para o exercício desses direitos. O texto também impõe limites à autonomia prevista em um projeto de 1996.
Deputados oposicionistas anunciaram anteontem uma frente unificada para revisar a lei.


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