São Paulo, sexta-feira, 07 de setembro de 2001

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BÁLCÃS

Implementação de acordo dependia da votação de ontem, porém ainda precisa de ratificação em segundo turno

Parlamento macedônio facilita plano de paz

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

O Parlamento macedônio aprovou ontem um projeto de reforma constitucional vital para a implementação do acordo de paz entre o governo e os rebeldes de origem albanesa, que tem o apoio da comunidade internacional, após um atraso de dois dias que ameaçara a missão da Otan no país.
A operação Colheita Essencial da aliança militar ocidental limita-se ao recolhimento de armas entregues voluntariamente pelos rebeldes, que haviam interrompido sua ação por causa da demora do Parlamento em aprovar, em primeiro turno, o projeto de reforma, cujo intuito é o de melhorar as condições de vida da população de origem albanesa.
"Para mostrar que não estavam mentindo quando deram início ao levante, os rebeldes começaram a entregar parte de suas armas, já que acreditavam que fossem atingir seus objetivos. Mas, como o Parlamento relutava em aprovar a reforma constitucional que abriria caminho para a melhoria da situação da minoria de origem albanesa, suspenderam a entrega de armamentos", explicou à Folha Janusz Bugajski, diretor do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (EUA).
O Parlamento deverá ratificar a aprovação da reforma constitucional depois que a Otan terminar sua missão, o que está previsto para ocorrer em 26 de setembro. Até lá, a aliança espera recolher 3.300 armas dos guerrilheiros. A fase mais complexa da implementação do acordo de paz só terá início depois dessa data.
Por isso os enviados especiais dos EUA e da União Européia (UE) já começaram a defender a idéia do envio de uma força internacional à Macedônia, para supervisionar a implementação das reformas constitucionais.
Elas prevêem a descentralização do poder, a difusão do uso do albanês como língua oficial, o reconhecimento dos diplomas universitários de estabelecimentos com ensino em albanês e o aumento da representação de cidadãos de origem albanesa em cargos públicos.
A aprovação do projeto de reforma não agradou a deputados nacionalistas eslavos, e a comunidade internacional teme que a reforma seja desvirtuada antes de sua aprovação em segundo turno.
Afinal, a implementação do acordo de paz deverá durar alguns meses, o que significa que a Otan deixará a Macedônia num momento em que a frágil estabilidade conquistada após sete meses de conflito estará ameaçada.
"Se nenhuma força internacional for enviada à Macedônia após o fim da missão da Otan, os poucos avanços conseguidos até agora serão postos em xeque. A comunidade internacional tem de ajudar na consolidação da paz na Macedônia", afirmou Bugajski.
Assim, James Pardew, enviado americano, e François Léotard, da UE, já defendem o envio de observadores ao país. Contudo vários Estados europeus já expressaram preocupação quanto à segurança dos observadores caso eles não sejam protegidos militarmente.
Léotard foi mais longe ontem e propôs o envio de uma "força leve" da UE, que teria entre "1.500 e 2.000 soldados", para garantir a segurança dos observadores internacionais. Estes poderiam estar a serviço da Organização para Segurança e Cooperação na Europa, que já tem 50 pessoas no país.
No entanto, seguindo a tática que marcou a intervenção internacional na Macedônia até agora, o enviado da UE não quis falar em "missão de paz" no país, que tem 2,2 milhões de habitantes -cerca de 30% de origem albanesa.


Com agências internacionais


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