São Paulo, sexta-feira, 07 de setembro de 2007

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análise

Relação bipolar causa oscilação permanente

MARCELO NINIO
DA REDAÇÃO

Desde a guerra entre Israel e a milícia libanesa Hizbollah, no ano passado, as relações entre Síria e Israel têm sofrido oscilações comparáveis ao comportamento de alguém que sofre de transtorno bipolar -variam da euforia em torno da possibilidade de um acordo de paz à depressão causada pela iminência de uma nova guerra.
Apesar de permanecerem tecnicamente em estado de guerra há 40 anos, Israel e Síria conseguiram manter nesse período uma convivência em sua fronteira que, embora tensa, foi marcada pela ausência de incidentes graves.
O episódio de ontem entraria na longa lista de provocações sem maiores conseqüências trocadas pelos dois inimigos históricos, não fosse pelos rumores que povoaram os últimos meses.
Em junho, quando a tomada das colinas do Golã da Síria pelo Exército israelense completava quatro décadas, o "Yediot Ahronot", jornal mais popular de Israel, estampou em letras garrafais: "Síria se prepara para confronto no verão".
A reportagem se baseava em relatos de que o Exército sírio realizara exercícios militares sem precedentes como preparativo para uma guerra contra Israel nos meses seguintes. Sinais adicionais de escalada militar seriam a aquisição de baterias antiaéreas do Irã e da Rússia, além da antecipação das grandes manobras anuais militares do Exército sírio.
Ontem, enquanto os especialistas tentavam entender a dimensão do incidente em meio à escassez de informações precisas, o novo arsenal sírio voltou a ser lembrado como possível motivo da incursão noturna israelense. "Talvez Israel estivesse coletando dados sobre mísseis de longo alcance instalados no norte da Síria", disse o especialista em contraterrorismo israelense Boaz Ganor.
Se a Síria deu motivos para que Israel temesse uma guerra iminente, Israel respondeu na mesma moeda, fazendo manobras no Golã e abastecendo a imprensa de advertências a Damasco. A "Guerra do Verão" virou o assunto da moda nos cafés de Tel Aviv e contagiou os programas de TV israelenses, que especulavam em detalhes como seria o confronto.
Os tambores de guerra, entretanto, não impediram o ressurgimento de especulações sobre a retomada do processo de paz entre os dois países, estancado desde 2000. Rumores sobre negociações secretas começaram a aparecer na imprensa, confundindo quem esperava o pior. Os dois lados negaram os contatos, mantendo as relações bilaterais do jeito que estiveram nos últimos 40 anos: tensas, porém estáveis.


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