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FRANÇA
Para entidades, revista de carros e pessoas é atentado contra liberdade
Maior controle provoca grita
ALCINO LEITE NETO
DE PARIS
Pioneira na defesa dos direitos
do homem, a França entrou em
crise depois que o governo divulgou medidas de vigilância, inclusive do ciberespaço, que restringem as liberdades individuais em
nome de uma maior segurança
contra o terrorismo.
As medidas foram anunciadas
pelo primeiro-ministro Lionel
Jospin (centro-esquerda) na última semana e provocaram imediatamente a ira de organizações
de direitos humanos e um grande
debate dentro da sociedade francesa. A razão da grita é simples: a
França, com a Revolução Francesa (1789), estabeleceu limites para
a ação do Estado.
Policiais e agentes ganham mais
poderes com as novas medidas.
Eles são autorizados a fazer revista interna de veículos e a realizar o
controle de pessoas em áreas de
segurança pública.
Além disso, autorizam os juízes
a solicitar mensagens eletrônicas
de pessoas suspeitas e a pedir a
identificação dos autores de sites
da internet.
O controle de pessoas, que consiste em pedir a identificação e verificar os seus objetos e roupas,
poderá ser realizado nas áreas de
portos e aeroportos ou em todo
lugar acessível ao público, "em caso de ameaça grave à segurança",
segundo Jospin.
A revista de veículos pela polícia, considerada inconstitucional
desde 1995, será permitida desde
o início de uma investigação, uma
vez que seja autorizada pelo Ministério Público. Nas ruas de Paris, ela já está em prática.
Quanto à internet, o governo espera aprovar no Parlamento um
projeto de lei que obriga os provedores de acesso a ajudarem na
tradução de mensagens criptografadas (em código) e a conservarem vestígios das conexões feitas pelos usuários por um período
de um ano.
Apoio político
O presidente Jacques Chirac
(centro-direita), rival político de
Jospin, endossou as medidas, que
receberam também o apoio da
maioria dos parlamentares.
A direita defendeu que elas tivessem caráter permanente, mas
Jospin garantiu que seriam "excepcionais" e com duração determinada. Mas ninguém definiu
qual a duração delas.
Para o presidente da Liga dos
Direitos Humanos, Michel Tubiana, a França está adotando leis de
exceção. "Isso é inaceitável", declarou.
O Sindicato da Magistratura
anunciou que as medidas eram
"atentatórias" às liberdades fundamentais e que elas vão "pesar"
na vida cotidiana dos cidadãos,
"em particular daqueles que são
objeto de repetidos controles por
causa de sua aparência ou sua origem". Quer dizer, imigrantes, pobres, árabes e negros.
As medidas ampliam o plano
Vigipirate (Vigia Pirata), dispositivo de segurança nacional criado
em 1978 e que tem sido utilizado
pelo governo francês sempre que
o país é ou pode ser atingido por
um ataque terrorista. O plano tem
duas fases: alerta simples (fase 1) e
alerta reforçado (fase 2), que envolve as Forças Armadas.
Depois dos atentados nos EUA,
o governo acionou imediatamente a fase 2 e colocou de prontidão
5.000 policiais e militares.
O Vigipirate reforçado também
significa a intensificação do patrulhamento nas ruas, o controle
firme das fronteiras e das entradas e saídas dos estabelecimentos
públicos e privados considerados
"sensíveis".
Segundo o Movimento contra o
Racismo e pela Amizade entre os
Povos, desde a ativação do plano
Vigipirate reforçado, o número
de detenções de imigrantes em situação irregular aumentou de
maneira "significativa" no país.
A eficácia dos métodos franceses contra o terrorismo está fazendo com que eles ganhem adeptos.
A edição européia do "The Wall
Street Journal" chegou a sugerir
que o plano da França servisse de
inspiração para os EUA.
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