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Estudo mostra fiasco dos EUA no mundo árabe
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
A administração dos EUA deveria fazer mais esforços para atenuar o crescimento do antiamericanismo no mundo árabe e no
muçulmano, incluindo no que se
refere a treinar funcionários federais para explicar as posições de
Washington a estrangeiros em
sua própria língua, segundo disse,
na última quarta-feira, um painel
de especialistas contratado pelo
governo de George W. Bush.
O Departamento de Estado só
conta com 54 funcionários que falam razoavelmente bem árabe, e
somente alguns deles se dizem
dispostos a participar de discussões na mídia (rádio ou televisão)
árabe, de acordo com as pesquisas do painel. Para os autores do
estudo, a falta de pessoal especializado é um dos fatores que impedem que o crescimento do antiamericanismo seja abrandado.
O texto foi divulgado uma semana depois da publicação de outro estudo sobre o elo entre a diplomacia pública e o crescimento
do antiamericanismo global. Trata-se de um relatório encomendado pelo Council on Foreign Relations, um reputado centro de pesquisas dos EUA, sobre o tema.
Para David Morey, um dos autores do estudo do Council on Foreign Relations, o problema da
falta de apoio à diplomacia publica é grave, mas não é novo nos
EUA. "Desde o presidente [Ronald] Reagan [1981-1989 ], nenhuma administração americana deu
o devido valor à diplomacia pública", explicou Morey à Folha.
"A situação é grave no mundo
todo, porém é bastante perigosa
entre árabes e muçulmanos, pois
os EUA são vistos como protetores de Israel. Washington tem de
fazer alguma coisa para atenuar
esse antiamericanismo. Afinal, se
nada for feito, poderemos acabar
tendo outro 11 de Setembro ou algo assim", acrescentou.
À época de Bill Clinton (1993-2001), após o final da Guerra Fria,
os esforços de diplomacia pública
foram relegados a segundo plano,
de acordo com analistas. "A vitória na Guerra Fria provocou acomodação, o que minou a diplomacia pública", disse Joseph Nye,
da Universidade Harvard (EUA).
"O problema é que o quadro foi
se agravando. E, após o 11 de Setembro e o advento da Doutrina
Bush, a imagem dos EUA foi se
deteriorando cada vez mais, sobretudo no mundo árabe. A doutrina em si não está errada, já que
privilegia o combate ao terrorismo e a luta contra a proliferação
de armas de destruição em massa.
Contudo seus métodos são incorretos, unilateralistas demais."
Segundo o estudo publicado na
semana passada, apenas 15% dos
indonésios têm uma imagem positiva dos EUA hoje, contra 61%
no início de 2002. E o texto citou
uma pesquisa do Instituto Gallup
que mostra que só 7% dos sauditas vêem os EUA positivamente.
Para os especialistas, mesmo estando descartada pelo governo
uma mudança radical na política
externa dos EUA, a Casa Branca
deverá coordenar esforços relacionados ao mundo árabe. A diplomacia pública tenta promover
os interesses nacionais de um país
por meio do entendimento de
seus objetivos e de informações
sobre suas políticas, buscando influenciar audiências estrangeiras.
Para tanto, Washington deverá
"aumentar dramaticamente o financiamento de programas de diplomacia pública" no mundo árabe e no muçulmano. Em 2002, dos
US$ 600 milhões gastos nessa área
pelo governo, apenas US$ 25 milhões foram despendidos no
mundo árabe e no muçulmano.
Ademais, o painel aconselhou a
contratação de 300 pessoas fluentes em árabe nos próximos dois
anos e de outros 300 até 2008. Outro aspecto importante é a concessão de bolsas de estudo a estudantes oriundos de países árabes
ou muçulmanos. Atualmente, há
900 casos do gênero nos EUA. Em
1980, havia 20 mil bolsas para estudantes árabes e muçulmanos.
Outra recomendação dos especialistas é que a rádio governamental Sawa, cujos programas
são em árabe, precisa ter "um objetivo mais amplo" que a conquista de uma grande audiência. Funcionários graduados da Sawa afirmaram, recentemente, que, segundo pesquisas de preferência
popular, a estação (que veicula
notícias e programas musicais)
está à frente de suas concorrentes.
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