São Paulo, sábado, 07 de outubro de 2006

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Rússia mira crianças para atingir Geórgia

Escolas recebem ordem de apresentar lista de georgianos; 130 pessoas são deportadas sob alegação de imigração ilegal

Governo de ex-república soviética acusa vizinho de promover "limpeza étnica" como represália à prisão de militares russos, já soltos

DA REDAÇÃO

O governo russo aumentou a pressão sobre a Geórgia, ordenando às escolas de Moscou que forneçam listas com as crianças de sobrenomes georgianos -a alegação é que isso permitirá detectar imigrantes ilegais. Além disso, pelo menos 130 georgianos foram deportados ontem, e diversos negócios tocados por pessoas nascidas no país vizinho foram fechados.
"Não é nem xenofobia. O que a Rússia está fazendo é uma forma branda de limpeza étnica", reagiu o ministro de Relações Exteriores georgiano, Gela Bezhuashvili.
O chefe do Departamento de Educação de Moscou, Alexander Gavrilov, confirmou que escolas receberam o pedido de identificação de georgianos anteontem. Ele criticou a medida. "Se buscam imigrantes ilegais, é um problema deles. Escolas não devem ser envolvidas."
Apesar da confirmação, a polícia da capital negou ter feito a requisição. "Não demos nenhuma instrução desse tipo", disse o porta-voz. Uma autoridade policial, porém, confirmou a medida sob anonimato -segundo ela, a ordem veio do Ministério do Interior.
A relação entre a Rússia e a ex-república soviética de 5 milhões de habitantes é tensa desde 2003, quando a chamada Revolução Rosa levou à Presidência da Geórgia um dirigente pró-ocidental, Mikhail Saakashvili. Ele enfureceu Moscou com iniciativas para integrar o país do Cáucaso, que a Rússia considera sua zona de influência, à Otan, a aliança militar ocidental.
A atual crise explodiu na semana passada, quando a Geórgia prendeu cinco militares russos sob a acusação de espionagem e de incentivarem os movimentos separatistas nas regiões georgianas da Abkházia e Ossétia do Sul. Como um resquício da era soviética, a Rússia mantém bases militares na Geórgia, cuja desativação está prevista para 2008.
Entre as represálias adotadas na última semana pelo russos estão a restrição de vistos para georgianos -há atualmente 1 milhão de georgianos morando na Rússia- e o corte das ligações por terra, mar e avião. Dezenas de pessoas pediram ajuda ao consulado georgiano em Moscou para voltar para casa. Vários negócios da comunidade georgiana foram fechados na cidade, sob alegações diversas.
Apesar de os cinco militares terem sido soltos há dois dias, ontem pelo menos 130 georgianos foram deportados, num avião de carga, sob a acusação de serem ilegais. Ao chegarem a Tbilisi, muitos empunhavam seus passaportes com vistos russos. Um grupo de 180 russos, por sua vez, deixou a Geórgia, temendo sanções. No aeroporto, o ministro da Economia georgiano, Irakly Chogovadze, presenteou-os com vinhos.
O resultado parcial das eleições municipais de anteontem na Geórgia apontou vitória do partido do presidente na maioria das cidades. Autoridades russas puseram em dúvida a eleição, mas observadores internacionais disseram não ter detectado irregularidades.


Com agências internacionais


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