São Paulo, sábado, 07 de outubro de 2006

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Estudo britânico revela abismo étnico-religioso

Escritório de Estatísticas Nacionais, do governo, analisou dados do censo de 2001

Muçulmanos, que são 3% da população britânica, têm o dobro de chances de ficar desempregados do que adeptos de outras religiões

DA REDAÇÃO

O primeiro mapa sobre a diversidade étnico-religiosa no Reino Unido, divulgado nesta semana pelo governo, revela um panorama de desigualdade para as minorias no país.
O estudo, com base no último censo demográfico, feito em 2001, mostra que os muçulmanos britânicos têm o dobro da probabilidade de ficarem desempregados do que seguidores de outras religiões.
O mesmo vale para britânicos de ascendência africana, bengalesa ou paquistanesa, que registram taxas de desemprego duas vezes maiores do que as que afetam britânicos brancos.
Entre os indianos, os muçulmanos têm mais chances de ficar desempregados do que os sikhs ou hindus, o que sugere que o fator discriminatório seja a religião e não a raça, aponta o documento.
Uma em cada três residências muçulmanas têm crianças dependentes mas nenhum adulto trabalhando.
"A questão do desemprego é extremamente séria em partes da comunidade islâmica. Há uma necessidade urgente de políticas de treinamento e de esquemas de aprendizes", disse Jamil Sherif, do Conselho Muçulmano do Reino Unido, ao diário britânico "The Independent".
O estudo, divulgado pelo Escritório de Estatísticas Nacionais, mostra ainda que 44% dos bengaleses e 42% dos africanos negros moravam em condições de superlotação -sete vezes a taxa de superlotação entre britânicos brancos.

Comunidades fechadas
O documento confirma uma tendência de formação de comunidades étnico-religiosas fechadas -um assunto que ganhou proeminência no Reino Unido após os ataques terroristas que mataram 52 pessoas em 2005 em Londres, executados por jovens muçulmanos nascidos no Reino Unido.
"Pessoas de diferentes grupos étnico-religiosos tendem a viver em áreas diferentes na Inglaterra e no País de Gales", diz o texto.
Menos de 7% das áreas administrativas têm um alto nível de diversidade étnica. Apenas 3% apresentavam grande diversidade religiosa.
Em áreas como Leicester, Birmingham, Bradford e Manchester, três quartos da população não é branca nem cristã, apesar do fato de esse grupo étnico-religioso representar 70% da população total.
Por outro lado, o estudo mostra que alguns grupos étnicos são mais diversificados em termos religiosos do que outros. Entre os indianos, por exemplo, 45% são hindus, 29%, sikh, 13%, muçulmanos e 5%, cristãos. Mas nove em cada dez paquistaneses e bengaleses são muçulmanos.
De maneira similar, alguns grupos religiosos se mostram mais diversificados etnicamente. O menos diversificados eram os cristãos e os sikhs -90% dos seguidores dessas religiões têm a mesma origem étnica.
Já os muçulmanos abrigam mais diferenças étnicas: 43% são paquistaneses, 17%, bengaleses, 8%, indianos, 7% brancos e 4% britânicos brancos.

Cálculo
Apesar de ser a segunda maior religião no país, os muçulmanos são apenas 3% da população. Declaram-se sem religião 14% dos britânicos, e 71,8% se dizem cristãos. Mais de 60 mil brancos britânicos são muçulmanos.
Os brancos são 88,2%, enquanto os indianos são a minoria não-branca mais numerosa, com 1,8%. O maior grupo étnico-religioso é formado por paquistaneses muçulmanos.
A diversidade foi calculada com base na probabilidade de que duas pessoas aleatórias pertençam a grupos étnicos ou religiosos distintos.
No bairro londrino de Brent (noroeste), por exemplo, essa probabilidade é de 85% - o que o torna a área mais etnicamente diversificada.
Já em Easington, no nordeste da Inglaterra, esse percentual é de 2%, colocando a região no extremo oposto a Brent. Na média nacional, esse índice é de 23%.
Em termos religiosos, o bairro londrino de Harrow aparece como o mais diversificado, com 62% de chance de que duas pessoas aleatórias sejam de religiões diferentes.
Para Jamil Sherif, a alta diversidade em Brent e Harrow é explicada pelo fato de que "os dois distritos têm boas relações comunitárias e coesão, o que mostra que o multiculturalismo funciona".


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