São Paulo, quarta-feira, 07 de outubro de 2009

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Lula poderia conter Chávez, diz venezuelano

Governador de Caracas afirma à Folha que brasileiro poderia convencer colega a não perseguir opositores

FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL

Um dos principais líderes da oposição na Venezuela, o governador de Caracas, Antonio Ledezma, defendeu ontem em conversa com a Folha que o governo Lula e a oposição pressionem o presidente Hugo Chávez a abandonar a "perseguição aos oponentes".
O oposicionista, da conservadora Aliança Bravo Povo, criticou a pouca atenção da OEA (Organização dos Estados Americanos) às demandas da oposição venezuelana -como denúncias de violações de direitos humanos e políticos. Disse que, para não se tornar irrelevante, a organização multilateral "não pode ser um clube de presidentes que se protegem entre si".
Além da agenda de intercâmbio administrativo com autoridades locais, a visita de Ledezma ao Brasil faz parte de sua turnê pela região que tenta capturar parte dos holofotes voltados para a crise hondurenha. Em agosto, ele esteve na OEA em Washington e em Miami. Visitou ainda políticos na Argentina neste mês.
"A questão da OEA é de timing. Se tivesse chegado a Honduras dias antes... Não queremos que a OEA chegue [à Venezuela] quando já haja dezenas de mortos", disse.
Em São Paulo, Ledezma teve encontros com o prefeito Gilberto Kassab (DEM) e com o governador do Estado, José Serra (PSDB). Ontem ele tinha reunião marcada com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a quem, disse, quer transformar em "porta-voz" pela liberação de oposicionistas presos na Venezuela, entre eles subordinados seus. "Por um Natal sem presos políticos", pregou.
Ledezma se diz um dos "perseguidos políticos" do país e usa como argumento o seu próprio caso. Eleito em novembro para comandar cinco municípios que conformam o distrito de Caracas e uma população de 2,1 milhões, ele teve sua gestão esvaziada por Chávez, que nomeou uma governadora biônica para o distrito. A nomeada detém 90% do Orçamento da região metropolitana.
O governo Chávez diz que a atual Constituição, de 1999, prevê a regulamentação administrativa do distrito de Caracas e que as novas leis, aprovadas pela Assembleia Nacional de maioria governista, conformam-se a ela.
"A nossa vitória em Caracas é algo que Chávez não consegue digerir", diz Ledezma, que defendeu uma frente anti-Chávez formada por todos os que prezam a democracia. "Ele quer desconhecer a vontade do eleitor. Entramos na Justiça, mas a tragédia do país é que não há mais separação de Poderes."
Ledezma foi um dos que pregaram, em 2005, a retirada da oposição da eleição que levou o chavismo a dominar o Legislativo nacional. Ele faz mea-culpa sobre a decisão e diz que a aposta agora é, animados pelos resultados das eleições regionais de 2008, nas quais, além de Caracas, o chavismo perdeu em outros Estados importantes, construir uma plataforma comum nas eleições parlamentares de 2010.
Ledezma disse à Folha que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva "marcaria um gol" se influenciasse o colega venezuelano a respeitar os limites entre os Poderes na Venezuela e o convencesse a receber a visita da Comissão de Direitos Humanos da OEA.
O oposicionista, que em maio disse, em carta ao Congresso brasileiro, que seria um "grave erro" aprovar a entrada da Venezuela no Mercosul, agora defende a adesão. "Chávez mesmo quer fechar essa porta de entrada. Faz parte de sua estratégia isolacionista."
O Senado brasileiro e o Congresso paraguaio ainda não aprovaram a entrada do país no bloco, já ratificada pela Argentina e pelo Uruguai.


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