|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Lula poderia conter Chávez, diz venezuelano
Governador de Caracas afirma à Folha que brasileiro poderia convencer colega a não perseguir opositores
FLÁVIA MARREIRO
DA REPORTAGEM LOCAL
Um dos principais líderes da
oposição na Venezuela, o governador de Caracas, Antonio
Ledezma, defendeu ontem em
conversa com a Folha que o governo Lula e a oposição pressionem o presidente Hugo
Chávez a abandonar a "perseguição aos oponentes".
O oposicionista, da conservadora Aliança Bravo Povo, criticou a pouca atenção da OEA
(Organização dos Estados
Americanos) às demandas da
oposição venezuelana -como
denúncias de violações de direitos humanos e políticos.
Disse que, para não se tornar
irrelevante, a organização multilateral "não pode ser um clube de presidentes que se protegem entre si".
Além da agenda de intercâmbio administrativo com autoridades locais, a visita de Ledezma ao Brasil faz parte de sua
turnê pela região que tenta
capturar parte dos holofotes
voltados para a crise hondurenha. Em agosto, ele esteve na
OEA em Washington e em
Miami. Visitou ainda políticos
na Argentina neste mês.
"A questão da OEA é de timing. Se tivesse chegado a
Honduras dias antes... Não
queremos que a OEA chegue [à
Venezuela] quando já haja dezenas de mortos", disse.
Em São Paulo, Ledezma teve
encontros com o prefeito Gilberto Kassab (DEM) e com o
governador do Estado, José
Serra (PSDB). Ontem ele tinha
reunião marcada com o ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso, a quem, disse, quer
transformar em "porta-voz"
pela liberação de oposicionistas presos na Venezuela, entre
eles subordinados seus. "Por
um Natal sem presos políticos", pregou.
Ledezma se diz um dos "perseguidos políticos" do país e
usa como argumento o seu próprio caso. Eleito em novembro
para comandar cinco municípios que conformam o distrito
de Caracas e uma população de
2,1 milhões, ele teve sua gestão
esvaziada por Chávez, que nomeou uma governadora biônica para o distrito. A nomeada
detém 90% do Orçamento da
região metropolitana.
O governo Chávez diz que a
atual Constituição, de 1999,
prevê a regulamentação administrativa do distrito de Caracas e que as novas leis, aprovadas pela Assembleia Nacional
de maioria governista, conformam-se a ela.
"A nossa vitória em Caracas é
algo que Chávez não consegue
digerir", diz Ledezma, que defendeu uma frente anti-Chávez
formada por todos os que prezam a democracia. "Ele quer
desconhecer a vontade do eleitor. Entramos na Justiça, mas a
tragédia do país é que não há
mais separação de Poderes."
Ledezma foi um dos que pregaram, em 2005, a retirada da
oposição da eleição que levou o
chavismo a dominar o Legislativo nacional. Ele faz mea-culpa sobre a decisão e diz que a
aposta agora é, animados pelos
resultados das eleições regionais de 2008, nas quais, além
de Caracas, o chavismo perdeu
em outros Estados importantes, construir uma plataforma
comum nas eleições parlamentares de 2010.
Ledezma disse à Folha que o
presidente Luiz Inácio Lula da
Silva "marcaria um gol" se influenciasse o colega venezuelano a respeitar os limites entre
os Poderes na Venezuela e o
convencesse a receber a visita
da Comissão de Direitos Humanos da OEA.
O oposicionista, que em
maio disse, em carta ao Congresso brasileiro, que seria um
"grave erro" aprovar a entrada
da Venezuela no Mercosul,
agora defende a adesão. "Chávez mesmo quer fechar essa
porta de entrada. Faz parte de
sua estratégia isolacionista."
O Senado brasileiro e o Congresso paraguaio ainda não
aprovaram a entrada do país no
bloco, já ratificada pela Argentina e pelo Uruguai.
Texto Anterior: Crise acaba com eleição sob Zelaya, diz Lula Próximo Texto: Para estudante, ação em Caracas alcançou meta Índice
|