São Paulo, domingo, 07 de novembro de 2004

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Alemães obtêm documentos do antigo regime

DO ENVIADO ESPECIAL A BERLIM

Escuta clandestina. Agentes secretos infiltrados na sociedade para delatar inimigos do governo. Interrogatórios com agressões físicas, que podiam acabar em morte. Não são poucas as semelhanças no modo de operação do regime militar brasileiro e da ditadura comunista da antiga Alemanha Oriental. Mas o destino de seus fantasmas foi diferente.
No momento em que ainda se discute no Brasil a abertura do baú do regime militar, o chefe da divisão de informação dos arquivos da Stasi, a polícia secreta da Alemanha Oriental, Herbert Ziehm, diz que 2,1 milhões de alemães já pediram para ter acesso aos documentos produzidos entre 1950 e 1989. Metade conseguiu.
"Depois que o muro caiu, muita gente queria que os arquivos continuassem secretos, principalmente os colaboradores do regime. Temia-se a falta de maturidade da sociedade alemã para lidar com os fantasmas do comunismo. Com medo de serem perseguidos, ex-funcionários da Stasi falavam até mesmo em guerra civil se os arquivos fossem abertos. Mas decidimos torná-los públicos, expondo os antigos colaboradores do regime a um julgamento moral e até criminal. E fizemos a escolha certa. A transparência mostrou-se a melhor opção para lidar com a sombra de um poder autoritário", afirmou Ziehm à Folha.
Ao acessar os arquivos, descobriram que 5,1 milhões de pessoas foram observadas pelos colaboradores informais do regime. Quando o muro caiu, sobraram 6 milhões de fichas em papel, cartas, gravações e microfilmes. Um mergulho no passado ao qual o Brasil ainda não se aventurou. (FS)


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