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DIPLOMACIA
Cúpula que começa hoje em Nice quer criar mecanismos para assegurar admissão de países do Leste Europeu
Líderes tentam definir expansão da UE
CLAUDIA ASSEF
DE PARIS
Criar mecanismos que assegurem a administração de uma
União Européia (UE) expandida.
Segundo o presidente francês,
Jacques Chirac, esse é o propósito
da cúpula de Nice (sul da França),
que começa hoje e deve se estender até domingo -um dia além
do previsto.
Serão discutidas medidas que
visam tornar menos traumática a
entrada de outros 12 países na UE.
O aumento gradual dos atuais 15
membros que compõem a UE para prováveis 27 países não deverá
ocorrer antes de 2003.
"Se mudanças significativas não
forem conduzidas, será impossível administrar um bloco tão heterogêneo", diz Gerard Nefilyan,
diretor do Sources d'Europe, centro de informação da UE.
Segundo ele, o principal assunto
em discussão na cúpula será a reforma do Conselho da União Européia. "A intenção de ampliar a
UE exige que seja feita uma revisão no número de votos a que cada país terá direito", diz Nefilyan.
Hoje, os maiores países do bloco -Alemanha, França, Reino
Unido e Itália- têm direito a dez
votos cada um; a Espanha tem direito a oito; Bélgica, Grécia, Portugal e Holanda contam com cinco
votos cada um; Áustria e Suécia
têm direito a quatro; Dinamarca,
Irlanda e Finlândia entram com
três votos cada um; e Luxemburgo participa com dois votos.
Com a reforma, os países grandes querem manter seu peso no
conselho. Se o atual sistema de
distribuição de votos fosse mantido, os "grandes" perderiam muita
força -já que vários candidatos a
entrar na UE são pequenos.
Alguns países já fizeram propostas de métodos de redistribuição de votos. Até agora, porém, o
modelo que mais tem recebido
apoio é o que foi proposto em
conjunto por Itália e Alemanha.
Segundo a proposta, os quatro
países grandes passariam a ter 33
votos cada um; Espanha e Polônia, 26; Romênia, 14; Holanda,
Grécia, República Tcheca, Bélgica, Hungria e Portugal, 10. E países menores, como Malta, Luxemburgo, Chipre o Estônia, teriam direito a três votos cada um.
A importância da reforma no
Conselho da União Européia é
proporcional à polêmica que o assunto vem causando. Países como
a Alemanha e a Espanha, que se
consideram subdimensionados
na distribuição de votos, vêm
dando sinais de que vão dar trabalho durante as negociações.
"Todos vão precisar colaborar",
diz o presidente Chirac no endereço oficial da cúpula, na Internet.
"Ou chegamos a um acordo firme
em Nice ou nada. Não vamos participar de um acordo menor."
Outro ponto importante na reunião de Nice é a limitação do direito ao veto. Hoje, para barrar
uma decisão, basta que um dos 15
membros da UE vote contra.
"Em Nice, vamos examinar maneiras de manter um número reduzido de assuntos sob a possibilidade de veto", adiantou o ministro das Relações Exteriores da
França, Hubert Védrine.
"É muito confortável para os
países poder vetar uma questão
que os atingiria diretamente", diz
Gerard Nefilyan, do Sources
d'Europe.
Para a Espanha, por exemplo, a
questão dos fundos estruturais é
tema intocável. Para o Reino Unido, a normativa social é sagrada.
A situação, que já é difícil de administrar com os 15 membros,
deve se tornar ainda mais caótica
com uma UE de 27 países. Por isso, a Comissão Européia deverá
propor o direito de veto apenas a
casos extremos.
Para os demais casos, a comissão propõe a criação de um sistema de votação que obedeça a uma
"maioria qualificada".
Levando-se em conta a proposta italiana da redistribuição de votos, o Conselho de Ministros da
UE disporia de 330 votos. Neste
caso, para aprovar uma questão
pela "maioria qualificada", seriam necessários 234 votos -cerca de 70%. Para os países pequenos, a discussão sobre o Comissão
Européia deve ser tão importante
quanto a da redistribuição de votos no Conselho da UE.
Os comissários da UE desempenham papel semelhante ao dos
ministros -cada um fica responsável por uma pasta.
Protestos
Ontem houve protestos em Nice, mas espera-se que eles sejam
intensificados nos próximos dias,
pois dezenas de milhares de ativistas antiglobalização, de grupos
que fizeram protestos em Seattle,
na reunião da Organização Mundial do Comércio, ano passado,
estavam a caminho de Nice.
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