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São Paulo, domingo, 07 de dezembro de 2003

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VISITA

Durante viagem aos EUA, Wen Jiabao vai discutir a situação de Taiwan e reclamar de protecionismo americano

Sob tensão, premiê chinês encontra Bush

JOSÉ REINOSO
DO "EL PAÍS", EM PEQUIM

O primeiro-ministro da China, Wen Jiabao, terá que fazer o papel de equilibrista durante a visita de quatro dias aos Estados Unidos que inicia hoje.
Se, por um lado, ele pretende dar um puxão de orelhas em Washington pelo que considera ser uma posição ambígua em relação a Taiwan, por outro ele quer demonstrar sua insatisfação com as cotas e tarifas impostas recentemente pelos Estados Unidos sobre exportações chinesas.
Ao mesmo tempo, tentará abrandar as críticas americanas à política chinesa de manter o yuan vinculado ao dólar. Wen é o mais alto dirigente chinês a visitar os Estados Unidos desde a chegada das novas lideranças à cúpula do Partido Comunista, em novembro do ano passado, e ao governo, em março deste ano.

Tensões políticas
A viagem acontece em meio às crescentes tensões políticas e comerciais entre os dois países. Após a aprovação pelo Parlamento de Taiwan (ilha que Pequim considera como sua "Província rebelde"), na semana passada, de uma lei que permite mudanças constitucionais -incluindo a declaração de independência- caso Taiwan sofra uma ameaça à sua soberania, o presidente Chen Shui-bian anunciou hoje (madrugada de ontem no Brasil) um referendo para exigir que a China desmantele um arsenal de mísseis voltado para seu território. A consulta ocorrerá em 20 de março.
A iniciativa do Parlamento suscitou a ira de Pequim, que chegou a afirmar que uma declaração formal de independência de Taiwan equivaleria a uma declaração de guerra -uma das frases mais fortes ditas pela China nos últimos anos com referência à disputa.
O primeiro-ministro chinês pretende pressionar a administração Bush para que ponha fim à venda de armas a Taiwan e desencoraje a ilha na busca da independência. Embora os Estados Unidos não mantenham relações oficiais com Taipé, são seu principal aliado, fornecedor de armamentos e possível defensor.
Pelo lado norte-americano, é possível que o presidente George W. Bush faça pressão pela libertação de Yang Jianli, um acadêmico chinês que dava aulas em Boston e foi preso há 18 meses sob a acusação de viajar à China com documentos falsos para se encontrar com ativistas pró-democracia.

Disputas comerciais
O outro ponto importante a ser discutido durante a visita será o das crescentes disputas comerciais entre os dois países. Em novembro, os Estados Unidos restringiram as importações de têxteis e impuseram tarifas aos televisores chineses, para proteger sua indústria.
A China ameaçou com um aumento das tarifas sobre as matérias-primas americanas. Pequim diz que as medidas americanas são motivadas por interesses políticos, em vista das eleições presidenciais de novembro de 2004.
O crescimento chinês se tornou assunto corrente nos Estados Unidos, onde congressistas e empresários culpam o país pela perda de milhares de empregos no mercado interno, em função de sua política de incentivar suas exportações com uma moeda artificialmente desvalorizada.
A ausência de um compromisso claro de Washington em relação a Taiwan pode reduzir o apoio de Pequim à guerra contra o terrorismo empreendida por Bush e sua atuação na resolução da crise nuclear norte-coreana, outro assunto previsto para ser tratado por Jiabao e seu colega americano em seu encontro de terça-feira.
De acordo com as notícias mais recentes, a reunião entre seis partes que se esperava que acontecesse na terceira semana deste mês, em Pequim, para tentar pôr fim ao programa atômico de Pyongyang, será adiada.
Depois dos Estados Unidos, Wen Jiabao vai visitar o Canadá, o México e a Etiópia, onde assistirá à abertura do Fórum de Cooperação China-África.


Com agências internacionais


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