UOL


São Paulo, domingo, 07 de dezembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SEXO VULNERÁVEL

Para diretora de fundo para as mulheres, principal causa do problema é desequilíbrio de poder entre os sexos

Uma em cada três mulheres enfrenta violência, diz ONU

LUCIANA COELHO
DA REDAÇÃO

Uma em cada três mulheres no mundo é vítima de violência em dado momento de sua vida.
O número é uma estimativa do Unifem, o Fundo de Desenvolvimento da ONU para a Mulher, e dá a medida de quão pouco adiantada está a implementação dos direitos femininos no mundo. Tamanha é a disseminação do problema -que abrange violações, estupros, espancamentos e maus tratos- que o Unifem o trata como "pandemia".
"Nós já determinamos qual é a causa disso: é a divisão desigual de poder entre homens e mulheres. A violência contra a mulher não conhece fronteira, classe social nem cultura. Ela está espalhada", disse à Folha, em entrevista por telefone de seu escritório, em Washington, Noeleen Heyzer, diretora-executiva do Unifem.
"Já a natureza dessa violência difere de lugar para lugar: na Europa as maiores lutas são contra a violência doméstica e o tráfico humano. Nos EUA, houve um artigo recente mostrando que essa é a maior preocupação para muitas mulheres no país. Já em países em conflito, há o estupro sistemático", enumera.
Embora o mundo tenha avançado no debate do assunto e na criação de mecanismos legais para lidar com ele, diz Heyzer, os efeitos ainda são incipientes.
"Em termos de leis, consciência, conhecimento, redes de trabalho, pesquisas e parcerias houve progresso. Mas ainda precisamos de muito apoio", afirma. "A implementação da lei ainda muito ruim. Também há o problema dos recursos -administramos um fundo global que só tem US$ 1 milhão para aplicar por ano."
Apesar das dificuldades, há avanços. A América Latina é um dos maiores destaques, onde vários países, segundo Heyzer, já mudaram a estrutura legal para lidar com a questão da violência contra a mulher. "Os governos estão começando a tratar da questão, as mulheres não têm mais de lidar sozinhas com isso. Nós estamos satisfeitos nesse sentido", afirma a diretora do Unifem.
A solução está próxima? "A analogia que eu costumo fazer é que as mulheres estão tentando subir numa escada rolante que desce: colocamos uma enorme energia em fazer progresso, mas somos pegas numa máquina enorme que vai na direção oposta", responde. "Nesse sentido, leis e energia não são suficientes. Temos, agora, de olhar para essa máquina, saber que temos de acabar com isso desesperadamente, assegurando que as mulheres tenham voz na sociedade."


Texto Anterior: Visita: Sob tensão, premiê chinês encontra Bush
Próximo Texto: Estupro sistemático é arma de guerra no conflito do Congo
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.