São Paulo, Sábado, 08 de Janeiro de 2000


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EDUCAÇÃO
Pesquisa no Reino Unido revela que 51% dos pais apóiam bater em alunos para reforçar a disciplina
Castigo físico na escola divide britânicos

FÁBIO ZANINI
de Londres

Mais da metade dos pais britânicos defendem a volta da aplicação de castigos corporais em crianças que se comportam mal nas escolas, segundo pesquisa com mil pais do Reino Unido divulgada pelo jornal "The Times".
A prática de bater em alunos mal comportados foi banida de escolas públicas britânicas há 14 anos e de escolas particulares no ano passado.
Mas 51% dos entrevistados, de acordo com o levantamento, gostariam que o castigo fosse restabelecido, como forma de educar seus filhos.
Outra conclusão da pesquisa é que 90% dos pais acreditam que a culpa pelos problemas disciplinares nas escolas não é dos professores, mas sim dos próprios alunos.
O mau comportamento das crianças também aparece no topo das preocupações dos pais.
Um quarto dos entrevistados disse que o maior problema nas escolas é a indisciplina, o que coloca esse item à frente de deficiências como má formação de professores, classes "inchadas" e fraco conteúdo pedagógico.
Jerry Tissier, da organização não-governamental NSPCC (sigla em inglês para Sociedade Nacional de Prevenção à Crueldade contra Crianças), diz que a posição dos pais é "compreensível".
"O castigo corporal faz parte da tradição educacional britânica, e muitos pais acham que os problemas escolares se intensificaram desde o banimento desta prática", disse Tissier à Folha.
Para ele, muitos pais estão "mal informados". "Bater em crianças pequenas é cruel e ineficaz, porque muitos podem não entender porque estão apanhando. E em estudantes mais velhos o castigo pode gerar ressentimento e mais violência", disse Tissier.
A prática de castigar fisicamente os estudantes era indiscriminada: apanhavam desde crianças de dois anos até adolescentes.
Geralmente usava-se uma tábua ou bastão de madeira, mas em algumas escolas os golpes eram dados à mão -e em público.
Para Doug McAvoy, dirigente do NUT (sindicato nacional de professores), o resultado da pesquisa é, na verdade, uma "boa notícia". "O número de pais defensores da volta do castigo é menor do que em pesquisas anteriores."
Apesar das ponderações de educadores, muitos britânicos permanecem irredutíveis.
Mary Walker, moradora da região do Chelsea (sul de Londres), disse que daria razão a um professor que batesse em um aluno "endiabrado" -inclusive se isso acontecesse com seus netos.
"Bater é uma atitude extrema, mas necessária para impor limites. É a única maneira de evitar que uma criança mal educada se torne um adulto problemático."


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