São Paulo, sábado, 08 de janeiro de 2005

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TRAGÉDIA NA ÁSIA

Para ativistas, governos se comprometem para ter evidência, mas se "esquecem" da verba quando o tema morre

Ajuda prometida nunca chega, dizem ONGs

DA REDAÇÃO

Grupos de ajuda humanitária e ONGs fizeram o alerta de que, a exemplo do que ocorreu em desastres anteriores, a ajuda internacional aos países atingidos pelo tsunami no sudeste da Ásia pode ficar muito aquém do prometido pelos doadores.
Segundo levantamento desses grupos, em alguns casos, apenas um terço das doações prometidas para vítimas de desastres se transformou em dinheiro vivo.
Dos US$ 32 milhões que a comunidade internacional se comprometeu a enviar imediatamente após o terremoto que destruiu Bam, no Irã, em 2003, apenas US$ 17,7 milhões haviam chegado ao local um ano depois, de acordo com o grupo Christian Aid.
Já as vítimas do furacão Mitch na América Central, em 1998, receberam a promessa de mais de US$ 9 bilhões de governos e instituições ao redor do mundo. Um ano depois, menos de um terço desse valor havia aparecido.
Mais de US$ 450 milhões deveriam ter chegado para ajudar na reconstrução de Moçambique, devastado por enchentes há quatro anos, mas, até hoje, menos da metade da promessa foi honrada.
A comunidade internacional até agora se comprometeu a enviar cerca de US$ 4 bilhões às vítimas do tsunami.
Anteontem, o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, instou os governos a cumprir a promessa. Segundo Annan, US$ 977 milhões são necessários para ações de emergência nos países atingidos pelos próximos seis meses.
"Houve muitas ocasiões no passado em que governos internacionais prometeram ajuda e simplesmente não cumpriram. Todos os países têm sua parcela de culpa nisso", disse Judith Melby, da Christian Aid.
"Freqüentemente, descobrimos que, um ano depois [do desastre], sobreviventes ainda estão vivendo em campos temporários e governos de repente ficam relutantes em aumentar impostos para pagar o dinheiro prometido."
"A história tem nos mostrado que as promessas são consistentemente subvalorizadas pelos governos, que acabam entregando cerca de metade do que prometeram", disse Max Lawson, conselheiro de caridade do grupo humanitário britânico Oxfam.
"Uma das razões é que os governos querem ganhar evidência e, depois, quando o assunto morre, perdem o interesse. Há uma lacuna real entre a retórica e a realidade", afirmou.
ONGs afirmam que a União Européia - que já prometeu mais de 465 milhões em ajuda de curto e longo prazos para a região- aparece como um dos principais descumpridores de promessas em termos de ajuda humanitária em desastres.
Os EUA são outro exemplo. "Com os EUA, o problema é que a ajuda não só chega tarde mas também, muitas vezes, nunca se materializa. O que o presidente diz tem de ir ao Congresso, e isso não necessariamente acontece. Os EUA prometeram US$ 450 milhões para o Afeganistão em 2004, mas entregaram apenas US$ 200 milhões", disse Lawson.

Dívida
Ontem, os ministros das Finanças dos países do G7 (as nações mais industrializadas do mundo) anunciaram um acordo para congelar os pagamentos das dívidas externas dos países atingidos pelo maremoto. A maneira como isso deve ocorrer será discutida entre G7, Clube de Paris e outros credores.
"Não vamos esperar pagamentos das dívidas dos países afetados que o peçam até que o Banco Mundial e o FMI [Fundo Monetário Internacional] completem uma avaliação sobre as necessidades para sua reconstrução e requerimentos de financiamento, reconhecendo que alguns países podem ser incapazes de fazer pagamentos da dívida", afirmou o G7 em comunicado.


Com o "Independent"

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