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ANÁLISE
A hora da democracia no Oriente Médio
AMITY SHLAES
DO "FINANCIAL TIMES"
Condoleezza Rice foi a Israel e à
Cisjordânia para tentar descobrir
como ela, Mahmoud Abbas e
Ariel Sharon poderão criar um
Estado palestino livre e democrático. Traçar um quadro consistente talvez seja difícil para Rice. O
presidente George W. Bush afirmou que seu plano para democratizar o Oriente Médio foi inspirado pelo ex-dissidente soviético
e atual político israelense Natan
Sharansky. Bush chegou ao ponto
de fazer do livro recente de Sharansky, ""The Case for Democracy" (o argumento em favor da
democracia), sua Bíblia própria
em matéria de Oriente Médio.
No entanto muito do que os
EUA vêm fazendo no decorrer
dos anos parece contrariar os
princípios de Sharansky.
Natan Sharansky foi, no passado, Anatoly Scharansky, o dissidente soviético que passou anos
em prisão solitária por ter protestado contra o regime comunista.
Em seu livro ele argumenta que a
experiência soviética se aplica ao
Oriente Médio -ou seja, que derrubar ditadores é prioritário, pois
eles criam o que ele chama de ""sociedades do medo", que sobrevivem por semear o terror entre
seus cidadãos.
Além disso, as ""sociedades do
medo" são beligerantes por natureza. Por esse motivo, outros países precisam reconhecer que, com
elas, a conciliação não funciona.
Na visão de Sharansky, a ampliação da liberdade deve ser um
processo prolongado. Promover
eleições antes da hora pode ser fatal -em lugar de liberdade, pode
resultar em mais ditadura.
Antes que sejam realizadas eleições, é preciso que seja instaurado
um Estado de Direito, que exista
uma imprensa livre e algum grau
de sociedade civil. Apenas quando a sociedade do medo tiver acabado é que as eleições poderão
institucionalizar a liberdade. Então elas vão inspirar as populações de outros países a avançar
rumo à liberdade, como aconteceu em 1989, com a queda do Muro de Berlim. Sharansky acredita
que sua fórmula ""vá funcionar em
qualquer parte do mundo, inclusive no mundo árabe".
Sharansky vem sendo ridicularizado, tachado de ingênuo, mas
sua teoria não deixa de soar plausível. Consideremos o velho projeto de Oslo. O acordo firmado
em 1993 entre o então premiê israelense, Yitzhak Rabin, e o líder
palestino Iasser Arafat foi assinado com essa esperança em mente.
Em lugar de resultar na libertação
dos palestinos, porém, veio sustentar mais uma década de corrupção e violência na Autoridade
Nacional Palestina (ANP). De fato, conclui Sharansky, ao final,
""havia menos liberdade e mais
medo na sociedade palestina do
que antes de Oslo começar".
Em 2002, Sharansky expôs essas
idéias em audiência com Bush.
Pouco depois, o presidente anunciou que iria interagir apenas com
uma ANP que não estivesse ""contaminada pelo terror". Bush também declarou que queria um governo democrático. Ele deixou
claro que Arafat não seria aceito
como interlocutor.
E agora? De acordo com as normas de Sharansky, é correto pressionar o Egito a mudar, como fez
Bush em seu Discurso sobre o Estado da União. O mesmo se aplica
aos esforços para levar mais democracia à Arábia Saudita.
Pela filosofia de Sharansky,
também faz sentido agir com dureza em relação ao Irã. O velho regime soviético dispunha de um
arsenal nuclear formidável, mas
acabou se rendendo, mesmo assim. Entretanto as regras de Sharansky também nos dizem que o
envolvimento dos EUA com o Paquistão, que está longe de constituir um modelo de democracia, é
errado. Quanto às eleições no Afeganistão, elas podem ter sido realizadas antes da hora. As do Iraque, possivelmente, também.
E sobre a nova ANP? As normas
de Sharansky dizem que os EUA
erraram ao ratificar as eleições palestinas após a morte de Arafat.
Ainda era cedo demais para eleger um novo presidente; era preciso uma ruptura mais clara com
a velha tolerância ao terror.
Entretanto, também é possível
avaliar a situação sob uma ótica
mais positiva, mesmo utilizando
o modelo soviético. Isso porque
2005 talvez guarde mais semelhanças com 1989 do que com
1993. Neste momento, como
aconteceu em 1989, parece estar
ocorrendo um impulso democrático. Assistir à queda de Saddam
inspirou os cidadãos do Afeganistão a aderirem à democracia. Ver
os afegãos irem às urnas inspirou
o mundo, inclusive os eleitores da
Ucrânia, que, mesmo fazendo
frente a grandes riscos, deram um
passo em direção à liberdade real.
A visão do presidente eleito,
Viktor Yushchenko, tomando
posse, ainda com a pele manchada após ter sido envenenado por
agentes do velho ""Estado do medo" ucraniano, pode ter inspirado
os eleitores iraquianos. Do mesmo modo, ouvir Bush saudar os
iraquianos pode inspirar os palestinos a avançarem.
Tradução de Clara Allain
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