São Paulo, segunda-feira, 08 de março de 2004

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CARIBE

Cinegrafista de TV espanhola está entre as vítimas; força de paz estrangeira é criticada por omissão na segurança

Atiradores matam ao menos seis em marcha no Haiti

DA REDAÇÃO

Uma manifestação que reuniu milhares de haitianos ontem em Porto Príncipe para celebrar a queda do ex-presidente Jean-Bertrand Aristide terminou em tumulto quando tiros foram disparados contra a multidão. Pelo menos seis pessoas morreram, inclusive o cinegrafista de uma TV espanhola, e dezenas foram feridas.
De acordo com testemunhas, os tiros teriam sido disparados por partidários de Aristide, que está em exílio provisório na República Centro-Africana.
As testemunhas disseram que havia atiradores no topo dos prédios e em dois veículos que se aproximaram em alta velocidade das pessoas que participavam da manifestação.
"Um bando inteiro do Lavalas [movimento político ligado a Aristide] veio atirando em todas as direções, usando artilharia pesada", afirmou Ingrid Arnesen, produtora da rede CNN.
"Foi um massacre", disse Leonce Charles, que assumiu a Polícia Nacional Haitiana na semana passada. Desde o dia 5 de fevereiro, início da rebelião, mais de 200 pessoas foram mortas.

"Longe da ação"
Após o tumulto, houve protestos contra a omissão das forças internacionais de manutenção da paz. Hoje há cerca de 2.500 soldados estrangeiros na ilha do Caribe-americanos, franceses, canadenses e chilenos. O Brasil também deve enviar reforços.
"As forças de paz estavam longe de onde ocorreram os tiros", disse Almil Costel, ferido no ombro esquerdo por duas balas. "Pessoas estão morrendo todos os dias neste país. Vocês têm que fazer algo a respeito", disse outro homem para uma tropa de marines americanos, por meio de caixas de som instaladas em um caminhão.
Simpatizantes de Aristide também haviam planejado uma manifestação para ontem, mas a adiaram para hoje, por não terem obtido garantias de segurança das forças de paz. "Os americanos estão aqui somente para proteger aqueles que ajudaram a derrubar Aristide. Se tivéssemos armas, estaríamos lutando contra eles agora", disse Ednar Ducoste, partidário do ex-presidente.

Rearmamento
Depois do incidente, Guy Philippe, um dos líderes rebeldes do movimento que causou a saída de Aristide, ameaçou rearmar suas tropas. Durante a semana passada, ele havia dito que se as forças de paz garantissem a segurança, seu grupo de insurgentes abandonaria as armas.
Em entrevista a uma estação de rádio, Philippe, que participou das manifestações de ontem vestindo roupas civis, afirmou que "logo será obrigado a dar a ordem a suas tropas de retomar as armas que haviam deposto".
O cinegrafista morto ontem é o espanhol Ricardo Ortega, que trabalhava para a rede de televisão Antena 3. De acordo com um cinegrafista da Reuters, pelo menos quatro outros jornalistas foram feridos, incluindo o americano Michael Laughlin, do "Sun-Sentinel". Um porta-voz do jornal disse que Laughlin levou tiros no rosto e no ombro.
Os sete integrantes do "conselho de anciãos" criado para escolher o novo primeiro-ministro do Haiti encontraram-se pela terceira vez ontem. Eles devem revelar o nome do premiê amanhã.


Com agências internacionais


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