São Paulo, domingo, 8 de março de 1998

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Paraguai precisa de US$ 25 bi para obras

da enviada especial

Nos cálculos do Paraguai, serão necessários aproximadamente US$ 25 bilhões para tentar resolver um dos principais problemas do país neste final de século: a falta de infra-estrutura.
A energia é precária. As comunicações são um desastre (não raro, o país passa horas com suas linhas internacionais congestionadas). As estradas são insuficientes, pobres e estão longe de se adequar à intenção do Mercosul de criar saídas diretas para o Pacífico.
O Paraguai precisa dos recursos do Mercosul, e o Mercosul precisa da estabilidade política e de um salto de desenvolvimento do Paraguai. Estrategicamente, o mundo do próximo século estará dividido em blocos. Brasil e Argentina, especialmente, vão ter de "carregar o Paraguai", como fizeram os países desenvolvidos da Europa em relação à Espanha e Portugal. Foi por um fundo comum da UE que eles, por exemplo, modernizaram suas estradas.
Além da questão macro, Brasil e Argentina se preocupam com o Paraguai por questões mais imediatas e diretas. O livre trânsito de pessoas, dólares e produtos entre as fronteiras, por exemplo.
A proximidade física e a dependência econômica transformam o Paraguai numa espécie de "quintal" brasileiro. Isso fica mais claro em relação aos Estados do Sul, especialmente o Paraná.
Só nesta semana, estão previstas duas viagens ilustrativas. O ex-deputado e ex-prefeito de Curitiba Maurício Fruet deve vir a Assunção com um grupo de empresários paranaenses, para contatos com o candidato de oposição, Domingo Laíno (Aliança Democrática).
No caminho inverso, o prefeito de Assunção, Martin Burt, um dos políticos mais promissores do Paraguai, deverá ir a Curitiba para diferentes contatos profissionais. Um deles, provavelmente, será com o presidente da Itaipu Binacional, Euclides Scalco.
É por isso que o Brasil é geralmente bem informado sobre o Paraguai e muitos brasileiros tomam partido na luta eleitoral interna.
O ministro do Exército, general Zenildo de Lucena, por exemplo, é tido como amigo pessoal do general Oviedo, candidato oficial do Partido Colorado, que está preso. Mas há ainda opositores ferrenhos de Oviedo, que querem alternativas para a sucessão presidencial.
Além do Brasil, a Argentina participa ativamente da política paraguaia. No Mercosul, só o Uruguai parece distante do processo.
Há, entretanto, nuances na participação de cada um. A diplomacia brasileira é, por tradição, atuante nos bastidores e discretíssima nas posições públicas e manifestações oficiais. Já a argentina é agressiva e falastrona.
Na atual crise paraguaia, o Brasil trocou o embaixador Márcio Dias, que conhecia profundamente a política interna, pelo embaixador Bernardo Pericás, considerado quadro de elite do Itamaraty. Mas pouca coisa mudou publicamente.
Já a Argentina produziu fatos em série a favor da democracia, do funcionamento das instituições e da manutenção do cronograma eleitoral. Esse discurso, dentro do Paraguai, é recebido como de apoio velado a Oviedo, que tem maioria nas pesquisas.
O secretário Planejamento Estratégico da Casa Rosada, Jorge Castro, declarou publicamente que o Mercosul tinha posto as mãos na crise. O Ministério da Indústria e do Comércio distribuiu nota oficial. O Congresso articulou uma reação dos parlamentares do Mercosul.
Além das circunstâncias econômicas e diplomáticas, dizem os paraguaios que as posições argentinas são movidas por uma circunstância: a mulher de Oviedo, Raquel, é argentina e tem forte participação política no Paraguai.
Fora a Argentina, o país que mais se intromete nas questões internas paraguaias são os Estados Unidos. A embaixada americana, curiosamente vizinha à sede do Partido Liberal Radical Autêntico (de oposição), é quase um centro de articulações políticas. Os paraguaios nem fazem questão de esconder isso. (EC)



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