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Próximo presidente terá de apurar os abusos cometidos pelo governo fujimorista nas ações de combate a grupos terroristas
"Guerra suja" de Fujimori assombra o país
DO ENVIADO ESPECIAL A LIMA
Entre os principais esqueletos
da era Fujimori que o próximo
governo terá de tirar do armário
está o tema dos mortos e desaparecidos na guerra suja travada pelo governo do antigo presidente
contra o terrorismo.
A derrota dos principais grupos
terroristas peruanos, o Sendero
Luminoso e o Movimento Revolucionário Tupac Amaru
(MRTA), foi uma das grandes responsáveis pela popularidade conquistada por Alberto Fujimori e
lhe permitiu reeleger-se duas vezes à Presidência, em 1995 e em
2000 (ainda que em eleições sob
suspeitas de fraudes).
Com diversos documentos e
testemunhos que vieram à tona
desde a destituição de Fujimori
pelo Congresso, por "incapacidade moral", em novembro do ano
passado, os peruanos estão descobrindo que essa luta teve um alto
custo, deixando milhares de civis
mortos ou desaparecidos.
Dados não oficiais indicam que
até 25 mil civis podem ter sido
mortos por membros dos organismos militares de combate ao
terrorismo nos últimos 20 anos.
Outras 4.000 pessoas estariam desaparecidas.
"Muita gente até hoje preza Fujimori por ter vencido a guerra
contra o terrorismo, mas já se sabe que essa guerra não foi tão limpa quanto ele nos fez acreditar",
afirma a jornalista Rosana Etcheandia, coordenadora de política do jornal "El Comercio".
Na semana passada, em entrevista ao jornal argentino "Clarín",
o ministro da Justiça, Diego García Sayan, admitiu a existência de
milhares de desaparecidos.
"Não sabemos exatamente
quantos são os desaparecidos. O
que sabemos é que são milhares
de pessoas que, na maior parte
dos casos, não têm rosto nem nome", afirmou García.
O principal instrumento à disposição do próximo governo para
investigar o passado e elucidar a
questão será a chamada Comissão da Verdade, similar às comissões que foram instaladas em diversos países da América Latina
para investigar os crimes contra
os direitos humanos cometidos
por regimes ditatoriais.
Os principais candidatos à Presidência nas eleições de hoje assinaram um compromisso de instalar a Comissão da Verdade, já
aprovada no Congresso.
Com o fim do governo Fujimori, começam a aparecer mais indícios de abusos aos direitos humanos por parte dos responsáveis
pelo combate ao terrorismo.
O mais simbólico caso de violação aos direitos humanos no governo Fujimori, o massacre de 15
pessoas em um bairro popular de
Lima por um grupo paramilitar
encarregado de combater o terrorismo, ganhou novos contornos
nesta semana, com uma entrevista de um ex-membro do grupo ao
jornal "Correo", confirmando
que os agentes agiam sob comando direto de Fujimori.
O chamado massacre de Barrios
Altos, cometido pelo grupo paramilitar Colina, foi encoberto durante o governo passado, que promoveu a aprovação, em 1995, de
uma anistia aos responsáveis.
Segundo uma reportagem publicada nesta semana pela revista
"Caretas", os principais membros
do grupo Colina, oficiais do Exército peruano, abriram uma empresa de fachada logo após o massacre.
O capital da empresa teria sido
aumentado 29 vezes logo após a
morte de nove estudantes e um
professor na Universidade La
Cantuta, em 1992, outro dos crimes atribuídos ao grupo. A empresa teve novo aporte de capital
em fevereiro de 1994, durante o
primeiro julgamento do caso.
Testemunhos
Em março, novos testemunhos
colocaram em dúvida um dos
mais vistosos feitos do governo
Fujimori no combate ao terrorismo -a libertação de 72 reféns
mantidos por guerrilheiros do
MRTA na Embaixada do Japão
em Lima por 126 dias, que terminou com a morte de 14 terroristas
e de um refém.
As imagens de Fujimori subindo as escadas da embaixada ao lado de corpos de terroristas correu
o mundo. A ação foi alardeada como prova da eficiência do grupo
de combate ao terrorismo do
Exército peruano.
Mas um ex-diplomata japonês,
Hidetaka Ogura, um dos reféns
na embaixada, disse ter visto três
dos guerrilheiros já rendidos e
amarrados durante a operação.
Segundo a versão oficial, todos os
terroristas foram mortos por terem resistido à ação.
O testemunho levou a Procuradoria Geral a solicitar a exumação
dos guerrilheiros e a abertura de
um inquérito sobre o caso, que
pode levar a um processo criminal contra Fujimori e o ex-comandante do Exército Nicolás
Hermoza.
(ROGERIO WASSERMANN)
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