São Paulo, domingo, 08 de abril de 2001

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Observadores esperam lisura

ENVIADO ESPECIAL A LIMA

Escolados pela experiência das eleições do ano passado, quando denúncias de fraudes, intimidação de opositores, compra de votos e campanhas difamatórias pela imprensa ligada ao governo tomaram a cena, oito organismos internacionais estão acompanhando o processo eleitoral peruano e a votação de hoje.
É unanimidade entre eles que os problemas mais sérios observados em 2000 foram resolvidos, mas muitos alertaram para possíveis problemas, principalmente de ordem técnica, que podem ocorrer hoje, por causa do curto espaço de tempo disponível para a organização desta eleição.
Para o embaixador Eduardo Stein, chefe da missão de observadores da OEA (Organização dos Estados Americanos), o processo deste ano não tem nenhum dos vícios apontados nas eleições do ano passado, quando o então presidente peruano, Alberto Fujimori, recebeu um terceiro mandato consecutivo de cinco anos -interrompido em novembro por sua destituição pelo Congresso, por "incapacidade moral".
Stein afirma, no entanto, que eventuais problemas não serão suficientes para colocar em dúvida o resultado das eleições, ao contrário do que aconteceu no ano passado. "Para fazer uma comparação, o que temos agora é um violão no qual você acaba de pôr cordas e precisa afinar. Nas eleições passadas, não sabíamos sequer se o violão tinha cordas", disse Stein à Folha. "No ano passado havia falta de transparência. Agora há falta de tempo."
Stein demonstrou preocupação pela possível diferença entre os resultados das pesquisas de boca-de-urna, previstas para serem divulgadas hoje a partir das 16h (18h em Brasília), e as primeiras projeções com base nas apurações, que devem ser divulgadas a partir das 21h (23h em Brasília).
"O pior cenário seria Alejandro Toledo (candidato que lidera as pesquisas) ficar muito perto de vencer ou se a diferença entre o segundo e o terceiro lugar for muito pequena", disse Stein. A divulgação das pesquisas de boca-de-urna foi autorizada na quarta-feira pelo Tribunal Constitucional, que considerou ilegal a norma que proibia sua divulgação.
Para Rafael Roncagliolo, secretário-geral da ONG de acompanhamento eleitoral Transparência, é possível dizer com segurança que estas eleições serão limpas, "ainda que o processo de transição tenha apenas começado e que ainda falte muito a ser reformado", disse à Folha.
A sueca Eva Zeherberg, chefe da missão observadora da União Européia, também manifestou preocupações sobre possíveis problemas de ordem técnica, mas disse acreditar que todos pudessem ser resolvidos até a votação.
Para ela, os maiores problemas dizem respeito ao comportamento dos candidatos. "Os fundos de campanha não foram documentados muito bem", disse. Zeherberg criticou a falta de debates entre todos os candidatos. O economista Alejandro Toledo, líder nas pesquisas, se negou a comparecer aos três debates realizados, alegando "falta de tempo". (RW)



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