São Paulo, domingo, 08 de abril de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Novos vídeos geram crise militar no Peru

DO ENVIADO ESPECIAL A LIMA

A divulgação, a menos de dois dias das eleições presidenciais, de 17 novos vídeos gravados a mando do ex-braço direito do presidente Alberto Fujimori (1990-2000) e ex-chefe do serviço de inteligência peruano, Vladimiro Montesinos, provocou uma crise nas Forças Armadas do país.
Os vídeos mostram uma reunião do alto comando das Forças Armadas com Montesinos em março de 1999, na qual os participantes se comprometem a defender "silenciosamente" e "irrestritamente" a vigência das leis de anistia às ações militares que resultaram em abusos aos direitos humanos e às ações posteriores ao auto-golpe comandado por Fujimori em abril de 1992.
O apoio a Fujimori contraria uma norma constitucional que proíbe os militares de tomarem posições políticas. As gravações mostram que os comandantes militares obrigaram os oficiais de mais baixo grau a assinarem uma ata na qual se comprometiam a apoiar Fujimori. Entre os oficiais presentes, aparecem os atuais comandantes do Exército, Carlos Tafur Ganoza, da Marinha, Víctor Ramos Ormeño, e da Aeronáutica, Pablo Carbone Merino.
Diversas lideranças políticas, incluindo os três principais candidatos presidenciais, se apressaram a pedir a destituição dos comandantes. O ministro da Defesa, Walter Ledesma, que na noite de anteontem se reuniu de emergência com o presidente Valentín Paniagua, anunciou seu respaldo aos atuais comandantes. "Não há indícios de conduta que não seja de respeito à ordem constitucional", declarou Ledesma.
O primeiro-ministro, Javier Pérez de Cuéllar, afirmou que o governo condena a conduta dos antigos altos mandos militares, mas que manteria os atuais comandantes, pois eles foram "obrigados a assinar a ata de apoio pelos antigos chefes, que abusaram do princípio da obediência devida".
Os chamados "Vladivídeos", as dezenas de gravações feitas na sede do Serviço de Inteligência Nacional (SIN) mostrando encontros de Montesinos com figuras políticas, empresariais e militares, têm provocado um verdadeiro terremoto no país a cada vez que um lote deles é divulgado.
O primeiro "Vladivídeo", divulgado em setembro, mostrava Montesinos pagando a um deputado eleito pela oposição para que passasse a apoiar Fujimori. A crise provocada por sua divulgação provocou, pouco mais de um mês depois, a destituição do presidente, por "incapacidade moral", após ele ter entregue seu pedido de renúncia do Japão, durante uma viagem oficial. (RW)



Texto Anterior: Carisma é o trunfo de Alan García
Próximo Texto: Crise: Analista vê convulsão na Argentina
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.