São Paulo, domingo, 08 de abril de 2001

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CRISE
Para Gustavo Palmieri, estão dadas as condições para possível ruptura institucional

Analista vê convulsão na Argentina

LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

Estão criadas todas as condições para a Argentina entrar em um quadro de grave convulsão social, com possibilidade de ruptura institucional.
A avaliação é do diretor do Programa de Violência Institucional, Segurança, Cidadania e Direitos Humanos do Cels (Centro de Estudos Sociais e Legais), de Buenos Aires, Gustavo Palmieri.
"A situação potencial de comoção social está posta. Estamos à beira da convulsão. Há um coquetel de motivos para isso", disse Palmieri, em Porto Alegre, ao comentar a instabilidade político-econômica do país.
Fundado por Emilio Migñone no final dos anos 70 e presidido pelo jornalista Horacio Werbitski, o Cels é tido como a principal entidade de análise técnica e jurídica em questões sociais da Argentina. Recentemente, conseguiu decisão judicial inédita que anulou a vigência de leis que favoreciam militares envolvidos na repressão durante o regime militar argentino (1976-1983).
"Houve ruptura radical por parte da Aliança (entre União Cívica Radical e Frepaso) no programa que a levou a ser eleita no ano passado. As pessoas esperavam mudanças em relação ao governo anterior (do peronista Carlos Menem), mas houve até o aprofundamento. Eles eram contra o sistema econômico, o militarismo e o (Domingo) Cavallo (ministro da Economia da época, que retornou ao cargo). Já não são mais", afirmou.
A opção por Cavallo, porém, refletiu um desejo público de mudança, a julgar pelas pesquisas. Levantamento do Gallup realizada no final do mês passado indicou que 58% dos argentinos consideravam o novo ministro o nome ideal para tirar o país da recessão. A imagem do homem que implantou o câmbio fixo na Argentina era positiva para 50% dos entrevistados.
Outro ingrediente do "coquetel" citado por Palmieri é a situação de Províncias como Santiago del Estero, Chaco e Tucumán, que, segundo ele, "vivem do clientelismo" e não poderão gerir-se sem os repasses que devem ser cortados pelos planos de Cavallo.
"O manejo político dessas Províncias se dava pela repartição de impostos. Com o corte de gastos, a repartição diminui", explicou o diretor do programa do Cels.
De acordo com Palmieri, por não haver "eleições presidenciais para daqui a quatro meses" (serão só em 2003), as interrupções de estradas devem "multiplicar-se", como "forma de canalização da bronca popular".
"Já morreram três pessoas em conflitos com a polícia (duas na Província de Corrientes e uma na de Salta). O governo tende a aumentar a repressão, como demonstração de força e poder, para consumo interno e externo. O presidente Fernando de la Rúa vai querer mostrar que tem pulso", disse.
Outro elemento do "coquetel" é o despreparo da polícia, diz Palmieri. Táticas como a de apagar luzes para entrar em uma cidade com interrupção de estradas têm sido usadas.
Como os governadores não reprimem para evitar o desgaste, a Gendarmería (polícia militarizada) assume a tarefa.
Palmieri diz, também, que o atual governo abriu um espaço "perigoso" para que os militares intervenham na repressão ao narcotráfico e na ajuda social.



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