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CRISE
Para Gustavo Palmieri, estão dadas as condições para possível ruptura institucional
Analista vê convulsão na Argentina
LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE
Estão criadas todas as condições
para a Argentina entrar em um
quadro de grave convulsão social,
com possibilidade de ruptura institucional.
A avaliação é do diretor do Programa de Violência Institucional,
Segurança, Cidadania e Direitos
Humanos do Cels (Centro de Estudos Sociais e Legais), de Buenos
Aires, Gustavo Palmieri.
"A situação potencial de comoção social está posta. Estamos à
beira da convulsão. Há um coquetel de motivos para isso", disse
Palmieri, em Porto Alegre, ao comentar a instabilidade político-econômica do país.
Fundado por Emilio Migñone
no final dos anos 70 e presidido
pelo jornalista Horacio Werbitski,
o Cels é tido como a principal entidade de análise técnica e jurídica
em questões sociais da Argentina.
Recentemente, conseguiu decisão
judicial inédita que anulou a vigência de leis que favoreciam militares envolvidos na repressão
durante o regime militar argentino (1976-1983).
"Houve ruptura radical por parte da Aliança (entre União Cívica
Radical e Frepaso) no programa
que a levou a ser eleita no ano passado. As pessoas esperavam mudanças em relação ao governo anterior (do peronista Carlos Menem), mas houve até o aprofundamento. Eles eram contra o sistema econômico, o militarismo e
o (Domingo) Cavallo (ministro
da Economia da época, que retornou ao cargo). Já não são mais",
afirmou.
A opção por Cavallo, porém, refletiu um desejo público de mudança, a julgar pelas pesquisas.
Levantamento do Gallup realizada no final do mês passado indicou que 58% dos argentinos consideravam o novo ministro o nome ideal para tirar o país da recessão. A imagem do homem que
implantou o câmbio fixo na Argentina era positiva para 50% dos
entrevistados.
Outro ingrediente do "coquetel" citado por Palmieri é a situação de Províncias como Santiago
del Estero, Chaco e Tucumán,
que, segundo ele, "vivem do clientelismo" e não poderão gerir-se
sem os repasses que devem ser
cortados pelos planos de Cavallo.
"O manejo político dessas Províncias se dava pela repartição de
impostos. Com o corte de gastos,
a repartição diminui", explicou o
diretor do programa do Cels.
De acordo com Palmieri, por
não haver "eleições presidenciais
para daqui a quatro meses" (serão
só em 2003), as interrupções de
estradas devem "multiplicar-se",
como "forma de canalização da
bronca popular".
"Já morreram três pessoas em
conflitos com a polícia (duas na
Província de Corrientes e uma na
de Salta). O governo tende a aumentar a repressão, como demonstração de força e poder, para
consumo interno e externo. O
presidente Fernando de la Rúa vai
querer mostrar que tem pulso",
disse.
Outro elemento do "coquetel" é
o despreparo da polícia, diz Palmieri. Táticas como a de apagar
luzes para entrar em uma cidade
com interrupção de estradas têm
sido usadas.
Como os governadores não reprimem para evitar o desgaste, a
Gendarmería (polícia militarizada) assume a tarefa.
Palmieri diz, também, que o
atual governo abriu um espaço
"perigoso" para que os militares
intervenham na repressão ao narcotráfico e na ajuda social.
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