São Paulo, domingo, 08 de abril de 2001

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Impasse estraga os planos de Bush

RICHARD L. BERKE
DO "THE NEW YORK TIMES"

O presidente Bush se orgulha de ser ordeiro e não gosta muito de surpresas. Isso explica por que seus assessores planejaram cuidadosamente os primeiros dias, semanas e meses de sua Presidência e já estão pensando com detalhes sobre o que querem que aconteça nos próximos dois anos.
Nesta semana, porém, os planos cuidadosamente traçados foram estragados por dois dramas que estão, em grande medida, além do controle de Bush, mas podem ter profundas consequências para sua Presidência: o impasse na China e o mercado acionário.
"A vida é assim, especialmente a vida presidencial", comentou o historiador Arthur Schlesinger Jr., que assessorou o presidente John F. Kennedy.
"O presidente não pode controlar o mundo. Não pode sequer controlar o Congresso. Não pode controlar o tempo. E precisa aprender a conviver com fatos inesperados."
Os presidentes invariavelmente são julgados não apenas pelo que prometeram durante suas campanhas, mas por como reagiram aos acontecimentos. Agora, após dez semanas de governo que foram mais tranquilas do que inesperadas, e num momento em que planejava concentrar-se em conseguir o apoio do Congresso para sua proposta de Orçamento, Bush se vê distraído por desastres que ninguém havia previsto.

Sem alternativas
Os desafios são consideráveis para Bush, concordam os veteranos da Casa Branca, não apenas por ele ser novato no palco mundial, mas também porque as pesquisas indicam que o público não está convencido de que ele seja capaz de lidar com eficácia com a economia em baixa nem que possua a base necessária para presidir sobre crises externas.
No entanto, no caso de algumas dessas situações difíceis em que se vê metido, Bush tem poucas alternativas de ação, se é que tem alguma. "Eles (Bush e sua assessoria) vêm fazendo um bom trabalho até agora", disse Lyn Nofziger, que foi assessora de Reagan. "Mas agora vamos poder saber como vão reagir sob pressão."
Se Bush conseguir combater a percepção, verificada especialmente entre democratas, de que não está à altura do cargo, algumas novas oportunidades podem se abrir para ele.
"Quando acontece algo repentino, como o caso da China, é um teste real, porque você se vê diante da possibilidade de reações imprevistas e enfrenta reações diferentes de diferentes pessoas da administração", disse o ex-senador republicano de Montana John Danforth. "Manter tudo sob controle é um desafio real."
Outros argumentam que a economia dos EUA pode representar um problema de mais longo prazo para Bush. Afinal, o impasse com a China vai terminar algum dia -para o presidente, quanto antes, melhor.
Contrastando com essa situação, toda a campanha de Bush se baseou na premissa da prosperidade, de modo que a incerteza em torno da economia afeta cada um de seus cálculos. Os assessores do presidente esperavam que ele conseguisse mais apoio para sua proposta de redução de impostos, alegando que ela daria um empurrão na economia. Em lugar disso, a medida está parada no Senado e corre perigo.
"De certa maneira, Jiang Zemin (presidente da China) não é um problema tão grande para Bush quanto é Alan Greenspan (presidente do Fed, o banco central dos EUA)", comparou Ross Baker, da Universidade Rutgers. "Diplomatas sabem lidar uns com os outros, e existem meios de poupar as partes de constrangimento indesejável", disse Baker. "Mas, quando um presidente é enredado num ciclo econômico, não há muito que possa fazer. Há toda uma multidão de problemas econômicos que não podem ser resolvidos nem com negociações hábeis nem com uma investida da cavalaria."
Formando um contraste marcante com o ex-presidente Bill Clinton, Bush até agora vem relutando em utilizar o púlpito preferencial da Presidência para discursar longamente, especialmente sobre a situação na China.
"As pessoas estarão atentas para saber como ele lida com a situação", disse o historiador presidencial Fred Greenstein, da Universidade Princeton. "Ele precisa estabelecer uma presença firme. Não é desejável viver tão superexposto quanto Clinton, mas acho que tampouco é o caso de se deixar ser visto como um homenzinho que se manteve ausente."
Mesmo assim, se Bush conseguir marcar um ponto político positivo na China, os fatos que derivarem do episódio podem acabar por dominar sua pauta.


Tradução de Clara Allain


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