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Impasse estraga os planos de Bush
RICHARD L. BERKE
DO "THE NEW YORK TIMES"
O presidente Bush se orgulha de
ser ordeiro e não gosta muito de
surpresas. Isso explica por que
seus assessores planejaram cuidadosamente os primeiros dias, semanas e meses de sua Presidência
e já estão pensando com detalhes
sobre o que querem que aconteça
nos próximos dois anos.
Nesta semana, porém, os planos
cuidadosamente traçados foram
estragados por dois dramas que
estão, em grande medida, além do
controle de Bush, mas podem ter
profundas consequências para
sua Presidência: o impasse na
China e o mercado acionário.
"A vida é assim, especialmente a
vida presidencial", comentou o
historiador Arthur Schlesinger Jr.,
que assessorou o presidente John
F. Kennedy.
"O presidente não pode controlar o mundo. Não pode sequer
controlar o Congresso. Não pode
controlar o tempo. E precisa
aprender a conviver com fatos
inesperados."
Os presidentes invariavelmente
são julgados não apenas pelo que
prometeram durante suas campanhas, mas por como reagiram
aos acontecimentos. Agora, após
dez semanas de governo que foram mais tranquilas do que inesperadas, e num momento em que
planejava concentrar-se em conseguir o apoio do Congresso para
sua proposta de Orçamento, Bush
se vê distraído por desastres que
ninguém havia previsto.
Sem alternativas
Os desafios são consideráveis
para Bush, concordam os veteranos da Casa Branca, não apenas
por ele ser novato no palco mundial, mas também porque as pesquisas indicam que o público não
está convencido de que ele seja capaz de lidar com eficácia com a
economia em baixa nem que possua a base necessária para presidir
sobre crises externas.
No entanto, no caso de algumas
dessas situações difíceis em que se
vê metido, Bush tem poucas alternativas de ação, se é que tem alguma. "Eles (Bush e sua assessoria)
vêm fazendo um bom trabalho
até agora", disse Lyn Nofziger,
que foi assessora de Reagan. "Mas
agora vamos poder saber como
vão reagir sob pressão."
Se Bush conseguir combater a
percepção, verificada especialmente entre democratas, de que
não está à altura do cargo, algumas novas oportunidades podem
se abrir para ele.
"Quando acontece algo repentino, como o caso da China, é um
teste real, porque você se vê diante
da possibilidade de reações imprevistas e enfrenta reações diferentes de diferentes pessoas da
administração", disse o ex-senador republicano de Montana
John Danforth. "Manter tudo sob
controle é um desafio real."
Outros argumentam que a economia dos EUA pode representar
um problema de mais longo prazo para Bush. Afinal, o impasse
com a China vai terminar algum
dia -para o presidente, quanto
antes, melhor.
Contrastando com essa situação, toda a campanha de Bush se
baseou na premissa da prosperidade, de modo que a incerteza em
torno da economia afeta cada um
de seus cálculos. Os assessores do
presidente esperavam que ele
conseguisse mais apoio para sua
proposta de redução de impostos,
alegando que ela daria um empurrão na economia. Em lugar
disso, a medida está parada no Senado e corre perigo.
"De certa maneira, Jiang Zemin
(presidente da China) não é um
problema tão grande para Bush
quanto é Alan Greenspan (presidente do Fed, o banco central dos
EUA)", comparou Ross Baker, da
Universidade Rutgers. "Diplomatas sabem lidar uns com os outros, e existem meios de poupar as
partes de constrangimento indesejável", disse Baker. "Mas, quando um presidente é enredado
num ciclo econômico, não há
muito que possa fazer. Há toda
uma multidão de problemas econômicos que não podem ser resolvidos nem com negociações
hábeis nem com uma investida da
cavalaria."
Formando um contraste marcante com o ex-presidente Bill
Clinton, Bush até agora vem relutando em utilizar o púlpito preferencial da Presidência para discursar longamente, especialmente sobre a situação na China.
"As pessoas estarão atentas para
saber como ele lida com a situação", disse o historiador presidencial Fred Greenstein, da Universidade Princeton. "Ele precisa
estabelecer uma presença firme.
Não é desejável viver tão superexposto quanto Clinton, mas acho
que tampouco é o caso de se deixar ser visto como um homenzinho que se manteve ausente."
Mesmo assim, se Bush conseguir marcar um ponto político
positivo na China, os fatos que derivarem do episódio podem acabar por dominar sua pauta.
Tradução de Clara Allain
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