|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
AIDS
Em artigo, o presidente sul-africano pede que as indústrias considerem a saúde um "direito fundamental" dos pobres
África do Sul pressiona farmacêuticas
THABO MBEKI
Passados seis anos desde a libertação da África do Sul, as questões possivelmente mais conflitivas que absorvem a atenção de
nosso país estão relacionadas à
saúde. Elas surgiram em virtude
da Aids e da legislação que poderia nos permitir adquirir a preços
acessíveis os medicamentos para
combater essa doença.
Trata-se da Lei sobre Controle
de Medicamentos e Substâncias
Afins, à qual 39 laboratórios multinacionais se opõem há três anos
nos tribunais para impedir que
seja colocada em prática.
Segundo os dados mais recentes, 4,7 milhões de sul-africanos
-um em cada nove cidadãos-
estão infectados pelo vírus HIV.
O fato de a saúde ter adquirido
tamanho destaque no debate público confirma a importância central do problema em nossa permanente luta em favor de melhor
vida para todos.
Com relação ao programa de
ação de nosso governo, resulta essencial que todos nos unamos para dar uma resposta global aos
problemas de saúde que atingem
os sul-africanos, especialmente os
milhões de pobres desse país.
Naturalmente, a luta contra a
pobreza é fundamental nesse esforço, bem como questões como
as da alimentação nutritiva, água
potável, instalações modernas de
saneamento e um ambiente limpo e saudável.
O acesso primário ao cuidado
com a saúde compreende ainda o
acesso a serviços médicos básicos,
que incluem a disponibilidade de
medicamentos.
Entre outras coisas, isso vai requerer um número maior de
agentes sanitários com treinamento adequado, para orientar as
pessoas.
Uma das tarefas desses agentes
será a de conduzir uma ampla
campanha educativa sobre uma
longa série de temas, como a importância de usar água potável
para evitar diversas enfermidades, bem como a necessidade de
utilizar preservativos para evitar
doenças sexualmente transmissíveis.
A questão dos remédios necessários é central em nossos esforços para alcançar o objetivo de
"saúde para todos".
Nesse contexto, devemos expressar nosso sincero apreço à
empresa farmacêutica norte-americana Pfizer, que decidiu colocar gratuitamente um de seus
medicamentos contra a Aids à
disposição dos sul-africanos por
dois anos.
Isso por si só representará uma
economia para os serviços públicos de saúde de US$ 43 milhões
por ano. A Pfizer também contribuirá com os fundos necessários
tanto para treinar agentes sanitários, para que ministrem esse medicamento, quanto para a aquisição dos equipamentos imprescindíveis para a realização dos exames médicos necessários.
Tudo isso constitui um exemplo
concreto do que se pode fazer
conjuntamente pelos setores público e privado para enfrentar o
desafio de vida ou morte que representa a melhoria da saúde dos
pobres.
Reconhecemos o fato de que
existe uma contradição inerente
entre a perseguição da meta de
"saúde para os pobres", com a
qual nosso governo está firmemente comprometido, e a busca
do lucro, que é o objetivo de toda
empresa comercial.
Uma inequívoca evidência dessa contradição é a grande insuficiência dos recursos destinados
ao desenvolvimento dos remédios para combater as enfermidades da pobreza e do subdesenvolvimento.
Uma luta permanente entre o
povo e as companhias farmacêuticas não poderá ser evitada, a menos que todos os envolvidos, incluindo as nações desenvolvidas,
aceitem que é possível enfrentar
tanto as necessidades quanto os
imperativos da atividade comercial normal.
Devido ao atual reconhecimento universal da importância da erradicação global da pobreza, das
relações entre saúde e desenvolvimento e da necessidade de acabar
com a distância entre ricos e pobres, entre Norte e Sul, considero
um objetivo possível o de chegar a
uma aceitação comum do princípio que afirma que a saúde é para
os pobres um direito humano
fundamental.
O esforço para generalizar a
aceitação dessa posição deve continuar e, assim, estimular o desenvolvimento de campanhas para
melhorar radicalmente a saúde da
maioria das pessoas em nosso
país e no resto do mundo.
É uma infelicidade que esse tema dos direitos humanos, da dignidade humana e da própria vida
tenha de terminar em nossos tribunais. Entretanto, como sempre,
respeitaremos a decisão, seja qual
for, que finalmente a Justiça ditar.
Thabo Mbeki é presidente da África do Sul
Texto Anterior: Justiça: Indústria ajuda tráfico de cigarros, diz UE Próximo Texto: Mbeki é acusado de dificultar combate à Aids Índice
|