São Paulo, quinta-feira, 08 de abril de 2004

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Al Sistani, principal clérigo xiita, pede "sabedoria e paciência"; conselho estuda oferecer anistia a religioso rebelde

Líder xiita condena os EUA e pede calma

DA REDAÇÃO

O principal clérigo xiita do Iraque, o aiatolá Ali al Sistani, condenou ontem a forma como os Estados Unidos estão respondendo ao levante iniciado por membros do grupo religioso.
"Condenamos a maneira como as forças de ocupação estão lidando com os eventos atuais, assim como condenamos a agressão contra propriedades públicas e privadas, que levam à intranqüilidade e impedem as autoridades iraquianas de fazer seu serviço", afirmou Al Sistani em comunicado distribuído por seu escritório em Najaf.
"Pedimos que o assunto seja tratado com sabedoria e paciência e de maneira pacífica, sem provocações, que levariam a mais caos e derramamento de sangue", disse a nota.
Membros do Conselho de Governo Iraquiano revelaram que o órgão discutiu uma proposta a ser apresentada ao clérigo radical Moqtada al Sadr pela qual a acusação contra o líder do levante xiita, de participação em assassinato, seria retirada se ele concordasse em suspender o movimento.
Existe uma ordem de prisão emitida há meses por um juiz iraquiano pela suposto envolvimento de Sadr na morte de um clérigo rival em 2003. Ignorada há meses, essa ordem de prisão está sendo agora apresentada pelos americanos como justificativa para a prisão de Sadr.
Os membros do Conselho de Governo que revelaram o teor da discussão, sob a condição de anonimato, acreditam que o uso de força contra Sadr e sua milícia, o Exército Mehdi, possa levar a um agravamento da situação e a um aumento da popularidade do jovem clérigo de 30 anos -que, por enquanto, está restrita à região de Bagdá e a algumas cidades do sul.
A iniciativa belicista de Sadr está fazendo com que lideranças religiosas do país procurem marcar suas posições junto à população para não perderem espaço após a devolução da soberania iraquiana pelos americanos -marcada para 30 de junho. Pelo fato de seus 25 membros não serem muito representativos, o Conselho de Governo é relativamente frágil e teria muito a perder com o crescimento de Sadr.
A maior parte dos xiitas moderados, ao mesmo tempo em que critica a ocupação americana, acha melhor esperar a realização de eleições diretas, programadas para 2005, para chegar ao poder. Como cerca de 60% dos iraquianos são xiitas, eles têm poucas chances de perder as eleições.

Exército Mehdi
Ontem, o general Mark Kimmitt, vice-diretor de operações das forças da coalizão, disse que o Exército Mehdi será "destruído". "Os ataques serão deliberados e precisos e terão sucesso", afirmou Kimmitt.
Comandantes americanos estimam que a milícia, que tem base em Sadr City, bairro pobre de Bagdá, conte com até 12 mil combatentes e um arsenal de armas automáticas, granadas e granadas-foguetes.
Ecoando políticos americanos como o senador democrata Ted Kennedy, Al Sadr disse ontem que o Iraque irá se tornar "um outro Vietnã". "Conclamo o povo americano a ficar ao lado de seu irmão, o povo iraquiano, que está sofrendo uma injustiça por parte de seus líderes e das forças de ocupação, e ajudá-lo na transferência do poder para iraquianos honestos", disse Sadr em comunicado emitido em Najaf -cidade que o secretário da Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, reconheceu não estar sob controle das forças internacionais da coalizão.


Com agências internacionais


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