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GUERRA SEM LIMITES
Tribunal considera que provas contra marroquino eram fracas; decisão irrita governo americano
Alemanha solta o único condenado pelo 11/9
CHRISTIN CHARISIUS
DA REUTERS, EM HAMBURGO
O único homem condenado por
envolvimento nos ataques de 11
de setembro de 2001 contra os
EUA foi libertado ontem da prisão, na Alemanha, com a perspectiva de ser inocentado num novo
julgamento. A decisão irritou o
governo americano e parentes das
vítimas dos atentados.
O mesmo tribunal que, em
2003, havia sentenciado o marroquino Mounir El Motassadeq, 30,
a 15 anos de prisão sob acusação
de conspiração para realizar os
atentados decidiu por sua libertação, por considerar fracas as provas que o haviam condenado.
Motassadeq saiu sorrindo da
principal corte de Hamburgo,
mas não deu declarações à imprensa. Ele foi levado embora
num carro por quatro amigos que
o aguardavam.
"O importante é que ele está livre e pode ficar com sua família",
disse o advogado de Motassadeq,
Josef Graessle-Muenscher, cujo
cliente é casado e tem dois filhos.
"Acho que vamos em direção a
sua absolvição ou ao arquivamento do processo."
O caso de Motassadeq mostra as
dificuldades que a guerra ao terrorismo enfrenta quando os acusados de participação em atentados são levados a tribunais comuns.
No mês passado, uma corte alemã de apelações cancelou a condenação do marroquino e ordenou um novo julgamento, em 16
de junho.
Segundo o tribunal, ele não teve
um julgamento justo porque o
governo dos EUA negou acesso a
um amigo de Motassadeq, o iemenita Ramzi Binalshibh, que está sob custódia americana. Binalshibh seria o elo da Al Qaeda com a
célula terrorista de Hamburgo, a
que o marroquino foi acusado de
pertencer e que teve papel central
no 11 de Setembro.
A defesa alegou que Binalshibh
podia testemunhar que Motassadeq não estava envolvido nos ataques ao Pentágono e ao World
Trade Center.
A decisão judicial de ontem
também levou em conta essa alegação, que, no mês passado, ajudou a libertar outro amigo de Motassadeq, o marroquino Abdelghani Mzoudi, também acusado
de participar dos ataques.
A defesa de Motassadeq diz que
a realização de um novo julgamento pode obrigar Washington
a divulgar mais informações.
"Acho que os EUA vão analisar o
caso com cuidado. Eles precisam
saber que a Alemanha não é
Guantánamo. Precisam modificar sua tática", disse Graessle-Muenscher.
Um porta-voz do Departamento de Estado americano, Adam
Ereli, disse que os EUA estão decepcionados com a libertação do
marroquino. "Acreditamos que
as provas contra ele são fortes e
que ele é um elemento perigoso",
declarou.
A decisão do tribunal enfureceu
um porta-voz de parentes das vítimas dos atentados. "Não queremos que gente envolvida numa
conspiração para matar nossos
familiares saia livre", disse Stephen Push, cuja mulher estava no
avião que atingiu o Pentágono.
"Essas pessoas deveriam ficar na
prisão."
"Elo vital"
Motassadeq também tinha sido
considerado culpado de integrar
célula terrorista de Hamburgo. A
Promotoria o descrevera como o
"elo vital" na conspiração do 11 de
Setembro.
A corte de Hamburgo disse ontem que Motassadeq deixou de
ser visto como "fortemente suspeito" de cumplicidade com homicídio, mas que ele ainda pode
ter pertencido a uma organização
terrorista.
O promotor Kay Nehm disse à
Reuters que o fato de Motassadeq
continuar sendo suspeito da segunda acusação significa que as
chances de conseguir sua condenação continuam a ser boas.
"A questão agora é saber se,
com sua participação no grupo,
vamos poder comprovar que Motassadeq também ajudou a cometer homicídios", disse ele.
Os advogados de Motassadeq
disseram que uma carta e um telefonema à Alemanha feito por outro suposto membro da célula de
Hamburgo também vão ajudar
em seus argumentos. Na correspondência, que veio à tona recentemente, Said Bahaji diz que os
ataques surpreenderam tanto a
Motassadeq quanto a ele.
Motassadeq insistiu não ter tido
conhecimento prévio dos planos
para o 11 de Setembro e afirma
que não fez mais do que ajudar
outros muçulmanos residentes
no exterior, por exemplo pagando algumas de suas contas em sua
ausência. Mas ele reconheceu que
treinou num campo da Al Qaeda
no Afeganistão.
Motassadeq não foi autorizado
a deixar Hamburgo antes de seu
novo julgamento e deverá apresentar-se regularmente à polícia.
Seu passaporte foi confiscado e
não lhe será devolvido.
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