São Paulo, sexta-feira, 08 de abril de 2005

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A MORTE DO PAPA

Lula diz que é "homem de muita fé"

Declaração foi resposta a dom Oscar Scheid, que o chamou de caótico, afirmando que o presidente não se entende com o Espírito Santo

PEDRO MOREIRA
COLABORAÇÃO PARA A AGÊNCIA FOLHA

JULIA DUAILIB
DA SUCURSAL BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem em Recife ser um homem de fé. "Crer em Deus é uma relação muito pessoal, não precisa se tornar pública. Todo mundo sabe que sou um homem de muita fé."
Com a declaração, Lula respondeu indiretamente ao cardeal brasileiro dom Eusébio Oscar Scheid, que afirmou, em Roma, que o presidente não se entende muito com o Espírito Santo e que Lula não era católico, e sim caótico.
"Eu já fui mais freqüentador de igreja do que sou hoje, até porque não tenho mais tempo. Quando vou, eu comungo. Não tenho nenhum problema. Fui coroinha quando jovem e sou um homem que não preciso provar a cada dia que sou católico ou que creio em Deus", declarou Lula.
As declarações do presidente foram feitas no Aeroporto Internacional do Recife, durante escala técnica do avião presidencial.
Segundo Lula, a novidade da comitiva é a participação de ex-presidentes. "Acho que a grande novidade dessa viagem é a reunião de ex-presidentes e presidentes dos Três Poderes. Eu penso que o papa simbolizava muito para o mundo, sobretudo para o Brasil, que é o maior país católico do mundo. Esse é um ato de agradecimento do povo brasileiro ao que significou o papa nesses últimos 26 anos", afirmou.
Além dos ex-presidentes José Sarney e Fernando Henrique Cardoso, que estavam com a comitiva em Recife, o ex-presidente Itamar Franco se integrará ao grupo na Itália. "Isso mostra que no Brasil estamos fazendo política de forma civilizada, madura. Podemos ter divergências, mas todos nós temos interesse que o Brasil cresça, que gere riqueza e que essa riqueza seja distribuída", disse.

Homenagem
Enquanto iniciava a sua travessia pelo oceano Atlântico no final da manhã de ontem, o Airbus presidencial, o Aerolula, foi palco de um culto multirreligioso em homenagem ao papa.
Lula e os outros integrantes da comitiva brasileira, que participará hoje do funeral do papa, em Roma, rezaram um pai-nosso e ouviram uma súplica em árabe na cabine presidencial do avião.
Por volta das 11h, quando passava pelo arquipélago de Fernando de Noronha, os seis religiosos (representantes do catolicismo, islamismo, protestantismo e judaísmo) da comitiva brasileira foram à ala privativa do avião iniciar as orações ao papa.
De acordo com informações do secretário de Imprensa da Presidência, André Singer, por telefone (o Aerolula possui sistema de telefonia), o culto foi iniciado pelo arcebispo de Brasília, João Aviz.
O secretário-geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), Odilo Scherer, e o pastor Rolf Schünemann, representante da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, leram salmos da Bíblia que falam de proteção aos viajantes.
Armando Hussein Saleh, xeque da Mesquita do Brasil, e Henry Sobel, presidente do Rabinato da Congregação Israelita Paulista, encerraram as orações.
Areonilthes Conceição Chagas, mãe-de-santo conhecida por "mãe Nitinha", não conseguiu chegar a Brasília a tempo de embarcar no Airbus presidencial. Representante do candomblé, a ialorixá (mãe-de-santo) perdeu o avião no Rio de Janeiro.
O avião presidencial pousou em Roma na madrugada de hoje (horário de Roma).


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