São Paulo, sexta-feira, 08 de abril de 2005

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IRAQUE SOB TUTELA

Presidente, o curdo Talabani, toma posse e indica Jaafari para a chefia do governo, como era esperado

Líder xiita é nomeado premiê iraquiano

DA REUTERS

O líder xiita Ibrahim Jaafari, do partido Dawa, foi nomeado ontem novo premiê do Iraque, numa medida que aproximou o país ainda mais de seu primeiro governo eleito democraticamente em mais de 50 anos.
Jaafari anunciou sua própria nomeação pouco depois que o novo presidente iraquiano, o ex-líder guerrilheiro curdo Jalal Talabani, prestou juramento, ao lado dos dois vice-presidentes, no Parlamento e assumiu suas funções.
"O dia de hoje representa um grande passo adiante para o Iraque e uma grande responsabilidade para mim", declarou Jaafari, que passou mais de duas décadas fazendo oposição ao ex-ditador Saddam Hussein do exílio.
Sua nomeação para o posto mais importante do governo transitório, que, se tudo correr bem, só deverá durar até o final deste ano, já era dada como certa há semanas, mas foi atrasada por causa da negociação sobre os outros cargos do governo entre árabes xiitas e curdos (que são sunitas), grupos que dominam o Parlamento eleito no fim de janeiro.
Jaafari, que conta com o apoio do grão-aiatolá Ali al Sistani, um dos homens mais influentes do Iraque atualmente, é visto como um islâmico moderado. Ele é favorável ao islã xiita e a seus ensinamentos, mas busca integrar todas as comunidades iraquianas.
Autoridades americanas acreditam que ele não venha a tentar estabelecer um Estado islâmico contrário aos EUA no Iraque. Jaafari diz apoiar a presença militar americana no país ao menos até o momento em que as forças de segurança iraquianas serão capazes de enfrentar a insurgência, que, segundo analistas, é majoritariamente árabe sunita.
Ele disse ontem que o premiê interino iraquiano, Iyad Allawi, um xiita secular apontado há dez meses com a aprovação americana, tinha renunciado, mas permaneceria no posto até que o novo gabinete esteja definido. "Espero que, em uma ou duas semanas no máximo, eu possa nomear o novo gabinete", disse Jaafari.
Richard Boucher, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, congratulou o Iraque pela nomeação de Jaafari, mas admitiu haver descontentamento nos EUA com a demora para definir os integrantes do governo.
"Mas é isso que acontece numa democracia. Trata-se, finalmente, de algo positivo. A cena política iraquiana está sendo definida por políticos iraquianos, o que também é positivo", disse Boucher.
Talabani tomou posse um dia depois de sua eleição pelo Parlamento. Líderes políticos e religiosos participaram da cerimônia na Zona Verde, a área superprotegida de Bagdá em que se localizam a sede do governo iraquiano e a Embaixada dos EUA no Iraque.
Depois de prestar juramento, o novo presidente, cujo posto não tem grande poder formal, foi aplaudido pelos presentes. O líder árabe-xiita Adel Abdul Mahdi e o líder tribal árabe-sunita Ghazi Yawer, que era presidente interino, também prestaram julgamento e se tornaram vice-presidentes.
A nomeação de Talabani é um marco para a minoria curdo-iraquiana, que foi perseguida por Saddam. Ademais, ele se tornou o primeiro presidente não-árabe de um país majoritariamente árabe.
Muitos iraquianos afirmam que os dirigentes eleitos em janeiro os decepcionaram porque demoraram demais para entrar em acordo sobre o novo governo. Até autoridades iraquianas dizem que ela pode ter favorecido a insurgência. Esta conta com ex-membros do governo de Saddam e com combatentes estrangeiros, além de terroristas.

Violência
Um suicida explodiu um carro-bomba perto de um comboio americano em Tal Afar, ferindo 19 civis. No oeste do país, os corpos de 11 pessoas que trabalhavam para os EUA foram encontrados.


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