São Paulo, sábado, 08 de maio de 2004

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IRAQUE OCUPADO

Entidade afirma que alertou os EUA há mais de um ano para abusos cometidos por soldados do país

Cruz Vermelha diz que tortura é "padrão"

DA REDAÇÃO

A Cruz Vermelha disse ontem que avisou os EUA há mais de um ano sobre a ocorrência de abusos, em alguns casos "equivalentes a tortura", contra prisioneiros iraquianos e que o problema não se tratava de "atos isolados".
"Nossas descobertas não nos permitem concluir que sejam atos isolados de membros individuais. O que descrevemos forma um padrão e um amplo sistema", disse Pierre Kraehenbuehl, diretor de operações do Comitê Internacional da Cruz Vermelha.
Os EUA afirmam que começaram a investigar as condições na prisão de Abu Ghraib (perto de Bagdá) em janeiro, depois que um soldado apresentou uma denúncia de maus-tratos. Os abusos se tornaram públicos no último dia 28, quando a rede de TV americana CBS exibiu as fotos.
"Nossas conclusões foram discutidas em diferentes momentos entre março e novembro de 2003, tanto em conversas face-a-face como em intervenções escritas", afirmou Kraehenbuehl.
O diretor da Cruz Vermelha deu a entrevista em função da publicação ontem pelo "Wall Street Journal" de trechos de um relatório confidencial de 24 páginas enviado pela entidade em fevereiro deste ano ao governo dos EUA.
De acordo com o relatório, os prisioneiros eram encapuzados e espancados. Alguns ficavam confinados nus por dias a fio em solitárias sem luz. Os interrogadores ameaçavam represálias contra parentes. Policiais dispararam de torres de vigilância contra prisioneiros, matando alguns.
Kraehenbuehl se recusou a discutir detalhes do relatório, mas confirmou a autenticidade do conteúdo reproduzido pelo jornal. O conservador "Wall Street Journal" é um dos mais importantes órgãos da mídia americana e costuma apoiar o presidente George W. Bush, republicano.
A Cruz Vermelha raramente se manifesta sobre as condições que encontra em suas visitas a presos em zonas de guerra, para preservar a colaboração das autoridades. Segundo Kraehenbuehl, o relatório foi publicado contra a vontade da entidade.
Kraehenbuehl disse que a Cruz Vermelha também enviou relatórios ao Reino Unido. "Fizemos nossos comentários. E também nossas recomendações."
Em depoimento ao Senado, Les Brownlee, secretário-em-exercício do Exército, disse que a instituição está investigando "42 casos potenciais de má-conduta contra civis" iraquianos que teriam ocorrido "fora de instalações de detenção". Além desses, já há investigações de outros 35 incidentes.


Com agências internacionais


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