São Paulo, sábado, 08 de maio de 2004

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MORTES SOB CUSTÓDIA

EUA dão poucas informações sobre mortos

Fotografias sugerem abusos mais graves

JAMES RISEN E DAVID JOHNSTON
DO "NEW YORK TIMES"

Fotografias de dois homens mortos, tiradas na prisão de Abu Ghraib, na periferia de Bagdá, podem indicar que a violência contra prisioneiros é bem mais grave que possíveis maus-tratos.
O governo Bush deu poucas informações sobre o primeiro dos mortos. O segundo representa um mistério ainda maior.
As fotografias fazem parte da coleção que mostra presos sendo humilhados por soldados.
Na primeira delas aparece o corpo de um homem com imensa cicatriz na cabeça. Um papel o identifica pelo número 153.399.
Informantes do Pentágono não revelaram a identidade do prisioneiro e as circunstâncias de sua morte. Mas um inquérito militar feito em março pelo general Antonio M. Taguba diz que o iraquiano foi preso durante as agitações de 24 de novembro do ano passado, e que os soldados americanos foram autorizados a interrogá-lo com violência.
Entre os problemas citados pelo militar na prisão há a superlotação, a falta de treino de militares que atuam como guardas e a falta de comunicação entre comandantes e soldados.
A segunda foto sem identificação mostra o corpo de um homem com um curativo debaixo do olho direito. O cadáver está dentro de um saco de plástico, coberto com sacos de gelo, sem informações.
Militares dizem estar investigando dez mortes de presos só no Iraque, mas não esclarecem quando ocorreram. A foto do cadáver com o saco de gelo coincide com o relato no livro da prisão pelo sargento Ivan Frederick, um ex-guarda. Ele é um dos seis indiciados por abusos contra prisioneiros em Abu Ghraib.
Segundo o registro, o incidente ocorreu em novembro de 2003. Diz se tratar de um prisioneiro "OGA", sigla em inglês para "de outra agência do governo", normalmente usada para designar alguém sob custódia da CIA.
Eis o relato escrito por Frederick: "Eles o esticaram tanto que o homem morreu. Puseram-no no banheiro, dentro de um saco de plástico com muito gelo por aproximadamente 24 horas. No dia seguinte os médicos chegaram, enfiaram no braço dele uma simulação de soro e o levaram embora. Esse OGA oficialmente nunca deu entrada e não tem nem número."
Desde que eclodiu o escândalo de abusos nas prisões, o inspetor-geral da CIA disse estar investigando três mortes no Iraque e no Afeganistão, possivelmente praticadas por agentes ou por civis contratados. O Ministério da Justiça está examinando se alguém descumpriu a lei nos casos que envolvem a CIA.
Nenhuma das duas fotografias se enquadra na descrição até agora feita por informantes do governo sobre as mortes investigadas em Abu Ghraib. Num desses casos, a versão oficial é a de que o prisioneiro morreu repentinamente em interrogatório feito por um agente da CIA e por um tradutor contratado.
O prisioneiro foi identificado apenas pelo sobrenome, Jamadi. A morte ocorreu logo depois que ele foi preso por uma patrulha, levado ao aeroporto de Bagdá e transferido no mesmo dia para interrogatório em Abu Ghraib.
Embora a CIA interrogue alguns presos em Abu Ghraib, a prisão é controlada por militares. A maioria dos interrogatórios é conduzida pela inteligência militar, enquanto a CIA se preocupa com uns poucos de "alta importância".
O inspetor-geral da CIA também investiga a morte em novembro de um general iraquiano, Abid Hamad Mahawish. Ele morreu alguns dias depois de interrogado pela CIA.
A terceira morte investigada foi registrada no Afeganistão, em junho de 2003. O morto foi Abdul Wali, ex-comandante local que havia lutado contra a então União Soviética. Os americanos informaram que ele sofrera ataque cardíaco no interrogatório.


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