São Paulo, domingo, 08 de maio de 2005

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Clima de festa marca véspera do 9 de Maio

DO ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU

Ajudado pelo "calor" do sol da primavera setentrional (18C em média), o clima foi de festa em Moscou nos dias que precederam as comemorações do 9 de Maio, o Dia da Vitória na Segunda Guerra Mundial -ou Grande Guerra Patriótica, como o conflito é conhecido na Rússia. Mas apenas parcialmente em razão das celebrações, de acordo com moscovitas ouvidos pela Folha.
Para os mais experientes, como o engenheiro Anatoly Gravlov, 48, trata-se, sim, de um momento importante para os russos. "Queremos celebrar a vitória sobre os nazistas e o triunfo de nossas Forcas Armadas mesmo que, é verdade, com certo exagero no que tange à exaltação dos símbolos nacionais. Não podemos deixar que os jovens esqueçam os quase 27 milhões de mortos soviéticos no que foi o maior conflito armado do século passado."
De 1941, quando a URSS finalmente entrou na guerra, que começara oficialmente em 1939 -depois da invasão da Polônia pelos nazistas-, a 1945, por volta de 26,6 milhões de soviéticos (grande parte russa) morreram em decorrência das hostilidades.
A médica Maria Khamadova, 54, concordou com o raciocínio de Gravlov. "Não temos o direito de minimizar o valor do imenso esforço de nossos compatriotas na Grande Guerra Patriótica. Sem ele, talvez todos falássemos alemão atualmente, pois o objetivo de [Adolf] Hitler e de seus comandados nazistas era conquistar todo o planeta Terra."
Contudo é justamente o excesso de patriotismo que exaspera os mais jovens. Para o gerente de restaurante Bogdan Sobietsky, 27, que fez questão de esclarecer que, apesar do sobrenome polonês, é russo "até o último fio de cabelo", o governo utiliza as comemorações "para insistir no poder da pátria e para tentar fazer a população esquecer os problemas da Rússia contemporânea".
O momento seria festivo de qualquer maneira. Afinal, trata-se da chamada "semana da Páscoa ortodoxa", embora o domingo de Páscoa tenha sido no dia 1º. E há dois feriados importantes -o 1º de Maio, que caiu no domingo e foi festejado no dia seguinte, e o próprio 9 de Maio. Assim, os jovens não têm de preocupar-se com a escola, e muita gente deixou a capital russa para repousar no interior, longe das festividades.
Irina Avdeeva, 19, também reclamou da exaltação de símbolos de uma época que ela só conhece pelos livros de história. "Fala-se muito da vitória soviética e dos mortos na guerra, que, logicamente, merecem nosso respeito. No entanto ninguém fala das atrocidades cometidas por [Josef] Stálin [ditador soviético]."
Não fosse a rara crítica do presidente russo, Vladimir Putin, à repressão oficial e aos expurgos ordenados por Stálin, que provocaram milhões de mortes antes e depois da Grande Guerra Patriótica, Avdeeva teria razão. Todavia deve-se lembrar que as autoridades russas tiveram a sensibilidade de não enfatizar que o líder soviético à época da vitória na guerra era o sangrento ditador.
Suas imagens são raras e sobretudo confinadas aos documentários que passam à exaustão na televisão. Foi aberto até um canal especialmente para as festividades do 9 de Maio -que "é comemorado neste dia porque foi nele que a rendição alemã foi anunciada na URSS", segundo autoridades russas consultadas pela Folha.
Não faltam, por outro lado, cartazes, fotos, bandeiras ou faixas com outros "símbolos da grandeza soviética ou russa". Há homenagens a criadores de tanques de guerra, a Mikhail Kalashnikov, que desenhou o famoso fuzil AK-47, e ao marechal Georgy Zhukov, herói da Segunda Guerra Mundial e vencedor da sangrenta Batalha de Moscou.(MSM)

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