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Clima de festa marca véspera do 9 de Maio
DO ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU
Ajudado pelo "calor" do sol da
primavera setentrional (18C em
média), o clima foi de festa em
Moscou nos dias que precederam
as comemorações do 9 de Maio, o
Dia da Vitória na Segunda Guerra
Mundial -ou Grande Guerra Patriótica, como o conflito é conhecido na Rússia. Mas apenas parcialmente em razão das celebrações, de acordo com moscovitas
ouvidos pela Folha.
Para os mais experientes, como
o engenheiro Anatoly Gravlov, 48,
trata-se, sim, de um momento
importante para os russos. "Queremos celebrar a vitória sobre os
nazistas e o triunfo de nossas Forcas Armadas mesmo que, é verdade, com certo exagero no que tange à exaltação dos símbolos nacionais. Não podemos deixar que
os jovens esqueçam os quase 27
milhões de mortos soviéticos no
que foi o maior conflito armado
do século passado."
De 1941, quando a URSS finalmente entrou na guerra, que começara oficialmente em 1939
-depois da invasão da Polônia
pelos nazistas-, a 1945, por volta
de 26,6 milhões de soviéticos
(grande parte russa) morreram
em decorrência das hostilidades.
A médica Maria Khamadova,
54, concordou com o raciocínio
de Gravlov. "Não temos o direito
de minimizar o valor do imenso
esforço de nossos compatriotas
na Grande Guerra Patriótica. Sem
ele, talvez todos falássemos alemão atualmente, pois o objetivo
de [Adolf] Hitler e de seus comandados nazistas era conquistar todo o planeta Terra."
Contudo é justamente o excesso
de patriotismo que exaspera os
mais jovens. Para o gerente de restaurante Bogdan Sobietsky, 27,
que fez questão de esclarecer que,
apesar do sobrenome polonês, é
russo "até o último fio de cabelo",
o governo utiliza as comemorações "para insistir no poder da pátria e para tentar fazer a população esquecer os problemas da
Rússia contemporânea".
O momento seria festivo de
qualquer maneira. Afinal, trata-se
da chamada "semana da Páscoa
ortodoxa", embora o domingo de
Páscoa tenha sido no dia 1º. E há
dois feriados importantes -o 1º
de Maio, que caiu no domingo e
foi festejado no dia seguinte, e o
próprio 9 de Maio. Assim, os jovens não têm de preocupar-se
com a escola, e muita gente deixou a capital russa para repousar
no interior, longe das festividades.
Irina Avdeeva, 19, também reclamou da exaltação de símbolos
de uma época que ela só conhece
pelos livros de história. "Fala-se
muito da vitória soviética e dos
mortos na guerra, que, logicamente, merecem nosso respeito.
No entanto ninguém fala das
atrocidades cometidas por [Josef]
Stálin [ditador soviético]."
Não fosse a rara crítica do presidente russo, Vladimir Putin, à repressão oficial e aos expurgos ordenados por Stálin, que provocaram milhões de mortes antes e depois da Grande Guerra Patriótica,
Avdeeva teria razão. Todavia deve-se lembrar que as autoridades
russas tiveram a sensibilidade de
não enfatizar que o líder soviético
à época da vitória na guerra era o
sangrento ditador.
Suas imagens são raras e sobretudo confinadas aos documentários que passam à exaustão na televisão. Foi aberto até um canal
especialmente para as festividades do 9 de Maio -que "é comemorado neste dia porque foi nele
que a rendição alemã foi anunciada na URSS", segundo autoridades russas consultadas pela Folha.
Não faltam, por outro lado, cartazes, fotos, bandeiras ou faixas
com outros "símbolos da grandeza soviética ou russa". Há homenagens a criadores de tanques de
guerra, a Mikhail Kalashnikov,
que desenhou o famoso fuzil AK-47, e ao marechal Georgy Zhukov,
herói da Segunda Guerra Mundial e vencedor da sangrenta Batalha de Moscou.(MSM)
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