São Paulo, Sábado, 08 de Maio de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DIPLOMACIA
Brasil evita criticar o Paraguai

ELIANE CANTANHÊDE
Diretora da Sucursal de Brasília

O Brasil se recusou ontem a tomar qualquer atitude ostensiva ou assinar qualquer documento oficial de repúdio às declarações do presidente interino do Paraguai, Juan Galaverna. Ele havia dito que os países do Mercosul "protegem assassinos e delinquentes".
Apesar de receber propostas para manifestações conjuntas, tanto da Argentina quanto do Uruguai, os dois outros países do bloco, o Brasil preferiu manter uma atuação nos bastidores e tentar minimizar o conflito.
"Aconselhamos moderação a todas as partes", disse ontem o secretário-geral do Itamaraty, embaixador Luiz Felipe de Seixas Corrêa.
"Nosso papel é botar água na fervura", disse à Folha, por telefone, o embaixador brasileiro em Assunção (Paraguai), Bernardo Pericás.
O Brasil já concede asilo diplomático ao ex-ditador paraguaio Alfredo Stroessner e acaba de decidir fazer o mesmo com o ex-presidente Raúl Cubas Grau, que já está no Balneário Camboriú (SC).
Apesar disso, a diplomacia brasileira considerou que as declarações do presidente interino do Paraguai foram dirigidas principalmente para a Argentina, que deu asilo ao general da reserva Lino Oviedo, e para o Uruguai, que abriga um ex-ministro ligado a ele.
Oviedo é pivô da crise interna paraguaia e suspeito de ter mandado assassinar a tiros o vice-presidente Luiz Maria Argaña.
O ministro Luiz Felipe Lampreia (Relações Exteriores) conversou ontem com Galaverna e sugeriu que a crise seja conduzida "com moderação".
Lampreia também conversou, em separado, com o chanceler paraguaio, Miguel Abdon Saguier, que poderá ser candidato a vice-presidente do país e virá em missão oficial ao Brasil no dia 19.
Na interpretação brasileira, Galaverna é político e usou expressões compatíveis com palanques eleitorais ou disputas políticas, mas nunca num problema entre países. Mas isso não pode se transformar numa crise no Cone Sul.
Na avaliação de Pericás, a situação "caminha para um entendimento".
No dia 12 de junho, haverá a reunião semestral dos países do bloco em Assunção, no Paraguai. Em 28 e 29 daquele mês, a reunião será entre eles e a União Européia, no Rio. Fazem parte do Mercosul Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. O Itamaraty quer melhorar o clima entre os parceiros do bloco até lá.


Texto Anterior: Tensão no Mercosul: Oviedo desestabiliza Paraguai, diz presidente
Próximo Texto: Crise política: Golpe de Estado mata 100 na Guiné-Bissau
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.