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São Paulo, domingo, 08 de junho de 2003

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ORIENTE MÉDIO

À Folha, Hariri diz que só apoiará a iniciativa se Israel se retirar das áreas "palestinas, sírias e libanesas"

Plano põe Sharon à prova, diz premiê libanês

GUSTAVO CHACRA
DA REDAÇÃO

O premiê do Líbano, Rafik Hariri, afirma que o premiê de Israel, Ariel Sharon, está se posicionando a favor da paz. Porém, segundo Hariri, "o tempo dirá se esse é um comprometimento real".
Segundo Hariri, seu país somente irá apoiar o plano de paz capitaneado pelo presidente dos EUA, George W. Bush, se Israel se retirar das áreas "palestinas, sírias e libanesas" ocupadas.
As declarações foram dadas em entrevista por e-mail à Folha antes de sua viagem ao Brasil. Ele desembarcaria em São Paulo ontem. Um dos homens mais ricos do mundo, Hariri gosta de pagar as suas viagens com o próprio dinheiro. Nascido em Sidon, no sul do Líbano, em 1944, o premiê viveu cerca de duas décadas na Arábia Saudita, onde fez a sua fortuna na construção civil. Em 1992, Hariri assumiu o cargo de premiê, que exerce até hoje, exceto pelo período entre 1998-2000.
Responsável pela reconstrução de Beirute, Hariri é acusado de ter levado o país a um enorme déficit público com o dinheiro empregado na obra. Sofre também suspeitas de corrupção. Leia a seguir trechos da entrevista.

Folha - Após a reconstrução de Beirute, podemos dizer que a capital libanesa voltou a ser o que era antes da Guerra civil (1975-90)?
Rafik Hariri
- Não exatamente. Tomamos todos os cuidados para restaurar os aspectos arquitetônicos fundamentais e originais da cidade. Hoje Beirute voltou a ter a sua vibrante e colorida vida noturna, que em outros tempos fez a cidade ser a "Paris do Oriente".

Folha - Beirute está perdendo espaço como centro financeiro e da mídia no mundo árabe?
Hariri
- O Líbano é o mais ocidentalizado dos países árabes do Oriente Médio. Sua localização geográfica única, no encontro de três continentes, no Mediterrâneo, favorece o desenvolvimento do comércio exterior. Essa é uma antiga vocação do Líbano, que foi a terra dos fenícios, os mais famosos comerciantes da Antiguidade.

Folha - Por que o Líbano não apóia o novo plano de paz para o Oriente Médio?
Hariri
- O Líbano sempre foi a favor do dialogo para conseguir a paz. Mas depende muito do esforço que a administração norte-americana irá dedicar à implantação do plano de paz e ao trabalho de convencer as autoridades israelenses a desocupar territórios dos palestinos, sírios e libaneses.

Folha - Os EUA estão pressionando o Líbano a conter o Hizbollah?
Hariri
- O Hizbollah é um partido político atuante na democracia libanesa. Ajudou-nos muito a liberar o sul do país e agora está desempenhando um papel importante na nossa vida política.

Folha - O sr. teme que Israel invada o Líbano novamente?
Hariri
- O Líbano é a favor da paz e do diálogo. Estamos sempre prontos a conversar. No momento, Ariel Sharon está se posicionando a favor da paz. O tempo dirá se esse é um comprometimento real. As autoridades israelenses têm de se convencer de que devem sair dos territórios ocupados.

Folha - Quais os resultados da guerra no Iraque?
Hariri
- Após o conflito no Iraque, o mundo árabe deve estar pronto para encarar a nova realidade e os novos desafios de forma séria e responsável. O Iraque deverá poder escolher o seu próprio destino, através de eleições livres.

Folha - Quando as forças sírias sairão do Líbano?
Hariri
- A premissa dessa questão não é correta. O Líbano e o povo libanês ganharam quando escolheram a vida, e não a morte, o futuro, e não o passado, a paz, e não a guerra. A Síria ajudou o Líbano a reconstruir os seu país, garantindo um estado de segurança e estabilidade. As tropas sírias vieram ao Líbano a convite das autoridades libanesas. A nossa soberania está garantida pelo Estado libanês, por nossas instituições democráticas, incluindo o Parlamento, o gabinete de ministros, assim como as forças de segurança internas e o Exército.

Folha - Há risco de outra guerra civil no Líbano? Os cristãos e muçulmanos estão vivendo em paz?
Hariri
- A nossa Constituição respeita todas as etnias e religiões do país. Após a reconstrução, tenho certeza de que o povo libanês está pronto para administrar o seu futuro de forma pacífica.


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