São Paulo, terça-feira, 08 de agosto de 2006

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Em cerimônia "blindada", Uribe assume na Colômbia

Presidente inicia 2º mandato e afirma temer fracasso nas negociações de paz

Entre os desafios do novo governo estão o diálogo com as Farc e a redução da pobreza, que atinge metade da população colombiana


DA REDAÇÃO

Álvaro Uribe, 54, assumiu ontem a Presidência da Colômbia para um segundo mandato de quatro anos, admitindo o temor de um fracasso nas negociações de paz com os grupos armados ilegais e de um retrocesso na área de segurança -tida como o maior trunfo de seu governo iniciado em 2002.
"Não nos freia o medo para negociar a paz. Confesso que me preocupa algo diferente: o risco de não chegar à paz e retroceder na segurança", disse Uribe no discurso de posse no Congresso.
O presidente afirmou estar disposto a negociar com os grupos armados, mas que exigirá "fatos irreversíveis" como condição para abrir os diálogos.
"Nunca permitiremos a paz enganosa que alguém pode querer assegurar com base na capacidade criminosa que lhe permita torcer a vontade democrática. Reitero nossa vontade de buscar a paz, para a qual unicamente pedimos fatos. Fatos irreversíveis que expressem o desejo de consegui-la", disse.
Em seu primeiro governo, Uribe negociou a polêmica desmobilização de mais de 30 mil paramilitares de direita das AUC (Autodefesas Unidas da Colômbia) e iniciou diálogos preliminares com a segunda guerrilha do país, o ELN (Exército de Libertação Nacional).
Porém não logrou avanços com a mais poderosa delas, as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). Um dos principais impasses diz respeito ao intercâmbio humanitário: a troca de reféns seqüestrados pelo grupo por guerrilheiros presos. Ontem, em um protesto silencioso, um grupo de parlamentares levantou fotografias dos seqüestrados enquanto Uribe discursava.

Blindagem
Ao todo, 11 presidentes latino-americanos e representantes de 68 países acompanharam a cerimônia, que teve, porém, ausências importantes, como as de Hugo Chávez (Venezuela), Néstor Kirchner (Argentina) e do maior aliado de Uribe, George W. Bush (EUA). O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi representado pela mulher, Marisa.
Com o temor das autoridades de que se repetissem os ataques das Farc que mataram 21 pessoas em sua primeira posse, em 2002, a capital, Bogotá, foi "blindada" para a cerimônia.
Cerca de 30 mil homens do Exército e da polícia patrulhavam a cidade, com o apoio de 20 aeronaves militares. Na semana passada, três carros-bomba, um deles na capital, mataram 21 militares e policiais e oito civis. Ontem, porém, o clima foi de calma em todo o país.
De tendência direitista, Uribe é o primeiro presidente reeleito por voto popular para um mandato consecutivo no país, graças a uma reforma constitucional promovida por seu governo. Venceu o pleito em 28 de maio com 62% dos votos, apoiado na ampla aprovação popular à sua política de linha-dura no combate aos grupos armados ilegais, que levou as taxas de homicídios e seqüestros ao nível mais baixo em 20 anos.
Porém, e apesar dos US$ 4 bilhões de ajuda dos EUA ao Plano Colômbia desde 2000, o país continua o maior produtor mundial de cocaína. Outro desafio do novo governo será reduzir a pobreza: são mais de 21 milhões de colombianos pobres -metade da população- e 7,5 milhões de indigentes.


Com agências internacionais

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